sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Puma Warmi

Leandro Altheman



Depois de beber aquela gelatina gosmenta em que a Wachuma havia se tornado, tomei em minhas mãos um punhado de folhas de coca e saí caminhando pela montanha. Desta vez, par encontrar o Puma. Desejava encontrar minha própria força e sabia que ela estaria ali.
Com as serpentes já havia aprendido a caminhar, de modo que sem a necessidade de um esforço exagerado, cheguei ao cume da montanha. Passei por pedras gigantescas que descansavam em meio a paisagem. Assisti ao caminho do Sol, vendo as sombras mudar de forma e aparência. Com a humildade das cabras e lhamas, que os monteses tão bem apreciam, alcancei o topo. Não me parecia ameaçador. Tampouco senti como se houvesse “vencido” a montanha. Não havia nada para ser vencido, a não ser a minha ignorância.
Encostei-me aos pés de uma grande pedra, com três folhas de coca em minhas mãos, como manda a tradição, fiz o meu pedido, desejava encontra a Força do Puma, para isso ali estava. Senti que algo cálido dentro de mim abrira seus olhos. Como se algo dormente houvesse despertado, pela única razão de se ter prestado a atenção nela.
Tive um sentimento único, foi como se uma voz sussurrasse em meus ouvidos, doces segredos. Tal presença me transmitia uma espécie de sensualidade, e nisto residia a sua força. No entanto, não estava fora de mim, mas dentro. Foi quando comecei a compreender, finalmente havia encontrado o Puma, ou melhor A Puma, Warmi Puma, a fêmea. Apaixonei-me por sua força. Dela emanava um calor, uma segurança de que somente quem protege com a própria vida seus filhotes pode sentir.
O instinto da mãe, da fêmea, talvez a maior Força deste Universo.

Serpenteando

Leandro Altheman




Talvez a lição mais importante que aprendi quando estive no Peru, foi a caminhar. Isto por que para andar nas montanhas é preciso aprender a andar como as serpentes, por isso diz um ditado popular: “las serpientes son maestras del camino”. Antes para mim, isto tinha um sentido meramente poético. Mas depois de ficar doze horas perdido nas montanhas do vale Sagrado, descobri que se trata da mais pura verdade.
Só se anda em linha reta caso queira quebrar uma perna, ou morrer mesmo. O mais indicado é fazer como as serpentes, e “serpentear” pelos caminhos, ou seja, acompanhar o desenho do terreno, para se chegar de forma suave, a qualquer lugar que se deseja.
É interessante que ás vezes, quando queremos subir, temos que descer, e quando queremos descer, às vezes temos que subir. Não se trata de poesia, é a pura realidade de quem vive na montanha. Às vezes também, passamos bem próximos de nosso objetivo, mas somos obrigados a dar uma volta imensa para chegar.
Ter aprendido na prática este sentido me fortaleceu perante a vida. Passei a lidar melhor com certas frustrações de não se estar aonde se quer, e ter a paciência de andar conforme as curvas do terreno da vida, sem se apressar, sem se adiantar. Creio que assim seja também na vida espiritual, tem gente que se apressa em seguir o “caminho reto”, quando na verdade na Natureza, tudo são curvas.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Claustrofobia...



Certas relações humanas me deixam sufocado... é que entre horizontes estreitos não parece possível nenhum acordo.
Como sonhar com o pôr -do sol, se quem esta ao seu lado, anda preso a mesquinharias, ninharias...
Tem gente que tem tudo, mas ainda assim, continua miserável. É que a miséria não é uma condição material, é antes, espiritual. É um estado de espírito, uma doença que pode acometer mesmo aos milionários(na verdade são as vítimas preferenciais desta disfunção cerebral...)
Entre horizontes estreitos, tudo parece menor, pequeno, ínfimo, até o tempo encolhe, nossos pensamentos ricocheteiam em paredes que parecem nos comprimir...
Se existe pecado, este deve ser o maior: não ver a grandeza do universo que nos cerca...

