sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Viva a Bolívia!

Nunca vi tanto provincialismo na imprensa de "Penápolis" ao tratar no assunto dos presos brasileiros na Bolívia. E da maioria dos políticos, "bravatas" sustentadas por um pseudo-nacionalismo que agrada às multidões e somente acirra o conflito. Diplomacia é justamente o contrário disso.

O comportamento agressivo da sociedade brasileira para com a Bolívia, encampado por uma parcela significativa de seus representantes da classe política, reflete muito bem a arrogância de um país e de um povo (o brasileiro) que tão docilmente se deixou dominar durante décadas pelas decisões de Washington e desesperadamente necessita da fraqueza dos mais fracos para se sentir forte. A ilusão de "potência" só reflete a nossa própria impotência para decidir sobre nosso destino enquanto nação. Freud Explica.

Na contra-mão da bravataria, muito lúcido o texto do meu amigo, o cineasta Sérgio Carvalho, autor de diversas iniciativas de aproximação entre a cultura amazônica e andina. 

Sobre fronteiras e prisões

A Bolívia é um país incrível, não tenho outra maneira de definir este país, com toda sua contradição social, sua beleza natural – e coloca beleza nisso! – além de um povo, quando não tímido e introspectivo, festeiro e, sobretudo, guerreiro. Como o Brasil, com as cicatrizes da cruel colonização.
A Bolívia é um dos países mais pobres da América Latina, consequentemente, carrega em sua sociedade e política todas as mazelas advindas da miséria econômica. Não muito diferente da gente, olhando de perto, os problemas sociais estão por toda parte, em maior ou menor grau, a corrupção, problemas de saúde, problemas nas prisões.
Por falar em prisões, lamentável o fato ocorrido no presídio da Vila Bush irônico este nome, no mínimo), no departamento de Pando, contra presos brasileiros: violação total á dignidade e aos direitos humanos, sem dúvida, incontestável. Antes de prosseguir queria lembrar as decapitações ocorridas no presídio de Rondônia, o Urso Branco, das pessoas queimadas vivas nas favelas cariocas ou mesmo no homem inocente assassinado por policiais, em plena Gameleira, por puro despreparo ou sei lá o quê. Exemplos não faltam.
Aonde quero chegar? A violência não é um problema exclusivamente boliviano, compreendo e apoio a indignação frente ao cruel assassinato do preso brasileiro, devemos, sem sombra de dúvidas, posicionar-nos, cobrar atitude do país vizinho, enfim, se opor a brutalidade que fere a dignidade humana, seja ela de qual nacionalidade for.
Porém, lamento ainda mais a nossa incapacidade de administrar e refletir pró-ativamente a situação, percebe-se, mascarado de indignação, a sombra do xenofobismo, expressada no boca a boca do povo, e, o mais triste, em discursos rasos de parlamentares. 
Questões como esta, quando ocorrem, trazem á tona preconceitos em potenciais, reprimidos ou não, a violência desapercebida no julgamento e na visão deturpada do “outro”. O outro, no caso, é o nosso vizinho, mais próximo do que qualquer paulista, mineiro ou carioca. 
Frases como: "Boliviano é tudo preguiçoso; Boliviano é sujo ou safado” que já é comum nas ruas, tornam-se ainda mais fortes e raivosas, as pessoas falam com tanta propriedade que acaba por generalizar a difamação. Triste. Reforçam-se os estereótipos maldosos. Sinto-me envergonhado e ofendido pelas dezenas de queridos amigos bolivianos .
O que dizer sobre o parlamentar acreano ,que no calor das discussões, acusa Evo Morales de estar transformando a Bolívia em um país de Narcotraficantes, por conta de sua cultura pró folha de coca, que é o produto mais tradicional e sagrado dos andinos?! Que fique claro, não sou nem pró nem contra Evo, assunto complexo demais para um não boliviano omitir opinião, principalmente, quando não dedicou o tempo necessário para estudar o assunto. Só temos de ser cautelosos, denegrir superficialmente a cultura de um outro país é um erro grave, que só aumenta a aversão.
Iniciativas como Nomadas Peru, Fest Cineamazonia, Pachamama-Cinema de Fronteiras e outras que se dedicam a fomentar o intercambio e a integração cultural são essenciais nestas regiões fronteiriças. A arte tem a capacidade de revelar o "outro" em suas singularidades e semelhanças, a cultura é a força motriz para ultrapassar fronteiras e discutir um mundo mais solidário.
Espero que toda esta questão torne-se pano de fundo para uma discussão firmada em bons valores e que não sejamos nós, brasileiros e acreanos, os algozes de todo um povo, cometendo o grande erro do julgamento precipitado e alimentando em nós as sementes do xenofobismo.
Parafraseando o Galeano, as veias de nossa América Latina continuam abertas e sangrando.   

