Paulo Sérgio Bernarde *
Em 2005 quando era professor da Facimed em Cacoal recebo um e-mail do Ministério do Meio Ambiente me convidando para participar de uma reunião em Brasília sobre o Kambô (Vacina do sapo). A Ministra naquela época (Marina Silva) estava preocupada com o risco de biopirataria caso ocorresse a descoberta de algum medicamento a partir do veneno de uma espécie de Anfíbio (Phyllomedusa bicolor) que é utilizado há séculos por algumas etnias (especialmente da Linguagem Pano) no Acre.
O que eu sabia sobre o assunto naquela época é o que muitos hoje ainda pensam: Ah, os indígenas tiram o veneno de um anfíbio, aplica na pessoa e ela fica doidona! Hoje sei que muitos estavam equivocados e que é algo diferente e muito mais amplo sobre isso. Pra começar ninguém "chapa o coco não!".
Chegando em Brasília na reunião conheci vários pesquisadores, entre eles dois médicos do Instituto de Coração da USP e um deles já tinha tomado a tal vacina duas vezes. Um bioquímico que tinha isolado alguns peptídeos de algumas espécies de Phyllomedusa e que estas moléculas apresentavam "in vitro" (fora do corpo de um animal) em meio de cultura de células humanas propriedades antibióticas contra a Leishmaniose, Malária e Doença-de-Chagas. Li artigos a respeito que alguns peptídeos destes anfíbios do Gênero Phyllomedusa apresentaram propriedades antibióticas contra a bactéria Pseudomonas aeruginosa (Uma das mais resistentes do Planeta e muito associada com casos de infecção hospitalar!) e também impediram a infectividade do vírus HIV em células humanas sem destruí-las (Isso "in vitro").
Nossa, realmente existe um potencial farmacológico para ser explorado em benefício da humanidade e temos que correr com isso para que o saber tradicional (Indígenas!) não sejam passados para trás por alguma multinacional.
Nessa reunião ouvi falar pela primeira vez de Cruzeiro do Sul (Nem passava pela cabeça que viria morar aqui um dia!).
Tem muito mais coisa para escrever aqui, a história é bem mais do que isso... Outro dia quem sabe escrevo sobre isso!
Mas, vamos falar da estrada até agora:
"Meninos de prédio" aparecem para distorcer o que este anfíbio e essa medicina tradicional representa para os povos do oeste da Amazônia?!
Pesquisadores que nunca experimentaram ou pesquisaram isso! Pessoas que se auto-intitulam Xamãs nos centros urbanos fora da Amazônia! Contrabandistas que traficam o veneno em palhetas para fora do Acre e para fora do país! Jornalistas tendenciosos e totalmente parciais que não apresentam todos os fatos! O Kambô não é a cura para todos os males e quanto mais distante do seu ponto de origem mais distorcido e distante dos objetivos e interesses se transforma sua aplicação!
Existem Leis, Ciência, Pesquisadores, Cultura, Povos e uma Espécie animal que merecem Respeito!
Isso ainda continua...
Paulo Sérgio Bernarde é herpetólogo
Obs: O texto é uma reflexão espontânea do autor, retirado das redes sociais mediante autorização do mesmo.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
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