Grandeza

E por falar em grandeza, uma voz falou comigo...
Era sábado à noite e havia comungado a ayahuasca com os Poyanawa. Dimanã Ewê Yubabu – Floresta Casa de Todos Nós. É assim que eles chamam ao seus espaço sagrado. Espaço sagrado que permite momentos sagrados, como o deste sábado.
“Haja com grandeza”, disse a voz da minha consciência. E de repente comecei a ver um novo universo ao meu redor. Só mesmo muita grandeza para compreender a pequeneza que nos cerca.
“Mas e a humildade, onde fica?” Perguntei. E a voz me respondeu: “A humildade é ainda maior que a grandeza, e cabe bem como coroa na cabeça de quem já alcançou a verdadeira grandeza de seu ser.”

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Descubra um novo mundo: o seu




Leandro Altheman

Avatar:

Definição hindu para a encarnação de Deus na Terra. Segundo os hindus, Krishna seria o oitavo Avatar ou seja, a oitava vez em que Deus veio à Terra. Para muitos, Jesus Cristo se encaixa perfeitamente na definição de Avatar.

O mundo virtual da Internet trouxe uma nova definição para Avatar: uma segunda vida, ou segunda identidade. Trata-se de criar um personagem, dar ele uma identidade e viver com este personagem em um outro universo, virtual. Idéia semelhante se utilizam nos jogos de RPG.
Contudo, o conceito é mais antigo. Buscando nas fontes do xamanismo, encontramos a definição de duplo, ou segundo. Para os xamãs, a realidade presente nos sonhos ou em estados alterados de consciência possuem existência real e como tal devem ser tratados.
Parte do treinamento do xamã consiste em adquirir cada vez mais consciência durante os sonhos. Com isso, seu duplo ganha cada vez mais forma e corporeidade. Os sonhos tornam-se então, lúcidos e pode-se atuar neste novo universo, tão real quanto o nosso mas com suas com regras próprias e particulares.

Pandora

O nome dado ao planeta no filme foi inspirado no mito grego de Pandora. A Deusa imortal, cujo significado do nome é “aquela que possui todos os dons”. Seu mito conta a história de uma famosa caixa. Dentro dela estariam ao mesmo tempo os dons e as os males Foi destinado aos homens como “presente” de Zeus, na verdade, uma punição ao roubo do fogo por Prometeu.
Segundo a Wikipedia: “A mentalidade politeísta vê Pandora como a que deu ao homem a possibilidade de se aperfeiçoar através das provas e da adversidade. Ela lhe dá assim a força de enfrentar estas provas com a Esperança. Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar.
No filme o paralelismo entre Pandora=Amazônia é óbvia e clara. Possuidora de todos os dons, mas que pode trazer muitas adversidades também.
Mas as metáforas não param por aí.

Árvore dos Espíritos

A metáfora também é clara: a árvore dos espíritos é o cipó dos espíritos, significado da palavra quétchua ayahuasca. Mas o autor foi ainda mais longe: Em uma das cenas é possível se perceber dois cipós enrodilhados como duas serpentes, símbolo que serve para descrever o caduceu e que também é a forma do DNA, a molécula da vida. Recomendo a leitura do texto "Inteligência Natural" do antrópologo Jeremy Narby. Em seu livro “ A Serpente Cósmica” Narby traça o paralelismo entre os estados proporcionados pela ayahuasca e a relação que ela proporciona com a Natureza. Quem já sentiu, sabe que é totalmente real o vínculo ou “conexão” entre o ser humano e cada ser deste universo.

“A biologia agora tremúla o duplo helix como sua bandeira, o símbolo de novas curas. Mas este mote é o mais antigo símbolo da vida e cura no mundo. A escada transada, duas serpentes entrelaçadas, o axis mundi, o símbolo dos xamãs nos cinco continentes por milênios.”

Jeremy Narby em “Inteligência Natural"

Esta é uma das duas idéias fundamentais na qual gira o filme Avatar : a possibilidade de uma existencia plena, compartilhada com os seres que nos cercam.
Para mim, ayahuasqueiro há 12 anos, tal possibilidade é muito mais de que um simples “conceito”, é a mais pura realidade. Uma realidade da qual não apreciamos justamente por nosso “elo” com a Natureza ter se tornado cada vez mais débil.

