domingo, 29 de maio de 2011

O Fim do Mundo no ano 1000

No limiar do ano 1000, todos eventos considerados "anormais" eram relacionados ao "fim dos tempos" ou "apocalipse".

Semana passada entre os assuntos mais comentados na internet esteve a decepção do pastor evangélico Harold Camping e de seu séquito que havia marcado a data do fim do mundo para o dia 21 de maio de 2011. (para os menos informados a nova data agora é 21 de outubro). Ficaram de cara pra cima, esperando pelo "arrebatamento' que não veio.

Eu que já passei dos 30, já assisti a diversos momentos em que se chegou a apregoar o fim do mundo. Na década de 1980 se acreditava que haveria uma guerra nuclear entre EUA e URSS por vgfolta do ano 1999, e que a humanidade não passaria do ano 2.000. Em 1986 teve o cometa Halley , e não faltou gente dizendo que ele anunciaria a "vinda do anti-cristo", ou qualquer outra bobagem que o valha.

O número "cabalístico" 2.000, suscitava os mais eloquentes discursos apocalípticos. Tinha até a história do 'bug do milênio" que geraria uma apagão nas telecomunicações e anunciaria "o ínicio do fim". Aí veio o ano 2000, nada aconteceu, e os apocalípticos de plantão foram para casa esperar pelo "próximo fim do mundo". Então desenterraram o "calendário maia", que diga-se de passagem não tem nada a ver com o "Apocalipse de S.João" e marcadaram a data do fim do mundo: 2012.

Os maias não eram tão idiotas assim, eles estipularam um calendário de mundanças de ciclos, avaliando o movimento do sol e do sitema solar em torno do eixo galático. Não tem nada de "fim do mundo". Falam apenas de mudanças e transformações. Mas aí, o Mel Gibson que segue ao pé da letra a cartilha do Bispo Hatzinguer leia-se Papa Bento XVI, aquele que fez escola no Tribunal do Santo Ofício, leia-se Santa Inquisição, em pleno século XXI, e transforma os maias em um povo decadente e sedento de sangue (erro histórico: quem tinha este comportamento eram os aztecas) com uma história de um eclipse e coloca os espanhóis cristãos como "salvadores" dos pobres índios maias, o Tribunal do Santo Ofício agradece a Mel Gibson pelos serviços prestados.

Ano 1000

Bem, mas esse não é o tema centra da postagem, mas sim, um estudo que fiz na Faculdade de História da USP, nas aulas de historia medieval, muito elucidativo na compreensão do fenômemno também conhecido como "milenarismo". Estudamos uma coletânea de textos medievais produzidos nas proximidades do ano 1.000. (Para quem se interessar o autor é Georges Duby). É relamente incrível ver como funciona o pensamento humano, prioncipalmente quando é dirigido, manipulado, por assim dizer com o propósito escuso de "arrebanhar almas".

Nas proximidades do ano 1000, com, a escassez de informações e meios de comunicação todo e qualquer evento considerado "anormal" era tido como "sinal dos tempos". Um texto de um monge trata que em um comunidae rural da europa central, o nascimento d euma galinha com duas cabeças (fato comum estudado na escolas de zootecnia) causou grande alvoroço, fazendo com que afluíssem à catedral, centenas de crisãos penitentes querendo se redimir do pecados antes do fim do mundo.

Da mesma forma, pragas e pestes (que sempre assolaram a humanidade), guerras ou mesmo casos de violência gratuíta entre pessoas da mesma família, eram atribuídos ao "anti-cristo". Surgiram pregadores por toda europa e memso a igreja oficial também se beneficiou dos eventos.
E quando chegou o ano 1000 e o mundo não acabou, sabe o que aconteceu: os "apocalípticos de plantão" marcaram nova data 1.033, ou seja, o aniversário de mil anos de morte e ressureição de Jesus.
Os estudos destes textos me trouxeram a certeza de que muitos eventos que são interpretados como "anúncio de fim de mundo", são na verdade mais comuns do que possamos imaginar.

Mas o que é o apocalípse afinal?

Apocalipse não tem nada a ver com "fim do mundo", o termo significa "revelação" e já lí interpretações, muito plausíveis de que na verdade os textos de S.João tentam descrever o processo de acese, algo que os hindus descrevem como a "subida da kundalini".

O "arrebatamento" seria na verdade um processo individual de acese ou assenção espiritual e não uma fantasia coletiva de gente subindo aos céus como retrata a figura.

A energia primal contida no chacra básico (sexual) faz sua passagem por cada um dos seis chacras acima (sete selos). Um processo de fato 'apocalíptico", pois a energia selvagem da vida destruiria no seu caminho todas as idéias de conforto e bem-estar projetadas pelo meio social em nossa mente. Passaria pelo coração (o "Cristo") e terminaria por se projetar através do chacra coronário, reestabelecendo definitivamente o contato céu-terra, através do homem, perdido no tempo mítico da queda do paraíso. Tudo isso é simbólico. o processo é descrito com a subida de uma 'serpente" ou também do despertar de um "dragão". Uma metáfora ao poder destrutivo da energia selvagem e descontrolada, que não se contém mais pelo molde social e somente pode ser guiada, dirigida pelo coração (o Cristo).
A Bíblia é riquíssima, mas a pobreza está na maneira com que vem sendo estudada e transformada em um grilhão para a consciência. Estudar e conhecê-la através de seus símbolos permite uma alcance muito maior da própria consciência, uma liberdade de interpretação que é sobretudo oindesejável para a s instituoições religiosas que preferem ter o domínio dos corações e mentes, ao invés de libertá-los para o verdadeiro vôo da consciência.

sábado, 21 de maio de 2011

O Animal Humano

Quando estudava filosofia na Universidade, sempre questionei esta dicotomia entre Natureza X Cultura. É com base neste pressuposto que se constrói a civilização ocidental. É por conta desta visão que estamos diante de eminência de mudanças climáticas que podem significar a extinção de milhares de espécies, incluindo a nossa.

