quarta-feira, 30 de março de 2016

Cai a farsa do ‘apartidarismo’ e MBL pode virar partido político

Leandro Altheman

O Movimento Brasil Livre, principal articulador das manifestações de rua pró impeachmeant rasgou de vez a máscara do ‘apartidarismo’ que desde 2013 foi uma das principais ‘bandeiras’ do movimento.
O grupo, que possui núcleos em pelo menos 173 municípios anunciou que deverá lançar pelo menos dez candidatos a prefeito nas eleições deste ano, além de uma centena de candidatos a vereador.
O MBL tem incentivado a filiação de seus integrantes nos partidos já registrados, em especial PSDB, DEM, PPS e PSC. Seus coordenadores não escondem que as candidaturas desse ano seriam apenas mas a ideia é mais ousada e pretende não apenas transformar o próprio MBL em um partido, como lançar o nome de Kim Kataguiri, principal coordenador do movimento à presidência.
Uma das condicionantes para permitir a filiação de seus integrantes é que os mesmos sejam apresentados como candidatos do MBL.
É positivo que o MBL abrace com clareza suas causas políticas: a defesa do livre mercado e do estado mínimo. O liberalismo é um ponto de vista válido dentro do jogo democrático. O que não é válido é defender um ponto de vista e tratá-lo como verdade imponderável e ‘interesse da nação’ acima de qualquer partido, e esconder-se por trás da máscara do 'apartidarismo'.
É justamente esse um dos discursos precursores do fascismo: negar a existência de conflitos de interesse dentro da nação.

Ataques à Marina Silva
As pretensões do líder do MBL já vislumbram um obstáculo à frente: Marina Silva. Em sua coluna semanal, Kim Kataguiri acusa Marina de ‘petismo verde’, seja lá o que isso possa significar.
Ao explicitar suas posições contra a eventual adversária política e buscar um alvo fora das longas listas de delações e propinas, Kim e o MBL deixam claro que não são apenas um movimento ‘anti-corrupção’, mas que possuem uma posição política definida, um ponto de vista, um ‘partido’.
Em seu artigo, Kim não faz menção a qualquer ‘deslize ético’ de Marina, mas justamente às suas posições políticas.

Empurrada para a esquerda
Caso o impeachmenat se configure, Marina mais uma vez, deverá experimentar o paradoxo de suas posições políticas conflitantes. Se durante nas eleições, seus adversários usaram seu conservadorismo (anti-aborto, anticasamento gay, anti-legalização da maconha), para colar-lhe o rótulo de ‘direita’, agora, seus novos adversários usaram sua trajetória no PT como ‘prova’ de que ela sempre será ‘de esquerda’.

A própria Marina Silva, contudo, defende a ideia de que seja possível transcender a polarização entre ‘esquerda e direita’. Resta saber se isso de fato, é possível, e como.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Marina cresce na Sombra

pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (19/03) aponta que cresceram as intenções do voto na acreana Marina Silva (Rede). Se as eleições fossem hoje, Marina venceria as eleições nos quatro cenários possíveis, independente de qual seja o candidato do PSDB. Na mesma pesquisa, Lula, ficaria em segundo ou terceiro lugar dependendo do cenário. A conclusão possível é de que Marina tornou-se o nome mais forte para disputar a eleição contra os tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Mesmo em uma improvável eleição em que os três candidatos tucanos viessem a disputar, ainda assim, Marina levaria vantagem sobre os mesmos, segundo a pesquisa.


Há muita água para rolar debaixo da ponte, mas é certo que Marina deverá ser novamente o alvo do PT nos próximos dias.

Uma avaliação possível é de é preferível ao PT, perder as eleições para os tucanos e entregar a presidência, do que ver Marina Silva à frente dela.

Tamanha prevenção só se explica pelo que Marina pode vir a significar, caso vença as eleições. Ela, que já é hoje, uma referência internacional nas questões climáticas e ambientais, poderia tornar-se ainda uma figura de tal importância a ponto de ofuscar o lugar que hoje Lula ocupa como o presidente que ‘venceu a fome no Brasil’.

Marina já vem sendo criticada por suas posições por vezes tíbias, por vezes moderadas demais, mesmo quando o assunto é a sua praia: as questões ambientais. Um exemplo comumente lembrado é o da tragédia envolvendo a Samarco em Mariana. Não é verdade. Marina escreveu sobre o assunto nos espaços em que lhe foi permitido. Ainda assim, não há nela, aquela postura militante, indignada, que muitos poderiam esperar em um caso do tamanho e da gravidade de Mariana.