É amigo, os Lobos conhecem as fronteiras, porque as atravessam.  

O texto foi publicado na Coluna semanal de Sérgio Carvalho, no Jornal Página 20  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A luta pela alma da sociedade

Para Saul Leblon a direita católica tem como objetivo "a formação de quadros para orientar e dirigir o estratégico aparato de comunicação e produção cultural, hoje monopolizado por grupos que lideram a agenda conservadora brasileira.", seu instrumento - A Opus Dei



A atividade política mesmo agindo no imaginário não dá conta de preencher o amplo universo da alma humana. 

O aparato da religião ilustra o peso ordenador das demais instancias simbólicas na vida da sociedade. 

Disputas de falanges no interior dessas corporações, como as que cercaram a renúncia de Bento XVI, não miram apenas a redivisão interna do poder. 

Nem esgotam suas repercussões nos limites formais da fé. 

O que se disputa hoje na Santa Sé extrapola os 44 hectares da Cidade do Vaticano.

O canibalismo em torno do 'Banco de Deus' ilumina um dos pontos de intersecção da fronteira divina com o inferno material.

Está longe de ser o único.

Prelazias como a Opus Dei mostram desembaraço em outras sinergias também.

Sua rede de instituições educacionais se especializa na formação de quadros que possam irradiar os interesses gêmeos da fé e do dinheiro na vida mundana.

A formatação de executivos encontra-se entre as prioridades.

Estima-se que 600 colégios e 17 escolas de administração e negócios estão conectados à Opus Dei em todo o mundo.

Bebem sua água benta também a Universidade de Navarra, na Espanha e a Pontificia Universidade della Santa Croce, em Roma.

Ali são formados quadros espirituais da Opus Dei para a tarefa difusora de valores nas áreas da teologia, direito canônico, filosofia, comuniação social e institucional.

As identidades entre a prelazia fundada em 1928 por Josemaría Escrivá (a imagem acima é dele) e o conservadorismo político e empresarial remetem aos laços estreitos do mestre com o franquismo.

Juntos, a cruz e a baioneta esgoelaram a voz e o espírito espanhol por 37 anos.

Mas não só.

Morto em 1975, o ideólogo persistou na faina: foi canonizado em tempo recorde para os padrões católicos.

Em 2002, diante de mais de 80 mil seguidores de todo o mundo, João Paulo II, de quem o Bento XVI foi o braço direito, anunciou a santificação:

"Em honra da muito Santa Trindade, para a exaltação da fé católica e promoção da vida cristã, com a autoridade de nosso senhor Jesus Cristo, dos santos apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, depois de ter reflectido longamente, invocado muitas vezes a assistência divina e ter escutado os conselhos de muitos dos nossos irmãos sacerdotes, nós declarams e definimos como santo o bem aventurado Josémaria Escrivá de Balaguer e inscrevemo-lo no álbum dos santos”, informou o Sumo Pontífice.

Não foi um ponto fora da curva destes tempos de fé e costumes estritamente vigiados por Ratzingers e Bergonzines - o bispo do panfleto contra Dilma, em 2010.

