... para os animais que morrem atropelados na BR 364
Meu fim de semana foi marcado por um incrível vai e vem entre Cruzeiro do Sul e o Rio Cigana, onde o afundamento da cabeceira da ponte, causou uma interdição temporária na BR 364. Foram umas oitos viagens ao todo. Não reclamo, até gosto, principalmente por passar por aquele trecho incrivelmente bonito coberto de mata nativa entre o rio Juruá que se estende até o Croa e termina pelo Lagoinha. A parte triste é se deparar com animais silvestres mortos na pista por atropelamento.
Meu fim de semana foi marcado por um incrível vai e vem entre Cruzeiro do Sul e o Rio Cigana, onde o afundamento da cabeceira da ponte, causou uma interdição temporária na BR 364. Foram umas oitos viagens ao todo. Não reclamo, até gosto, principalmente por passar por aquele trecho incrivelmente bonito coberto de mata nativa entre o rio Juruá que se estende até o Croa e termina pelo Lagoinha. A parte triste é se deparar com animais silvestres mortos na pista por atropelamento.
Em geral são as cobras, especialmente jiboias e sucuris, que
são atropeladas naquela área, na maioria das vezes, propositalmente por
motoristas que acham ‘estar fazendo um bem’, ao tirar a vida de uma cobra.
Sempre há também as mucuras. Mas quem se importa com aquele bicho feio e fedido, ladrão de galinhas? O marsupial que é considerado um fóssil vivo dos primeiros mamíferos pode ter sobrevivido ao meteoro que dizimou os dinossauros. Mas será páreo para as rodas? Também já vi mambiras (um tipo de tamanduá, para quem não conhece) e bichos preguiça, para citar outros mamíferos. Em tempos de alagação, jacarés cruzam a pista em busca de abrigo e muitas vezes acabam esmagados pelas rodas de carros e caminhões oferecendo um triste espetáculo para quem passa em seguida.
Se as pessoas não param sequer para gatos e cachorros,
animais com que a raça humana compartilha experiências há milênios, o que se
dirá cobras, lagartos, mucuras e preguiças?
Mas com tanta coisa para se preocupar, como as mercadorias
que poderiam estragar na estrada, causando alta dos preços, porque esse
jornalista(zinho, segundo alguns), vai se preocupar logo com os bichos.
O problema é que minha empatia não se encerra na humanidade.
É claro que as agruras dos humanos me comovem. Mas os bichos também contam com
a minha empatia. Deve ser porque sou de Oxóssi que sinto o pulsar do coração de
um enorme lagarto jacaré que agoniza na estrada. Inteiro ele deve ter algo
perto de um metro e meio, mas sua cauda está separada do corpo. E ainda se
mexe. Não deixo de me admirar da beleza de suas cores que vão do verde ao vermelho
em escamas que fazem lembrar os lendários dragões. Sua cabeça triangular traz
uma boca larga. Parece até esboçar um sorriso que me leva a entender o que João
Ubaldo Ribeiro quis dizer com ‘O Sorriso do Lagarto’.
Vão passar décadas falando sobre a BR, sua trafegabilidade e
sua importância, recursos investidos, aplicados e segundo alguns, desviados.
Vão falar sobre a dificuldade de fazer uma rodovia em solo amazônico, das
chuvas que não deixam as máquinas trabalharem, dos rios e igarapés que transbordam
e acabam com a pista, da necessidade de se importar pedra e que a mesma pedra
trazida para fazê-la, ajuda a destruir o que já foi feito. Vão falar sobre
substiuí-la por uma ferrovia e apontar dedos um na direção do outro sobre
porque ela está do jeito que está.
Mas os bichos não falam e então eu falo por eles. Falo que a
rodovia foi embargada porque passa em uma região amazônica de alta
biodiversidade, e que foi liberada mediante o compromisso de que haveriam
passagens para os bichos, mas as passagens não foram feitas porque custariam
caro, mas a rodovia custou caro mesmo assim. E mesmo assim, quem liga?
Já que não posso salvá-lo, decido que vou ao menos retirar
seu corpo da pista. Colocá-lo na terra. Da terra à terra. Não quero ver aquela
beleza esmagada continuamente pelas rodas dos carros e caminhões. Quisera eu
poder retirar todos os bichos da estrada. Quisera eu que nenhum sequer morresse
assim.
Levo alguns minutos observando aquelas escamas perfeitas que
parecem ter saído de um filme de ficção, mas obra nenhuma feita pela mão do
homem terá a perfeição das escamas do rei lagarto.
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Vestindo a roupa de gente de novo, digo: já que a rodovia será reconstruída que tal fazer as passagens para os bichos agora? Já que Cruzeiro do Sul almeja tornar-se polo turístico, tais passagens ajudarão a preservar o valor biológico de nossa região. Quanto dinheiro um gringo estaria disposto a pagar para ter uma fotografia como daquele lagarto morto na estrada.
*Fotos retiradas da internet.
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Vestindo a roupa de gente de novo, digo: já que a rodovia será reconstruída que tal fazer as passagens para os bichos agora? Já que Cruzeiro do Sul almeja tornar-se polo turístico, tais passagens ajudarão a preservar o valor biológico de nossa região. Quanto dinheiro um gringo estaria disposto a pagar para ter uma fotografia como daquele lagarto morto na estrada.
*Fotos retiradas da internet.
O que mais ser ver nessas estradas é a galera achando que está fazendo um "bem" a todos matando os animais que fazem parte de sua trajetória atravessando as estradas. Quantas vezes eu presenciei cobras e mucuras mortas pelas estradas, lindas , porém, mortas. Muitas apenas por diversão
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