Lembro-me claramente do dia seguinte a uma sessão de ayahuasca em que ao ver uma árvore "sangrando" o seu leite, após ter sido tombada, que foi inevitável sentir como seu meu próprio sangue estivesse sendo derramado.

Depois desses 12 anos tenho a plena convicção de que a ayahuasca é capaz de reavivar este vínculo e assim como ela há plantas mestras em cada um dos cinco continentes.

O segundo conceito central do filme é a transferência de consciência, a começar do humano para o Avatar. Basicamente a preocupação de todas as religiões tem sido assegurar a permanência da conciência após a morte. Para os “Nativos” de “Pandora”, esta tranferência ocorre naturalmente com a morte, uma vez que pertencemos a um mesmo todo.

Eewa

O conceito usado no filme para explicar uma conciência superior que abarca a tudo está intimanete ligado a idéia de uma Divindade Feminina, uma Mãe Arquetípica, primordial. Contudo não se trata de uma divindidade distante, mas de uma mãe de todos os seres, uma coinsciência presente em tudo que nos rodeia. A mesma idéia está presente no conceito de Gaia, a Terra que para os antigos Gregos, era uma Deusa. Recentemente, alguns cientistas chegaram a propor que a nossa Terra seria um imenso organismo vivo, uma conciencia complexa composta de todas as conciências que a compõe. Fascinante, não acham?
Ewá na África é uma das Yabás, ou seja, Orixá Feminino ao lado de Yemanjá (O Mar) e Nanã (A Terra). Ewá é a Divindade correspondente ao mesmo tempo à chuva e às estrelas. Exatamente o “verbo de ligação” entre o Céu e a Terra. Uma das traduções possíveis é que Ewá é: aquela cujas lágrimas refletem na Terra, o brilho das Estrelas.


Um diálogo interessante é que quando o protagonista faz uma oração a Eewa pedindo sua ajuda na batalha, sua parceira lhe explica que Eewa é responsável pelo equilíbrio da vida e que portanto, não toma parte em um dos lados da batalha.


Extamente o oposto do conceito contido no Velho Testamento em que o “Senhor dos Exércitos” destrói os “inimigos’ do povo “escolhido”. Com esta chave é bem fácil entender aonde nos tem levado tal arrogância. Basta dar uma olhada como está hoje o Oriente Médio, de onde sairam as três doutrinas que mais matam em nome de Deus: judaísmo, cristianismo e islamismo.

No entanto, o recado é que atentar contra este equilíbrio é atrair para sí, todo tipo de infortúnio contido na "Caixa de Pandora", a mesma que contém todos os dons.

Conclusão

Para quem esperava somente uma diversão no domingo, assitir ao filme Avatar foi bem mais do que uma grata surpresa. Foi um daqueles raros momentos em que me ajudam a não perder de todo a esperança na humanidade e de acreditar que existe sim, um despertar de conciência.
Mesmo tendo sido realizado nos estúdios de Hollywood com toda a sua tradição de chauvinismo estadunidense sobre os demais povos, o filme é feito sob medida para nós, juruaenses.

Talvez assim possamos acordar para descobrir a biodiversidade deste mundo de que somos, ou pelo menos deveríamos ser, agradecidos, dedicados e vigilantes guardiões.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O Fim do Mundo segundo Hollywood