Em junho do ano passado, uma estátua em bronze do santo Escrivá foi inaugurada na Catedral da Sé, em São Paulo.

A Catedral metropolitana, cujas escadarias no passado serviram de abrigo a manifestações contra a ditadura e em cujo interior se denunciou o assassinato de Vladimir Herzog, em 1975, agora tem um altar em honra da Opus Dei.

O episódio diz muito sobre o efeito regressivo dos últimos dois papados no universo do catolicismo brasileiro.

Na missa solene, com igreja lotada, em honra a 'São Josemaria Escrivá', foi lida a mensagem elogiosa de D. Odilo Scherer. 

O cardeal de São Paulo recordou a passagem de Escrivá pelo país, nos tempos bicudos de 1974. Nenhuma menção aos tempos bicudos. 

Coube à maior autoridade da Opus Dei no Brasil, demarcar o significado prático da presença simbólica de 'São Josemaría' na Catedral da Sé:

“É um forte apelo a todos os católicos: a sua mensagem era exatamente a santificação das estruturas civis da sociedade', sentenciou o monsenhor que atende pelo sugestivo nome de Vicente Anaconda.

Na 'santificação' das estruturas civis da sociedade' opera a rede de formação educacional que a extrema direita católica mantém mundo afora.

O Iese Business School, vinculado à Universidade de Navarra e à Opus Dei, faz esse link catequizador com o estratégico mundo empresarial.

É considerado uma das principais escolas de administração e formação e quadros do mundo.

Forma executivos para os negócios. Mas também lideranças associadas aos valores da ' santificação das estruturas civis da sociedade'. 

A cepa anticomunista da Opus, sua esférica condenação à liberdade dos costumes, sinaliza o sentido dessa formação complementar.

No Brasil, o Iese atua desde 1996 através da escola de administração ISE, uma parceria desenvolvida com o mesmo "DNA" da matriz espanhola.

Na direção figuram nomes como o do jurista Ives Gandra Martins,reconhecido e assumido por suas ligações com a Opus Dei brasileira.

O responsável pelo curso de Ética da escola, Cesar Furtado de Carvalho Bullara, é mestre e doutor em filosofia pela Pontificia Università della Santa Croce – a usina de formulação e difusão da Opus Dei.

Vai bem, obrigado o braço brasileiro.

No ano passado, segundo o insuspeito jornal Valor Econômico, São Paulo foi escolhida para ser a primeira cidade fora da Espanha a receber o programa de MBA Executivo do Iese.

Além disso, o Iese quer chegar a 500 alunos em cursos de longa duração no Brasil (hoje são 300) . E aumentar o número de profissionais que recebem aulas "in company" de 600 para mil.

A partir de 2015, o Iese pretende trazer para São Paulo três programas já testados pela Opus Dei em outros países. 

Sugestivamente, um deles versará sobre alta gestão para a área de mídia e entretenimento. 

Ou seja, formação de quadros para orientar e dirigir o estratégico aparato de comunicação e produção cultural, hoje monopolizado por grupos que lideram a agenda conservadora brasileira.

Os apóstolos de São Escrivá não brincam em serviço. 

Diante da exaustão conservadora estampada na desordem neoliberal, intensificam a formação de quadros de qualidade. Para setores estratégicos: a esfera do dinheiro; a difusão das notícias; a cultura e o entretenimento.

Sua estratégia para os dias que rugem é intensificar a receita apregoada por Ratzinger: conquistar poucos e bons; com eles, capturar a alma da sociedade.

Só há um antídoto à ofensiva: ampliar o espaço público da liberdade cultural, da comunicação e da democracia no país.

Isso se faz com políticas de Estado, que assegurem a diversidade indispensável à criatividade do espírito e à livre formação do discernimento social.

Se não contarmos as nossas próprias histórias, quem o fará por nós?

