Tenho tido a experiência de participar e acompanhar nas
últimas duas semanas de alguns grupos nacionalistas. De cara, o que me chamou a
atenção foi a diversidade de vertentes consideradas dentro do conceito de
nacionalismo. O espectro político é muito amplo. Do que poderíamos cunhar da extrema-esquerda
à extrema direita, além é claro de espectros mais ao centro. Há por exemplo,
monarquistas e integralistas, e eles é claro conversam entre si. É o
nacionalismo cristão, conservador.
Mais à esquerda, mas também em diálogo,
vamos encontrar os trabalhistas e desenvolvimentistas.
São considerados o espectro
progressista do nacionalismo. Há uma predisposição à aceitação e diálogo e
respeito entre os comentários. Mas há tons de nacionalismo mais revolucionário,
identificado com o pan-nacionalismo terceiro-mundista e islâmico. Afirmam-se nacionais
socialistas ou até mesmo nacional bolchevismo.
Há ainda uma tal Quarta Teoria Política em jogo, a qual
apenas comecei a ler. Do que li, fala-se muito da substituição da noção de
individuo, ligado à toda teoria do liberalismo clássico pela noção do ente, que
se liga por exemplo à filosofia de Heidegger. Encontrei essa descrição na
wikipedia:
A Quarta Teoria Política (em
russo: Четвертая политическая теория; transl.: Chetvertaya Politicheskaya
Teoriya) é um livro da autoria do politólogo russo Aleksandr Dugin publicado em
2009. No livro, o autor propõe uma nova ideologia política, a quarta teoria
política, que visa a superação das teorias políticas da modernidade — numeradas
cronologicamente — sendo a primeira teoria o liberalismo, a segunda, o
comunismo, e a terceira, o fascismo.[1]
O mais interessante de tudo, é que entre essa fauna megadiversa
não há negação de pertencimento de um grupo o outro nacionalista. Se entendem
como diferentes vertentes em um campo político. Penso que nisso eles estão
melhor que a ‘esquerda’. Hoje, um único partido detém em suas mãos o carimbo
oficial que classifica alguém como esquerda ou não.
Há algumas boas notícias: a primeira é que o que eles chamam
de neocons ou liberais-conservadores, imediatamente associados à Bolsonaro, a
nomes como o chanceler Ernesto Araújo, ou ainda Olavo de Carvalho são normalmente
escurraçados no grupo, descritos como pseudo-nacionalistas. A submissão aos EUA
ou à Israel é descrita como um ato de rastejar, indigno a um nacionalista de
qualquer vertente. Nas páginas mais conservadoras, há uma preocupação maior com
as pautas de costumes. O mesmo já não ocorre nas de nacionalismo mais progressista.
Ainda assim, as duas concordam: o liberalismo em tido o que ele significa, em
suas consequências lógicas, filosóficas, ecológicas, sociais e humanas que ele
enseja, tem nos trouxe perante o abismo civilizatório.
Outra boa notícia foi perceber a penetração e aceitação da importância
da pauta ambiental. Mesmo entre os mais conservadores monarquistas e
integralistas, a importância de defesa do meio ambiente é colocada como dever
dos mais sagrados. Entre os progressistas, fala-se da necessária racionalidade em
relação ao ambiente. Entre os revolucionários, a questão ressurge de modo como
dever sagrado. Segundo esta vertente, na natureza residem símbolos nacionais
que ecoam na noção de ser da identidade nacional e a manutenção destes símbolos
sagrados vivos, como rios e montanhas seria também sagrada.
Devo permanecer acompanhando as discussões e debates, mas
por hora, o que me surpreende mais, é esse papel de novo centro político que o
nacionalismo pode estar exercendo sobre uma determinada geração.