Leandro Altheman

Na década de 60 eram os marcianos (A Guerra dos Mundos, Invasores de Marte), depois os comunistas e “amarelos” (007, Rambo, etc).
Na década de 80, saiu o filme “The Day After”(O Dia Seguinte). O filme fez um tremendo sucesso. Em plena Guerra Fria, o temor mais presente era de um conflito nuclear que inviabilizasse a vida no planeta. Para mim, com cerca de 12 anos, parecia um perigo real e palpável.
Depois, com o fim da guerra fria, nada mais justificava o medo de um conflito nuclear. Afinal, nem a União soviética existia mais. Algo tinha que preencher a vaga do medo, que perigosamente ficou desocupada. Logo vieram os meteoros: dezenas deles que atingiam a Terra, provocando os maiores desastres e até o fim da humanidade. Nestes filmes dava-se um novo uso para as ogivas nucleares, que passavam a ser a única alternativa contra os malvados meteoros. Também apareceram terroristas que conseguiam clandestinamente parte do arsenal bélico da antiga URSS para detonar Israel e os EUA. E assim os EUAS respiram aliviados, pois afinal se não tiverem nada para temer, como justificar os crescentes gastos em armamentos?
A partir do ano 2000, o aquecimento global e sua conseqüências passaram a ser a bola da vez. No “Dia Depois de Amanhã”, A Biblioteca do Congresso é o único lugar a salvo em um mundo destruído por uma nova Era Glacial. Depois O mestre dos filmes de suspense, Nigth Shyamalan lançou o “Fim do Mundo”, onde um as plantas exalavam um estranho ferormônio capaz de fazer as pessoas se matarem. Na verdade uma comédia disfarçada de filme de terror. A lista inclui também o estúpido filme "Presságio" em que a Terra é varrida por uma explosão solar enquanto anjos mal encarados vestindo sobretudos vão recolhendo criancinhas escolhidas pela Terra.
Agora, há dois anos para 2012, Hollywood faz um interpretação absurda do calendário maia, para justificar o próximo fim do mundo. Interessante é que os Maias falavam apenas em uma mudança de Era, uma passagem e não no “Fim do Mundo”. Enfim, quando passar 2012, vão ter que encontrar outro motivo para botar medo nas pessoas.
O próprio N. Shyamalan (que é indiano e não estadunidense) nos fornece uma pista interessante no filme “A Vila”. Nele uma pequena comunidade aparentemente “perfeita” mantém a sua unidade e coesão de valores a partir do medo imaginário, reforçado pela ocasional aparição de um “mostro”, na verdade apena uma “máscara” que atemorizava os moradores o suficiente para que fossem reforçados os seus vínculos religiosos, suas obrigações, etc.
A metáfora é óbvia: “A Vila” é na verdade a sociedade de qualquer país, em especial, os EUA que vivem de explorar o medo de seus cidadãos para alcançarem seus objetivos. O intrigante é que no filme, uma cega consegue a façanha de realziar o que todos achavam impossível: vencer o medo e sair da "Vila".

O Medo é ventável




Vamos dar uma olhada nas prateleiras das vídeo locadoras: aranhas, morcegos, cobras, crocodilos e até formigas e vermes ajudam a que todos aprendam desde cedo a ter medo da Natureza. Por outro lado “Fantasmas, Espíritos, Amuletos, Extraterrestres, e etc, ensinam a ter medo do Mistério. Por fim os filmes de ação com Stalone, Swarzeneger, Chuck Noirris, Van Dame tratam de ensinar a ter medo do Outro: o árabe, o latino, o “comuna”, o “amarelo”, do mesmo modo que o faroeste ensinou a ter medo do índio (“Rastros do Ódio”, com John Wayne).
É através do cinema que o estadunidense médio conseguem fantasiar a coragem que de fato não possuem.
Contra isso tudo, melhor do que continuar a fazer o jogo do medo e transformar os estadunidenses nos nossos algozes, prefiro mesmo uma boa dose de bom humor, que é muito mais eficiente para nos livrar dos nossos medos.
Prefiro imaginar as donas de casa do nosso interior e como elas corajosamente lidam com este tipo de ameaça: nas aranhas, e formigas um chinelada ou uma vassoura resolve, para morcegos, basta pendurar um pouco de capim-navalha (tiririca) no beiral. Cobra é com pau e jacaré, a gente come o rabo... É bem expressiva do povo brasileiro a caricatura da "Dona Jurema" que com um só pau de macarrão consegue manter "na linha" o Obama e o Osama.
É por essas e outras que acredito cada vez mais no nosso país e no nosso povo. Ainda que a doutrina do medo tenha seus adeptos por aqui, ela não têm longa sobrevivência na nossa cultura. Nosso gingado de negro, nossa espreita de índio, nos faz desconfiados, mas não medrosos. A realidade, bastante dura para a maioria do povo, nos coloca diante de situações suficientemente reais para que não necessitemos criar medos imaginários para exercitar uma coragem à lá fantasia. Aqui, somos corajosos de fato, embora na maioria das vezes nem nos damos conta disto.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Autonomia Ontem, Hoje e Sempre (Parte 2)



