domingo, 12 de maio de 2013

A Mãe Samaúma


Um Conto Amazônico

por: Arnaldo Quispe

As tribos da Amazônia concordam que a Samaúma tem na sua base (sacupema) uma grande porta invisível aos olhos humanos, usada ​​para se comunicar com mundos existentes. Esta porta é uma passagem de trânsito entre os mundos humano e o universo espiritual amazônico. Por esta porta entram e saem seres mitológicos da "Selva Mãe" e em especial muitas vezes se fala de uma bela garota que vive na árvore e que representa o espírito essencial da samaúma. Quando moça, havia sido uma grande curandeira e protetora dos animais e plantas da floresta amazônica.

Diz a lenda que em tempos antigos esta curandeira testemunhou a morte de seu marido pela picada de uma cobra venenosa. Na ocasião, era uma jovem inexperiente e não o pode curar. A vida de seu marido foi extinta em seus braços, sem conseguir salvá-lo. Depois de recuperar o ânimo perdido dedicou sua vida a curar  mordidas e picadas de cobras e outros animais peçonhentos. Foi a melhor curandeira nesse sentido. Ela descobriu um remédio natural para tais acidentes ofídicos: usando tubérculos da planta jérgon sacha (Dracontium lorettense) 
como um cataplasma. Depois de curada, a vítima poderia encarnar o espírito da serpente como seu animal protetor, além de ter uma maior imunidade contra as picadas.

Quando seu filho mais velho cresceu e se tornou curador como sua mãe, sofreu uma estranha picada de cobra, que não encontrou antídoto eficaz. Como sua mãe não conseguia encontrar a cobra que havia causado essa tragédia, optou por uma medida radical: usando rapé, conversou com o espírito da planta e esta lhe disse que se queria que seu filho vivesse, deveria dar seu espírito em troca, na base da samaúma (sacupemas). Como ela não tinha dúvidas, deu a sua própria vida para que o seu filho novamente encontrasse saúde. Dessa forma, seu filho se recuperou a tempo e sua mãe passou a ocupar um lugar de honra no reino da floresta e desde então passou a viver para sempre na samaúma. A "Mãe Samaúma" é um espírito que protege e está sempre atenta a tudo que acontece na grande floresta verde. Olha e protege com sua poderosa energia todos os seus irmãos mais novos, sejam plantas ou animais da selva.

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* Obs: No conto original, o autor trata o espírito como "doncella lupuna", ou seja, donzela, optei por trata-la como Mãe, uma vez que o clímax da história se dá com ela dando sua vida pelo filho.

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