domingo, 18 de novembro de 2018

O ‘Deus de Trump’ e o Antropoceno


A indicação do diplomata Ernesto Araújo por Bolsonaro para o Ministério das Relações Exteriores tem rendido uma boa quantidade de discussões, críticas e é claro, memes na internet.

Ernesto foi uma indicação direta de Olavo de Carvalho, Guru da nova direita no Brasil. As posições ideológicas assumidas por Ernesto, em seu blog ’Metapolítica 17’o colocam na Extrema Direita do espectro político, mas não apenas.

Ernesto se declara ser ‘defensor do ocidente’ contra o ‘globalismo’ e entre as posições defendidas pelo diplomata, está a de que a ‘ideologia’ das mudanças climáticas, seria na verdade um ‘plano marxista’ contra a liberdade individual no ocidente. Ernesto apenas replica posições assumidas por Trump a quem enxerga como uma espécie de ‘salvador do ocidente’. O mais incrível é que o futuro chanceler não vê suas crenças como ‘ideologia’. São ‘pensamentos’. Ideologia mesmo, só a dos outros, mesmo que, como no caso das mudanças climáticas, a que ele se refere como ‘climatismo’, tenha larga e documentada comprovação com base científica.  

As crenças de Ernesto, a que ele atribui valores de uma suposta verdade auto-revelada, lhe permitem referir-se ao ‘Deus de Trump’, como aquele que irá salvar o Ocidente da perda de seus ‘valores’.

Seja lá o que isso possa significar, a ciência e a razão, estão entre tais valores que o ‘ocidente’ atribui a si mesmo como parte de seus fundamentos, a mesma ciência e razão que Ernesto escolhe ignorar em nome do ‘Deus de Trump’. Em seu blog, é a ele que Ernesto clama, que após séculos no exílio do campo individual irá regressar para a história, como o mesmo Deus que conduziu Moisés no deserto.

Por mais estapafúrdias que sejam as declarações do neo-cruzado, seríamos tolos se não reconhecêssemos o lugar da religião na história, especialmente suas versões mais fundamentalistas. Ernesto pode proclamar o ‘Deus de Trump’ como aquele que irá salvar o ocidente, mas o único lugar que há de fato para ser ocupado na história por uma concepção de deus como a de Trump e Ernesto, é como aquele que a irá encerrar.

E embora não reste dúvida de que o arsenal nuclear dos EUA seja capaz de cumprir a profecia, nem, por isso o Brasil, com munição suficiente para pouco mais de uma hora de combate, não poderá dar sua contribuição para o fim. O instinto destruidor com que Bolsonaro se volta contra a Amazônia, parece enfim ter encontrado um lugar para a periférica e desimportante nação no ‘gran finale’ da história a que tanto almejam os fundamentalistas.

Nosso papel poderia ter sido outro no Antropoceno climático. Não apenas a cantada e decantada Amazônia, mas especialmente os povos que nela vivem, parecem oferecer um outro olhar sobre o mundo, a vida, e é claro, a história. Ao eleger Bolsonaro, e com ele, suas ideias, abrimos mão da generosidade em oferecer ao mundo valores civilizatórios que poderiam apontar outras direções que não o fim, para aferramo-nos a mesma mesquinhez que nos trouxe até aqui, e que diante do abismo, não é capaz de nos levar mais adiante.  

Um comentário:

  1. Sempre bom ler um texto seu. Eu fico abismada em como chegamos nesse "lugar", em que as pessoas com poder político são lunáticos, uma aberração, um insulto a mínima inteligência.

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