Leandro Altheman



O desejo de autonomia é algo onipresente na população do Juruá. É preciso se ter clareza de que não se trata apenas de um “bairrismo” qualquer. No entanto,
este desejo, como já afirmei no post anterior, não exclui a identidade acreana. Como resolver isto então?
O Brasil não possui uma figura jurídica intermediária entre estado e município. No Peru é diferente. Temos os Departamentos, equivalentes aos nossos Estados e dentro destes, Províncias, na qual estão as cidades. Notem que o Peru é muito menor que o Brasil, mas soube dividir melhor o seu território. Na pratica contudo, o centralismo em relação a Lima (capital federal) é muito maior do que na nossa República.
No caso do desejo de criação de um Estado do Juruá é preciso se levar em conta alguns fatores. O primeiro é de ordem econômica: nossa economia é pífia, insignificante, perante o restante do Brasil. Somos totalmente dependentes de verbas federais, o que não justificaria a criação de um estado.O segundo é a população pequena, cerca de 120 mil habitantes, é muito menos do que os menores bairros de São Paulo. Mesmo somados os municípios do Amazonas esta população ainda seria de pouco peso. E aí, há ainda mais um problema: os municípios do Amazonas praticamente “nadam em dinheiro”cem relação ao Acre, graças ao FPM proveniente de uma das cidades de maior crescimento econômico do país, Manaus.
Um terceiro fator que deve ser levado em conta é a questão política. Teríamos que ter uma maioria para defender uma proposta como esta. Não há clima político para isto. É preciso lembrar também que isto traria um retrocesso político. É só imaginar os nossos “coronéis de barranco” com poder estadual, um verdadeiro desastre. Imaginem os nossos atuais vereadores, como deputados estaduais e federais do nascente estado. Que pesadelo!Minha opinião (e aí deixo claro que se trata de opinião) é de que no momento seja mais vantajoso para o Juruá, estar aliado ao modelo político da capital. Isto poderá nos dar o aporte de infra-estrutura para que no futuro possamos reivindicar de fato e direito, o status de uma capital (aeroporto, hospital, estrada, ponte, etc). Enquanto isso é bom demarcar bem o nosso terriotório no jogo político. Sem atrazo, sem rancor, apenas cobrando o que é de direito do Juruá!

Se for para escolher um déspota, melhor o os esclarecidos. Muito pior do que isso é a estupidez que acompanha as escolhas baseadas em rancor, o que tem embasado as decisões populares nas duas últimas eleições municipais.
A favor desta proposta, temos por enquanto a luta dos autonomistas, a nossa história, que espero, não seja deturpada por por aqueles, que insistem a reescrevê-la a em nome de seus interesses. (Vale a pena um olhar mais crítico em relação ao Museu de CZS e na Estátua do Marechal!)
Aliado à historia temos ao nosso favor ainda a Geografia, pois não haverá obra de engenharia capaz de mudar o curso do rio.
O Juruá nasce, cresce e livre segue seu curso, sem depender das águas do rio Acre para chegar ao seu destino no Amazonas. Que assim cumpramos a nossa história, ainda que demos voltas e mais voltas, cheguemos ao nosso destino enquanto povo.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Autonomia Ontem, Hoje e Sempre (Parte 1)