Mas também não é segredo que boa parte das razões que a fizeram romper com Lula, Dilma e o PT, encontram-se justamente na sua relutância em conceder as licenças ambientais para a construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio.

Ao contrário do que afirmam muitos petistas, a saída de Marina do PT não teve nada de ‘oportunista’ ou ‘personalista’. Há aí uma divergência de concepção que é fundamental. Enquanto o governo desenvolvimentista de Dilma Roussef aposta (ou apostava) no petróleo do pré-sal, aliado ás hidrelétricas na Amazônia como principal alavanca para o desenvolvimento, Marina faz uma aposta mais utópica, do Brasil como ‘potência ambiental’, por enxergar o enorme potencial do país na produção de energia solar e eólica, na sua biodiversidade, nas suas florestas e rios. Há aí o risco da chamada ‘economia verde’ e de mercantilização da natureza, já alertado por setores dos movimentos indigenista e ambiental. Mas é inegável que seria um passo à frente no país que baseia sua economia nas frágeis comodities.

Ainda que boa parte da população e da classe política enxergue as questões ambientais como um tema transverso, periférico, a decantada produção de soja do país pode ser abalada caso venhamos a ter um agravamento das crises hídricas e climáticas. O mesmo pode ser aplicado à produção hidrelétrica, totalmente sujeita ao regime de águas dos rios, e portanto, às florestas.

Uma mudança na matriz de produção energética do país, tal como propõe Marina  implicariam entre outras coisas, em um investimento massivo em ciência e tecnologia, relegado a um plano pífio durante o governo Dilma. Outra consequência indireta, poderia vir a ser um reaquecimento e realinhamento da economia para atender a esta nova demanda.
Algo que certamente assusta as empreiteiras e partidos políticos que hoje dependem de grandes obras para financiarem suas campanhas e conseguirem as benesses do poder público, num circulo vicioso que só deve parar quando não existir mais nada a ser devorado por essa aliança espúria.
Marina é igualmente criticada por estar sempre ‘à sombra’ dos grandes debates nacionais, o que denotaria ‘oportunismo’ segundo seus críticos.
Pois é justamente este ‘estar às sombras’ que melhor explique o seu crescimento político.  
Marina sabe que para vencer a disputa presidencial de 2018 (e eventualmente antes disso, caso vença a tese da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, defendida pela REDE e pelo PSOL) deverá cativar eleitores hoje identificados tanto com a esquerda quanto com a direita. Qualquer posicionamento mais incisivo, irá fatalmente reduzir o eleitorado de que necessita para tonar-se uma candidatura viável.
A acreana não vai entrar num campo minado, onde não detém nem o poder da mídia, nem o da militância. Seria esmagada e despedaçada em poucas semanas, como o que ocorreu nas eleições de 2014.

Há uma analogia poética possível deste ‘crescer às sombras’, não com os ‘urupês’ – cogumelos que crescem em paus podres, usados como metáfora por Monteiro Lobato para descrever os caipiras do interior do Brasil, mas com a rainha, ou chacrona, arbusto utilizado na preparação do daime, que apesar de ser a responsável pela ‘luz’ das mirações, deve crescer às sombras.    


sexta-feira, 18 de março de 2016

O Chapéu de Duas Cores

Nestes dias em que assistimos ao acirramento político, achei que permaneceria intocável aqui no meu distante buritizal, lá onde o vento faz a curva.

Enganei-me. Primeiro porque é quase impossível assistir impassível a tantas movimentações, que querendo ou não, em algum momento extrapolam nossas razões e atingem o âmago de nossos sentimentos.

Já há algum tempo, por razões bastante conhecidas por aqueles que seguem minhas publicações, havia deixado de lado qualquer apoio político ao PT e à Lula. Em resumo: compartilho com a sensação de boa parte das pessoas ligadas às causas ambientais e indígenas, de que nossa pauta foi completamente rifada pelo atual governo em troca de apoios substanciais de setores como: agronegócio, empreiteiras, bancada teocrática e outros. Isso para mim foi motivo suficiente para retirar o apoio, que até então, prestei ao governo até pelo menos metade do primeiro mandato de Dilma.

Fato é que, a súbita explosão de comoções geradas pela quebra do sigilo telefônico de Lula e Dilma, acabou tocando aquele emocional, lá no fundo, trazendo à tona uma ojeriza acumulada em décadas de percepção de que a Justiça, que hoje ampara aqueles que querem ver o fim do governo Dilma, de Lula, do PT e se possível de toda esquerda, em verdade sempre foi um colegiado de privilégios profundamente empregado de valores do Brasil Colônia. São as ‘excelências’ togadas arrotando direitos tão fora da realidade quanto seus privilégios permitem.