Eles.
Saul Leblon - Carta Capital

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

10 SINTOMAS DE QUE SEU CRISTIANISMO ESTÁ DOENTE

10 - Você vigorosamente nega e desdenha a existência de milhares de deuses de outras religiões, mas sente-se ultrajado quando alguém faz pouco da existência do seu.

9 - Você se sente ofendido, diminuido e desumanisado quando os cientistas dizem que as pessoas evoluíram de outras formas de vida e que teríamos parentesco direto com outros simeos, mas não vê problema com uma interpretação da bíblia que diz que fomos feitos da lama e que para a lama voltaremos.

8 - Você rí dos politeístas, mas não tem problemas em acreditar em uma Trindade Divina.

7 - Você fica indignado quando ouve as atrocidades atribuídas a Allah no Alcorão, mas sequer pisca quando ouve sobre como os cristãos mataram na história ou com os episódios de de atrocidades descritos no antigo testamento.

6 - Você ri da crença hindu de deuses humanóides, da visão Nórdica de Valhalla e da narrativa grega de deuses dormindo com mulheres, mas não tem problemas em acreditar que o Espírito Santo engravidou uma virgem e que ela deu a luz a um homem-deus que foi morto, ressuscitou e subiu aos céus por sua causa.

5 - Você não perde a chance de expor pequenas falhas em cada novo processo ou teoria científica desenvolvidos ou de desdenhar o método que usam para datar evidências da antigüidade, mas não acha nada errado acreditar nas datas deixadas por homens de tribos da Idade do Bronze que afirmavam que o mundo surgiu poucas gerações antes deles.

4 - Você acredita que toda a população deste planeta com exceção daqueles que compartilham a mesma crença que você - e é claro, excluindo as seitas rivais – passarão a eternidade em um Inferno de sofrimento infinito. E ainda considera sua religião a mais “tolerante”, “amorosa” e “humilde” de todas.

3 - Enquanto a ciência moderna, a história, a geologia, a biologia e a física falham em convencê-lo de qualquer coisa, um sujeito rolando no chão e falando em "línguas" que ninguém compreende basta como evidência para provar que o cristianismo e tudo o que ele defende é verdadeiro.

2 - Você define 0.01% como um "alto índice de sucesso" quando se trata de respostas a orações. Uma forte evidência de que rezar funciona e de que além de te ouvir pacientemente, Deus também intervém a seu favor graças a suas preces. E atribui os 99.99% fracasso restantes à Inefabilidade de divina.

1 - Seus conhecimentos sobre a Bíblia, metafísica cristã e história da igreja são muito mais esparcos do que o de muitos ateístas, agnósticos e céticos, e mesmo assim considera-se um Cristão.


Extraído do site "MORTE SÚBITA".

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Carta para Silas Malafaia

De todas as reações à Silas Mafafaia, pincei esta que achei uma das mais originais e divertidas, principalmente porque usa a própria Bíblia para refutar o seu pensamento. 

por Jordan Campos 

"Prezado Silas Malafaia, notei que és um profundo conhecedor da bíblia e aplica as leis encontradas nela de forma justa e ao pé da letra. Não quero queimar no inferno, quero salvar minha alma, você poderia me ajudar então a ser um filho querido de Deus, sem pecados e tirar as minhas dúvidas abaixo?

O senhor disse, ao defender que os homossexuais queimarão no inferno com base na passagem do antigo testamento a seguir: (Levítico 20:13) “Se um homem usar com outro homem, como se fosse mulher, ambos cometeram uma torpeza abominável, serão punidos de morte e sua morte recairá sobre eles”.
Eu sou heterossexual, e muito bem casado, estou livre desta parte, mas me preocupei com outras e com algumas obrigações contidas no mesmo Levíticos. Por favor, me ajude a esclarecer, senhor Silas, com sua habilidade e como psicólogo que é:

1. Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levítico 1:9). O problema são os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia como a bíblia recomenda a punição?

2. Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

3. Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levítico 15:19-24). O problema é: como eu digo isso á minha esposa ? Eu tenho receio que ela se ofenda comigo.

4. Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Posso comprar alguns escravos então da Argentina e não do Chile que não faz fronteira com o Brasil? Me explica isso?

5. Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo ou contrato alguém para fazer a vontade de Deus?

6. Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos às vezes para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

7. A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer? Eu mato também? E o senhor faz a barba ou nasceu peladinho assim, bigode conta? me ajude!!

Espero urgentemente uma resposta Sr. Silas, e obrigado por me lembrar que a “palavra de Deus” é eternamente imutável e que as escrituras devem ser seguidas à risca sempre e à todo tempo."


Jordan Campos é natural de Salvador e Terapeuta Transpessoal 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Tereza Collor escreve em carta aberta à Renan Calheiros

Carta aberta ao Senador Renan Calheiros

"Vida de gado. Povo marcado. Povo feliz". As vacas de Renan dão cria 24 h, por dia. Haja capim e gente besta em Murici e em Alagoas!
Uma qualidade eu admiro em você: o conhecimento da alma humana. Você sabe manipular as pessoas, as ambições, os pecados e as fraquezas.

Do menino ingênuo que eu fui buscar em Murici para ser deputado estadual em 1978 - que acreditava na pureza necessária de uma política de oposição dentro da ditadura militar - você, Renan Calheiros, construiu uma trajetória de causar inveja a todos os homens de bem que se acovardam e não aprendem
nunca a ousar como os bandidos.

Você é um homem ousado. Compreendeu, num determinado momento, que a vitória não pertence aos homens de bem, desarmados desta fúria do desatino, que é vencer a qualquer preço. E resolveu armar-se. Fosse qual fosse o preço,
Renan Calheiros nunca mais seria o filho do Olavo, a degladiar-se com os poderosos Omena, na Usina São Simeão, em desigualdade de forças e de dinheiros.

Decidiu que não iria combatê-los de peito aberto, descobriria um atalho, um mil artifícios para vencê-los, e, quem sabe, um dia derrotaria todos eles, os emplumados almofadinhas que tinham empregados cujo serviço exclusivo era abanar, durante horas, um leque imenso sobre a mesa dos usineiros, para que os mosquitos de Murici (em Murici, até os mosquitos são vorazes) não
mordessem a tez rósea de seus donos: Quem sabe, um dia, com a alavanca da política, não seria Renan Calheiros o dono único, coronel de porteira fechada, das terras e do engenho onde seu pai, humilde, costumava ir buscar o dinheiro da cana, para pagar a educação de seus filhos, e tirava o chapéu para os Omena, poderosos e perigosos.

Renan sonhava ser um big shot, a qualquer preço. Vendeu a alma, como o Fausto de Goethe, e pediu fama e riqueza, em troca.

Quando você e o então deputado Geraldo Bulhões, colegas de bancada de Fernando Collor, aproximaram-se dele e se aliaram, começou a ser Parido o novo Renan.

Há quem diga que você é um analfabeto de raro polimento, um intuitivo. Que nunca leu nenhum autor de economia, sociologia ou direito.
Os seus colegas de Universidade diziam isso. Longe de ser um demérito, essa sua espessa ignorância literária faz sobressair, ainda mais, o seu talento
De vencedor.
Creio que foi a casa pobre, numa rua descalça de Murici, que forneceu a você o combustível do ódio à pobreza e o ser pobre. E Renan Calheiros decidiu que, se a sua política não serviria ao povo em nada, a ele próprio serviria em tudo. Haveria de ser recebido em Palacios, em mansões de milionários, em Congressos estrangeiros, como um príncipe, e quando chegasse a esse ponto,
todos os seus traumas banhados no rio Mundaú, seriam rebatizados em Fausto e opulência; "Lá terei a mulher que quero, na cama que escolherei. Serei amigo
do Rei."