Leandro Altheman

Em parte (re)motivado pelos textos do meu amigo e dirigente da UJS Francisco Borges,o “Pancho” (prefiro a grafia em castelhano), resolvi escrever um pequeno texto a respeito da tão sonhada e cantada em verso e prosa “autonomia”.
Afinal, os textos corajosos, simples e diretos de Pancho, identificam algo que todos já sabemos: a diferença no tratamento entre os Vales do Acre e do Juruá. Há uma discrepância muito grande, em todos os setores, embora seja necessário dizer, por uma questão de justiça, que muita gente, tanto do lado de cá, quanto do lado de lá, tem se esforçado em mudar este quadro. Por outro lado também tem gente que se esforça em manter o Juruá como uma espécie de “quintal” político de Rio Branco, ou então pior, tentam nos infligir uma espécie de “colonização mental” como se fossemos pobres idiotas que precisam ser “educados” nos seus termos. E tome peia nas eleições. O Povo do Juruá pode não ter a pretensa inteligência de certos enxadristas do jogo político, mas percebe, quase que intuitivamente, quando estão o querendo lhe engabelar. E nada mais ofensivo do que a sensação de que alguém se pretende colocar na posição de um “doutor” que vai lhe ensinar o B-A-Bá.
Quem de fato precisa de instrução são estes senhores da “capital” que teimam em chamar e a tratar o Juruá como “interior”. Demonstram com isso o mais profundo desconhecimento do básico da História do Acre. Afinal, ao contrario do que poderia sugerir a estátua do Marechal (com a bandeira do Acre nas mãos) não veio ninguém de Rio Branco fundar Cruzeiro do Sul. Nossa cidade foi fundada a partir de uma missão do Governo Federal e ao contrario de Rio Branco, um antigo seringal transformado em cidade pelas contingências históricas, Cruzeiro do Sul, já foi fundada como cidade em 1904. Criada para ser a capital do Departamento do Alto Juruá, que existiu durante a primeira fase do Território Federal do Acre.
Também é muito impreciso creditar ao “PT” ou ao governo da Frente Popular, esta discrepância entre os vales, algo que surgiu lá nos primórdios do território.
Por esta razão, fiz uma singela, mas creio, esclarecedora pesquisa em dois livros, que deveriam ser obrigatórios para todos. Um deles é “A presença do Capitão Rego Barros no Alto Juruá”, de Glimedes Regos Barros e o outro é a Conquista do Deserto Ocidental, de Craveiro Costa (ambos podem ser encontrados na Biblioteca Padre Trindade).
Nestes dois livros é possível conhecer e reconhecer os fatos históricos que culminaram em situações que nos assombram até hoje.
O primeiro fato que deve-se conhecer é de que com a assinatura do Tratado de Petrópolis, foi criado o Território Federal do Acre, já com seus três departamentos: Acre, Purus e Juruá, e suas respectivas capitais. A fundação de Cruzeiro do Sul, vem, portanto a cumprir o que determinava o tratado.
A segunda é de que diante da impossibilidade de comunicação entre as três capitais (Sena Madureira no Purus), criou-se a Comissão de Obras Federais, em 1907 para construir uma estrada de rodagem (olha a BR 364 aí, gente!).
A terceira é que na mesma medida em que diminuíam os lucros da borracha, diminuía também o interesse do governo federal em manter uma estrutura de autonomia para os três departamentos. O primeiro golpe na autonomia que o Juruá gozava de fato e de direito no início do século XX veio com o fechamento dos tribunais de Cruzeiro do Sul e de Sena Madureira. O golpe final veio quando o então Presidente da República, Epitácio Pessoa decretou o fim da divisão por departamento, acabando de direito, com uma autonomia que de fato já não existia mais.
E assim, teve início o fenômeno que conhecemos até hoje, tão bem descrito por Craveiro Costa “... Com isso os recursos destinados aos departamentos, concentravam-se na capital, onde lá mesmo se extinguiam.”
Portanto, uma situação que tem início lá no início do século XX e não na atual política do estado. Outro fato que nos faz pensar também é que ainda que a identidade do “Juruá” seja forte, e o desejo de autonomia historicamente amparado, esta identidade particular parece não excluir a identidade de “acreanos” a que cultuam também os juruaenses. Fruto, é claro, de uma organização onde o Departamento do Juruá, incluía-se dentro do Território Federal do Acre.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Cadê a vergonha, Boris?