Minha decisão de não ir às ruas, nem de vermelho PT e nem de amarelo CBF não é ‘muro’, mas resultado de um sentimento que somente têm se fortalecido nos últimos dias.
Não me resta dúvida de que Lula, Dilma e o PT, ainda que por meios questionáveis, colhem exatamente o que plantaram. Ou acharam eles que as alianças espúrias com o setor privado sairiam ‘de graça’?
A questão é: o que está sendo semeado? O que vejo é ódio e intolerância. O que as passeatas verde-amarelas transmitem é uma noção de ‘ordem’ que parece advinda de aulinhas de educação Moral e Cívica, e que sim, contém elementos proto-fascistas.

Dito isso, é preciso fazer a ressalva de que nem todo mundo que está de vermelho hoje ‘apoia a corrupção’, do mesmo modo que nem todos que estão de amarelo são fascistas ou proto-fascistas. Pessoas chegam a determinadas conclusões baseadas em aspectos objetivos, mas muito também, por razões subjetivas que as levaram a construir determinada escolha. Se não respeitarmos as escolhas de cada pessoa, tampouco respeitaremos a pessoa por trás delas.
Tenho me rendido cada vez mais à concepção de que tudo o que temos no final das contas, são pontos de vista, já que nossa visão da realidade, por melhor que seja, sempre será apenas um recorte ínfimo da realidade total.
Encerro esse texto, com o conto africano do Chapéu de Duas Cores, que explica, com muita sabedoria, o que busquei expressar através desse texto.

O CHAPÉU DE DUAS CORES

Contavam os mais-velhos que, na Aldeia de Ajalá, havia dois irmãos muito unidos. Eles jamais tinham brigado entre si. Nunca tinham se aborrecido um com o outro. A fama daquela amizade corria as aldeias e todo mundo comentava, fazendo disso admiração geral.
Um dia, Exu andava por aquele lugar e ouviu comentários sobre o fato. Então, ele resolveu fazer um teste sobre a fortaleza daquela amizade. Descobriu os dois irmãos trabalhando num campo, que era dividido ao meio por uma estrada estreita. E eles trabalhavam cantando, cortando o mato com facões bem amolados, conversando sobre diversos assuntos. Aí, Exu pôs na cabeça um chapéu pintado de vermelho e preto, sendo que de cada lado só se via uma única cor.

Então Exu passou pela estrada, entre os dois irmãos e os saudou, dizendo:

— Bom dia, irmãos unidos!

E os irmãos responderam a Exu em uma só voz. Mas Exu passou por entre eles, sempre olhando para frente e seguiu adiante, até desaparecer na curva da estrada. Aí, um dos irmãos perguntou ao outro:
— Quem era aquele homem de chapéu vermelho?
Ao que o outro respondeu:
— Mentira sua! O homem usava um chapéu preto...
O irmão que viu o homem de chapéu vermelho se sentiu ofendido e, pela primeira vez, mostrando-se aborrecido, devolveu a ofensa. E o que tinha visto o homem de chapéu preto ficou aborrecido também. Daí, eles começaram a discutir, num desentendimento sem igual. A raiva cresceu tanto, que eles terminaram se agredindo com palavras. As ofensas trocadas se agravaram e eles terminaram avançando um sobre o outro, armados de facão. Brigaram tanto que se mataram. E porque eles não tinham herdeiros, o campo ficou entregue às feras e às ervas daninhas.
É por isso que, até hoje, nas aldeias, os mais-velhos ainda avisam:
— Se lembre do chapéu de duas cores: Nem tudo é aquilo que parece ser...

segunda-feira, 7 de março de 2016

♫‘Mas o que mais me dói, você escolheu errado seu super-herói’♪

Não, definitivamente, Moro não é herói. Ou talvez seja. Cada um escolhe o herói que quer. Bin Laden pode ser herói. Lampião. Al Capone. Eduardo Cunha. Eu por exemplo, gosto de Gêngis Khan, um cruel assassino. Gosto é gosto.

Moro é o pai de todos os coxinhas, aqueles anti-petistas doentes incuráveis, que por razões que Freud explica muito bem, bradam contra a corrupção de A, mas não se incomodam com a de B. Para estes, basta ‘tirar o PT’ do poder, e o arco-iris irá brilhar no horizonte, livrando-nos de todo o mal, amém.
Moro criou em torno de si a imagem do garoto incorruptível que quer transformar o Brasil em ‘país sério’.

