sábado, 23 de janeiro de 2010

O Fim do Mundo segundo Hollywood

Leandro Altheman

Na década de 60 eram os marcianos (A Guerra dos Mundos, Invasores de Marte), depois os comunistas e “amarelos” (007, Rambo, etc).
Na década de 80, saiu o filme “The Day After”(O Dia Seguinte). O filme fez um tremendo sucesso. Em plena Guerra Fria, o temor mais presente era de um conflito nuclear que inviabilizasse a vida no planeta. Para mim, com cerca de 12 anos, parecia um perigo real e palpável.
Depois, com o fim da guerra fria, nada mais justificava o medo de um conflito nuclear. Afinal, nem a União soviética existia mais. Algo tinha que preencher a vaga do medo, que perigosamente ficou desocupada. Logo vieram os meteoros: dezenas deles que atingiam a Terra, provocando os maiores desastres e até o fim da humanidade. Nestes filmes dava-se um novo uso para as ogivas nucleares, que passavam a ser a única alternativa contra os malvados meteoros. Também apareceram terroristas que conseguiam clandestinamente parte do arsenal bélico da antiga URSS para detonar Israel e os EUA. E assim os EUAS respiram aliviados, pois afinal se não tiverem nada para temer, como justificar os crescentes gastos em armamentos?
A partir do ano 2000, o aquecimento global e sua conseqüências passaram a ser a bola da vez. No “Dia Depois de Amanhã”, A Biblioteca do Congresso é o único lugar a salvo em um mundo destruído por uma nova Era Glacial. Depois O mestre dos filmes de suspense, Nigth Shyamalan lançou o “Fim do Mundo”, onde um as plantas exalavam um estranho ferormônio capaz de fazer as pessoas se matarem. Na verdade uma comédia disfarçada de filme de terror. A lista inclui também o estúpido filme "Presságio" em que a Terra é varrida por uma explosão solar enquanto anjos mal encarados vestindo sobretudos vão recolhendo criancinhas escolhidas pela Terra.
Agora, há dois anos para 2012, Hollywood faz um interpretação absurda do calendário maia, para justificar o próximo fim do mundo. Interessante é que os Maias falavam apenas em uma mudança de Era, uma passagem e não no “Fim do Mundo”. Enfim, quando passar 2012, vão ter que encontrar outro motivo para botar medo nas pessoas.
O próprio N. Shyamalan (que é indiano e não estadunidense) nos fornece uma pista interessante no filme “A Vila”. Nele uma pequena comunidade aparentemente “perfeita” mantém a sua unidade e coesão de valores a partir do medo imaginário, reforçado pela ocasional aparição de um “mostro”, na verdade apena uma “máscara” que atemorizava os moradores o suficiente para que fossem reforçados os seus vínculos religiosos, suas obrigações, etc.
A metáfora é óbvia: “A Vila” é na verdade a sociedade de qualquer país, em especial, os EUA que vivem de explorar o medo de seus cidadãos para alcançarem seus objetivos. O intrigante é que no filme, uma cega consegue a façanha de realziar o que todos achavam impossível: vencer o medo e sair da "Vila".

O Medo é ventável




Vamos dar uma olhada nas prateleiras das vídeo locadoras: aranhas, morcegos, cobras, crocodilos e até formigas e vermes ajudam a que todos aprendam desde cedo a ter medo da Natureza. Por outro lado “Fantasmas, Espíritos, Amuletos, Extraterrestres, e etc, ensinam a ter medo do Mistério. Por fim os filmes de ação com Stalone, Swarzeneger, Chuck Noirris, Van Dame tratam de ensinar a ter medo do Outro: o árabe, o latino, o “comuna”, o “amarelo”, do mesmo modo que o faroeste ensinou a ter medo do índio (“Rastros do Ódio”, com John Wayne).
É através do cinema que o estadunidense médio conseguem fantasiar a coragem que de fato não possuem.
Contra isso tudo, melhor do que continuar a fazer o jogo do medo e transformar os estadunidenses nos nossos algozes, prefiro mesmo uma boa dose de bom humor, que é muito mais eficiente para nos livrar dos nossos medos.
Prefiro imaginar as donas de casa do nosso interior e como elas corajosamente lidam com este tipo de ameaça: nas aranhas, e formigas um chinelada ou uma vassoura resolve, para morcegos, basta pendurar um pouco de capim-navalha (tiririca) no beiral. Cobra é com pau e jacaré, a gente come o rabo... É bem expressiva do povo brasileiro a caricatura da "Dona Jurema" que com um só pau de macarrão consegue manter "na linha" o Obama e o Osama.
É por essas e outras que acredito cada vez mais no nosso país e no nosso povo. Ainda que a doutrina do medo tenha seus adeptos por aqui, ela não têm longa sobrevivência na nossa cultura. Nosso gingado de negro, nossa espreita de índio, nos faz desconfiados, mas não medrosos. A realidade, bastante dura para a maioria do povo, nos coloca diante de situações suficientemente reais para que não necessitemos criar medos imaginários para exercitar uma coragem à lá fantasia. Aqui, somos corajosos de fato, embora na maioria das vezes nem nos damos conta disto.

Um comentário:

  1. Lembro de uma vez quando criança e morando em um bairro muito simples em que as pessoas realmente se deixavam influenciar pelos filmes e a mídia em geral, surgiram rumores de que o mundo acabaria tal dia. Qual não era o terror das pessoas daquela localidade quando o aludido dia se aproximava... e no dia: toda aquela apreensão e ... nada.
    Quanto ao cinema norte-americano, poucos sãos os filmes que se salvam. Povo megalomaníaco. Gosto dos filmes europeus, a sua maioria conta histórias leves e do cotidiano das pessoas, muitos com uma doce pitada de humor. Recomendo os de Almodóvar e ainda "O Fabuloso Destino de Amelie Poulan"," Adeus, Lênin", "Edukadores", "O Labirinto do Fauno", "A Vida é Bela". O cinema brasileiro tem muito coisa boa, antiga e recente. Mazzaropi é uma dica para quem quer se distrair.
    Não vi 2012 repleto de efeitos especiais E quer saber, não tenho a menor curiosidade. Imagino que seja "The Day After" como nova roupagem.

    Abraço.

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