Machado de Assis, por ingênuo, disse na boca de um dos seus personagens: "A alma terá, como a terra, uma túnica incorruptível." Mais adiante, porém, diante da inexorabilidade do destino do desonesto, ele advertia: "Suje-se,
gordo! Quer sujar-se? Suje-se, gordo!"

Renan Calheiros, em 1986, foi eleito deputado federal pela segunda vez. Nesse mandato, nascia o Renan globalizado, gerente de resultados, ambição à larga, enterrando, pouco a pouco, todos os escrúpulos da consciência. No seu caso, nada sobrou do naufrágio das ilusões de moço!
Nem a vergonha na cara. O usineiro João Lyra patrocinou essa sua campanha com US1.000.000. O dinheiro era entregue, em parcelas, ao seu motorista Milton, enquanto você esperava, bebericando, no antigo Hotel Luxor, av. Assis Chateaubriand, hoje Tribunal do Trabalho.

E fez uma campanha rica e impressionante, porque entre seus eleitores havia pobres universitários comunistas e usineiros deslumbrados, a segui-lo nas estradas poeirentas das Alagoas, extasiados com a sua intrepidez em ganhar a qualquer preço. O destemor do alpinista, que ou chega ao topo da montanha -
e é tudo seu, montanha e glória - ou morre. Ou como o jogador de pôquer, que blefa e não treme, que blefa rindo, e cujos olhos indecifráveis Intimidam o adversário. E joga tudo. E vence. No blefe.

Você, Renan não tem alma, só apetites, dizem. E quem, na política
brasileira, a tem? Quem, neste Planalto, centro das grandes picaretagens nacionais, atende no seu comportamento a razões e objetivos de interesse público? ACM, que, na iminência de ser cassado, escorregou pela porta da renúncia e foi reeleito como o grande coronel de uma Bahia paradoxal, que exibe talentos com a mesma sem-cerimônia com que cultiva corruptos? José
Sarney, que tomou carona com Carlos Lacerda, com Juscelino, e, agora, depois de ter apanhado uma tunda de você, virou seu pai-velho, passando-lhe a alquimia de 50 anos de malandragem?

Quem tem autoridade moral para lhe cobrar coerência de princípios? O presidente Lula, que deu o golpe do operário, no dizer de Brizola, e hoje ospeda no seu Ministério um office boy do próprio Brizola?
Que taxou os aposentados, que não o eram, nem no Governo de Collor, e dobrou o Supremo Tribunal Federal?
No velho dizer dos canalhas, todos fazem isso, mentem, roubam, traem. Assim, senador, você é apenas o mais esperto de todos, que, mesmo com fatos gritantes de improbidade, de desvio de conduta pública e privada, tem a quase unanimidade deste Senado de Quasímodos morais para blinda-lo.

E um moço de aparência simplória, com um nome de pé de serra - Siba - é o camareiro de seu salvo-conduto para a impunidade, e fará de tudo para que a sua bandeira - absolver Renan no Conselho de Ética - consagre a sua carreira.
Não sei se este Siba é prefixo de sibarita, mas, como seu advogado in pectore, vida de rico ele terá garantida. Cabra bom de tarefa, olhem o jeito sestroso com que ele defende o chefe... É mais realista que o Rei. E do outro lado, o xerife da ditadura militar, que, desde logo, previne: quero absolver Renan.

Que Corregedor!... Que Senado!...Vou reproduzir aqui o que você declarou possuir de bens em 2002 ao TRE. Confira, tem a sua assinatura:

1) Casa em Brasília, Lago Sul, R$ 800 mil,
2) Apartamento no edifício Tartana, Ponta Verde, R$ 700 mil,
3) Apartamento no Flat Alvorada, DF, de R$ 100 mil,
4) Casa na Barra de S Miguel de R$ 350 mil ..

E SÒ.