Em um ‘país sério’, Moro não seria levado a sério. O Moro real não sobreviveria à severidade do Moro da mídia.

Moro pode convencer ‘suas nêga’, mas não a mim. É extensa sua ficha de ‘serviços prestados’ à agremiação política imediatamente beneficiada em 'tirar o PT do poder’. Sua esposa, Rosângela Moro, é nada menos que assessora jurídica do PSDB do Paraná, partido que vem sendo sistematicamente tolerado nos vazamentos seletivos à imprensa na ‘Lava Jato’.

Em um país sério, isso já seria o bastante para, no mínimo, por em cheque sua capacidade de julgamento sobre o caso.

Moro é um canalha, mas isso não faz de Lula e o PT ‘vítimas inocentes’. Moro é exatamente o tipo de canalha que Lula merece no seu calcanhar.

Porque Lula, meus caros, também não é ‘herói’. Bem, talvez seja para alguns. Como Stalin é herói. Hitler para outros ainda é. Tem quem curta Bolsonaro. Sadam Hussein já teve estátua no Iraque. O ladrão contumaz Fujimori ainda é querido no Peru e eu não duvido que até o Idi Amim Dadá deva ter seus fãs lá pras suas bandas em Uganda. Eu por exemplo, quando assisto os “Dez Mandamentos’, sempre torço para Ramsés. Gosto é gosto.
 
Sei que o 'pai do pobres' gostaria de ser comparado ao herói-bandido Robin Hood, mas eu duvido que o arqueiro medieval tenha recebido presentinhos do xerife de Nothingan. Isso faria muito mal à sua imagem e Sherwood.

O que diriam vocês, meus nobres leitores, caso soubessem que eu, este ‘orelha seca’ que vos fala, tivesse recebido um ‘presentinho’ substancial de algum político? No mínimo seria questionada minha suposta ‘imparcialidade’ ao microfone, por que, no mínimo, eu teria que ‘pegar leve’ com quem me presenteou, mesmo que os fdps em questão fossem responsável por invasões áreas públicas ou aterros ilegais.

Lula recebeu bem mais que um presentinho, e justamente das empreiteiras que dão as cartas nos grandes projetos de ‘desenvolvimento’ no país.
Lula jamais poderia ter aceitado tal coisa. No mínimo, ele sabe que isso lhe fere não apenas a sua ética e sua dignidade, como o deixa exposto como chefe da nação. Ao aceitar tais ‘presentes’, Lula não apenas mostrou que também ele, e sua história, tem preço como vendeu a nação às empreiteiras de modo vergonhoso.

Lula é no mínimo, um traidor.

Não dá para defendê-lo nessa altura do campeonato. Se está nas mãos de um canalha que usa a máscara do ‘bom-mocismo’ isso deve-se somente ao 'karma' engendrado por sua própria biografia. sua própria ‘biografia’, ao seu próprio 'karma'. Como dizem por aqui ‘deixou pegar na sua munheca’, deixou o rastro de suas sujeiras e agora quer ‘mobilizar’ a nação em sua defesa. Usar o povo como ‘escudo humano’. Covarde.

E que me desculpem aqueles da tese de ‘defesa da democracia’.

A qual democracia deveria sair em defesa? A mesma democracia das empreiteiras, que atropelam direitos fundamentais na construção de hidrelétricas, nas obras da copa e das olimpíadas, que atrasam e superfaturam obras inconclusas? Que financiam políticos de praticamente TODOS os campos políticos?

É em defesa a este mesmo modelo de democracia, que Dilma, em conluio com nosso congresso aprovou a famigerada ‘lei anti-terrorismo’, que vai entre outras coisas, criminalizar os movimentos sociais. Portarias são publicadas, facilitando cada vez mais a essas mesmas empreiteiras, atropelar os processos de licenciamentos ambientais e de consulta às populações afetadas. Todo poder às empreiteiras!

Como cidadão brasileiro, tenho todo direito do mundo de supor que estes e outros ‘presentinhos’, aceitos com tanta docilidade por Lula ajudaram moldar o caráter dessa ‘empreiteirocracia’ de favores tão prestimosos por parte do executivo.

Não contem comigo para a defesa da ‘empreiteirocracia’ a qual Lula se vendeu. Não contem comigo para ir às ruas defender a republiqueta hondurenha de Moro e sua turma.

Você pode até escolher um deles para ser o ‘seu herói’. Mas certamente não são os meus.