Depois da "ratada" de ano novo em que Boris Casoy desdenha dos garis, leiam agora o comentário do Jornalista Marco Antônio Araújo. Peço a atenção especial dos estudantes de jornalismo e colegas da imprensa, para que não cometamos semelhantes erros. O sempre "arauto da moralidade" Boris Casoy foi de uma grosseria sem limites, e com o episódio revela sua verdadeira face.

http://www.youtube.com/watch?v=f_E4j7vi3js

Boris Casoy é a elite branca com pó-de-arroz

Marco Antonio Araujo*

Você sabe qual é a diferença entre Boris Casoy, a elite branca brasileira e uma lata de lixo? Um gari responderia bem: a lata.
Como não afundaram o âncora, vamos descer mais lenha. Ele já está estendido no chão. Não há como recuperar a credibilidade que um dia teve. Mas, pelo visto, não é cachorro morto. Sobrevive com a ajuda de aparelhos.
Se o Boris fosse chefe do Boris, ele já teria sido mandado embora. Mesmo concordando com as opiniões dele mesmo. Porque o Boris foi sempre um chefe implacável com erros alheios. Fez carreira assim, literalmente, na linha dura.
Agora, o Brasil inteiro é testemunha de sua arrogância e preconceito. Seu vídeo humilhando quem trabalha honestamente jamais será esquecido.
É um documento que demonstra com perfeição a forma como a elite branca deste país sempre foi cínica, hipócrita. E cruel. Em público, se inflama, esbraveja, dá lição de moral. Tudo de mentirinha.
Quando acha que os microfones estão desligados, quando desce de seus palanques, tripudia dos humildes. De verdade. Pega em flagrante, balbucia desculpas burocráticas, dá o caso por encerrado e parte para novos discursos indignados. Não sente vergonha. Nunca sentiu.
O desprezo do Sr. Boris Casoy pelos garis é o mesmo que os poderosos sentem pelo metalúrgico sem diploma que insiste em se comunicar muito bem com os que estão na "mais baixa escala do trabalho".
Um jornalista não pode fiscalizar o poder público sem ter idoneidade ética para isso. A elite não pode voltar a governar este país sentindo asco por gente decente.
As urnas cuidam de alguns. Demora, mas vai dar certo. De outros, é mais fácil se livrar. Basta desligar seus aparelhos. De TV. Assim, não sobrevivem.

texto publicado originalmente no blog: www.blogs.r7.com/o-provocador

Marco Antonio Araujo* é jornalista desde 1987, quando escreveu crítica de teatro para o extinto jornal A Voz da Unidade, do PCB. Ajudou a fechar outro veículo, A Gazeta Esportiva, onde foi diretor de redação. Pra compensar, criou as revistas Educação, Língua Portuguesa, Fera! e Ensino Superior. Foi professor e coordenador de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero de 1992 a 2002, período em que o curso foi considerado o melhor do país.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Quem pode ficar feliz com um edital desses?


Francisco Panthio*

Falar em concursos é sempre bom, nos acende um esperança e nos faz acreditar que o mercado de trabalho está bem ao nosso alcance. Nesses dias, o Governo do Estado do Acre lançou o edital para provimento de vagas em várias áreas da administração pública.
É bom saber que quase 300 pessoas terão uma oportunidade, mas uma coisa mostra a grande diferença no tratamento que é dado a região do Juruá em algumas coisas. Veja a distribuição de vagas:
Nível Superior:139 vagas de nível superior para o Vale do Acre10 para o vale do JuruáNível Médio:92 para o vale do Acre5 para o Juruá
A região do Baixo Acre tem 72 vagas para Técnico em Gestão Pública. Sabe quantas vagas sobraram para o Juruá inteiro? Nenhuma! Uma pena, pois muitos jovens sonham com uma oportunidade como essa para tentar fazer carreira profissional, mas sem uma vaga sequer para nível médio, a solução é torcer para que surjam mais oportunidades. Entedemos que a região do Vale do Acre é, sim, mais populosa que a do Vale do Juruá, mas a diferença nas vagas é muito desproporcional. Isso justifica o sentimento de algumas pessoas, que sonham com autonomia do Vale do Juruá.