Você não declarou nenhuma fazenda, nem uma cabeça de gado!!
Sem levar em conta que seu apartamento no Edifício Tartana vale, na realidade, mais de R$1 milhão, e sua casa na Barra de São Miguel, comprada de um comerciante farmacêutico, vale mais de R$ 2.000.000.Só aí, Renan, você DECLARA POSSUIR UM PATRIMONIO DE CERCA DE R$ 5.000.000.

Se você, em 24 anos de mandato, ganhou BRUTOS, R$ 2 milhoes, como comprou o resto? E as fazendas, e as rádios, tudo em nome de laranjas? Que herança moral você deixa para seus descendentes?.

Você vai entrar na história de Alagoas como um político desonesto, sem escrúpulos e que trai até a família. Tem certeza de que vale a pena? Uma vez, há poucos anos, perguntei a você como estava o maior latifundiário de Murici. E você respondeu: "Não tenho uma só tarefa de terra. A vocação de agricultor da família é o Olavinho." É verdade, especialmente no verde das mesas de pôquer!

O Brasil inteiro, em sua maioria, pede a sua cassação. Dificilmente você será condenado. Em Brasília, são quase todos cúmplices.
Mas olhe no rosto das pessoas na rua, leia direito o que elas pensam, sinta o desprezo que os alagoanos de bem sentem por você e seu comportamento desonesto e mentiroso. Hoje perguntado, o povo fecharia o Congresso. Por causa de gente como você!

Por favor, divulguem pro Brasil inteiro pra ver se o congresso cria vergonha na cara. Os alagoanos agradecem.

Thereza Collor

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Brasil - País do Carnaval e dos agrotóxicos


Renato Martelleto* 

É lamentável saber o quanto a sociedade brasileira ainda é incapaz de entender e reagir as freqüentes manipulações e seduções implantadas pelas grandes empresas multinacionais que não medem esforços para ludibriar e impor sua força maligna em nossas terras.

A “passarela do samba“ é mais uma vez palco deste macabro e perverso mundo capitalista.

Para quem ainda desconhecia, no carnaval deste ano de 2013, a nossa saudosa e tradicional agremiação carioca Vila Isabel, que já teve belíssimos enredos como “Kizomba”, “Sonho de um sonho” e outros mais, homenageia (?) a Agricultura.

Um lindo tema que inspirou Pierre Belbret, da Academia de Medicina Francesa a declarar:

“ Nenhuma atividade humana, nem mesmo a medicina, tem tanta importância para a saúde quanto a agricultura.”

Na prática, nossa agricultura está sendo castigada e explorada de forma impiedosa.

Famílias camponesas adoecem gradativamente em função do excesso de “remedinhos” ou “defensivos agrícolas”, como preferem chamar os venenos utilizados no agronegócio e que contaminam nosso país.

Sabemos que além de sermos o país do carnaval e futebol, temos também o título mundial de maiores consumidores de agrotóxicos desde 2008.

Pesquisas revelam que os brasileiros consomem anualmente 5 litros de venenos.

Em 45 países do planeta venenos como Endosulfan, Cihexatina e Metamidofós são proibidos, aqui não.

O veneno desfilará na “Apoteose” sem a menor interferência, tendo como “comissão de frente” deste genocídio diário a Empresa Química Alemã BASF, produtora de herbicidas, inseticidas e fungicidas, que investiu alguns milhões para promover o “ Brasil – Celeiro do Mundo dos Agrotóxicos”.

Qual a verdadeira intenção deste investimento ?

Até quando teremos que ficar de “camarote” assistindo nossa população contrair doenças como o Câncer, o Mal de Parkinson, o Mal de Alzheimer e outras doenças degenerativas que já foram relacionadas ao uso de agrotóxicos ?

Está na hora de mudarmos o “enredo” desta história para não "sambarmos" e sermos eternos “telespectadores”.


* Renato Martelleto é Coordenador voluntário das Feiras Orgânicas e Culturais do Rio de Janeiro há 15 anos e articulador de passeios e eventos ligados à agricultura orgânica.