* Francisco Panthio é dirigente da UJS de Cruzeiro do Sul.

Publicado Originalmente no site http://www.juruaonline.com.br/

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010: Ano de Copa do Mundo e Eleição

















Leandro Altheman








Enquanto a África do sul se prepara para sediar a primeira Copa do Mundo do continente, no Brasil nos preparamos para as eleições que vão, pelo menos em tese, definir os rumos dos próximos anos no país.
Sobre a seleção brasileira, digo que só volto a acreditar nela, depois que conseguirem vencer a França. Depois das últimas vergonhosas apresentações em que nossos habilidosos e excessivamente confiantes jogadores foram vencidos pelo talento francês, me reservo ao direito de ser um descrente do futebol brasileiro, até que provem o contrario e consigam vencer a França em uma partida limpa, por um placar razoável. É meu direito como torcedor brasileiro.




Nas eleições, já não são poucos os prognósticos, como não são poucos também os malabarismos da imprensa e órgãos de pesquisa, para dar como certa a vitória de José Serra. Uma “certeza” que se dissolve na realidade, a medida em que São Paulo vai se refazendo do susto de seguidas e permanentes e enchentes, e o moral do Brasil, e seu presidente, Lula, vão alcançando patamares inimagináveis a poucos anos atrás. Não vou aqui discutir os méritos de seu governo, mas o fato é que sua moral e popularidade, hoje, o habilitariam para eleger até um cavalo como sucessor. Por tudo isso, acho melhor começar a plantar “gramalote” no planalto.
No nosso querido Estado do Acre, não vejo a hora de começarem as campanhas e pesquisas, e o incrível material que vai fornecer para as charges: Por exemplo: “Nas primeiras pesquisas, Pinto não aparece” ou ainda “Pinto cresceu”, “Pinto caiu” e por aí vai. Nestas horas queria ser chargista.
Em uma postagem anterior critiquei o fato de que parte da imprensa da capital pinta um cenário idealizado de Cruzeiro do Sul, em especial, da administração Wagner Sales.
Para ser justo, é necessário dizer que há realizações sim, nesta administração. Isso contudo, não chega a ser surpresa. Surpreendente seria sim, se o atual prefeito conseguisse a façanha de uma administração pior que a de Zila Bezerra. Nada pessoal, prefeita, mas o fato é que Cruzeiro do Sul ficou praticamente abandonado nos últimos dois anos. Um desastre que se anunciou já nas primeiras semanas da administração, com a briga com o vice Ilderlei.
Por tudo isso, é quase impossível não fazer uma administração melhor. E ainda bem que seja assim. Sou cidadão e quero o melhor para minha cidade. No entanto, o cenário pintado em Rio Branco é uma total obra de ficção científica.
É fácil peceber o que quer a imprensa ligada ao PMBD: tentar viabilizar uma candidatura fraca (Pinto), através de uma cortina de fumaça, ao passar a imagem de que o Juruá poderia estar”fechado” com o novo candidato deles, que por aqui é um total desconhecido.
Nada mais ilusório: uma coisa é reconhecer méritos na atual administração, a outra é induzir o povo do Juruá a votar em um desconhecido, quando se tem à frente um nome totalmente respeitado na região como é o caso de Tião Viana.
Mesmo a jogada do fuso horário pode parecer um “tiro no pé”. Ainda que muitos (como eu) ainda pensem que o melhor mesmo é respeitar o horário natural do Sol, nem por isso, vão deixar de reconhecer os méritos de um mandato a serviço do Acre. Outro fato é que muita gente já se adaptou a novo horário que hoje tem seus fiéis defensores (patrões, estudantes do período noturno e esportistas, principalmente).






Há ainda um fator decisivo que é a aproximação entre os antes aparentemente irreconciliáveis PMDB e o PT no Acre. Embalados pela aliança nacional entre os dois partidos, PMDB e PT ensaiam uma aproximação que pode mudar radicalmente o atual quadro de forças no estado.



Bem, vamos assistir ao andar da carruagem.