Em meus estudos xamânicos deparei-me com uma realidade distinta: a de que a vida é repleta de seres. Não apenas os humanos, mas todos os seres: animais, vegetais, minerais, espirituais, etc... O xamanismo consiste em parte em dialogar com estes seres. Uma perspectiva a qual a civilização ocidental judaico-cristã simplesmente ignora.
Na tentativa de me familiarizar melhor com a linguagem acadêmica (estou há mais de dez anos sem sentar a bunda numa cadeira universitária) comecei a ler sobre o Antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, e qual não foi a minha surpresa ao ver que numa linguagem acadêmica, é exatamente o mesmo que ap
rendi do velho Yawarani, nos três meses de isolamento em que fiquei na Floresta.



Segue abaixo trecho de entrevista concedida pelo Antropólogo Viveiros de Castro a
Lucio Uberdan.

“Perspectivismo” foi um rótulo que tomei emprestado ao vocabulário filosófico moderno para qualificar um aspecto muito característico de várias, senão todas, as cosmologias ameríndias. Trata-se da noção de que, em primeiro lugar, o mundo é povoado de muitas espécies de seres (além dos humanos propriamente ditos) dotados de consciência e de cultura e, em segundo lugar, de que cada uma dessas espécies vê a si mesma e às demais espécies de modo bastante singular: cada uma se vê como humana, vendo todas as demais como não-humanas, isto é, como espécies de animais ou de espíritos.
Assim, por exemplo, as onças se vêem como gente, vendo ainda vários elementos de seu universo como se consistissem de objetos culturais: o sangue dos animais que matam é visto pelas onças como cerveja de mandioca etc. Em contrapartida, as onças não nos vêem, a nós humanos (que naturalmente nos vemos como humanos), como humanos, mas sim como animais de presa: porcos selvagens, por exemplo. É por isso que as onças nos atacam e devoram. Quanto aos porcos selvagens (isto é, aqueles seres que vemos como porcos selvagens), estes se também se vêem como humanos, vendo, por exemplo, as frutas silvestres que comem como se fossem plantas cultivadas -mas vêem a nós humanos como se fôssemos espíritos canibais (pois os caçamos e comemos).

Há vários desdobramentos e implicações desse complexo de idéias: por exemplo, que a forma corporal de cada espécie é uma roupa ou invólucro que oculta uma forma interna humanóide; ou, ainda, que os xamãs são os únicos indivíduos capazes de assumir o ponto de vista de mais de uma espécie além da sua própria; ou, ainda, que, dada a humanidade reflexiva de cada espécie, a caça e o consumo de carne animal são empresas metafisicamente problemáticas, jamais livres de conotações canibais. Tudo isso assenta em um pressuposto fundamental, o de que o fundo comum da humanidade e da animalidade não é, como para nós, a animalidade, mas a humanidade.

Os mitos indígenas descrevem uma situação originária onde todos os seres eram humanos, e a perda (relativa) dessa condição humana pelos seres que vieram a se tornar os animais de hoje. Ou seja, se para nós os humanos “foram” apenas animais e se tornaram humanos, para os índios os animais “foram” humanos e se tornaram animais.

Nós pensamos, é claro, que os humanos fomos animais e continuamos a sê-lo, por baixo da “roupa” sublimadora da civilização; os índios, em troca, pensam que os animais, tendo sido humanos como nós, continuam a sê-lo, por baixo de sua roupa animal. Por isso, a interação entre humanos propriamente ditos e as outras espécies animais é, do ponto de vista indígena, uma relação social, ou seja, uma relação entre sujeitos.

Entre as conseqüências filosóficas mais interessantes dessa doutrina perspectivista indígena está uma concepção das relações entre “Natureza” e “Cultura” radicalmente distinta daquela que vigora, em versões historicamente variáveis, na tradição ocidental, desde o par phusis/nomos da Grécia antiga ao par nature/société do Iluminismo."

sexta-feira, 20 de maio de 2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ensino Religioso: se aproxima a hora da verdade


Parece que comprei uma briga grande ao levar a público a denúncia de um pai de que uma escola municipal havia exibido o filme "Paixão de Cristo" (classificação indicativa: 14 anos) para crianças de 10 anos. O filme, ainda que seja fiel a história original, traz cenas de violência e tortura contra um personagem a qual 99% da população brasileira, tem identificação espontânea: Jesus Cristo. É uma boa receita de tortura psicológica. Em uma enquete que circulou na cidade, uma psicóloga responde; "É uma temeridade. Pois pode ajudar a banalizar a violência. Na cabeça das crianças, passa a significar que sofrer tais violências é normal." Um velho ditado romano diz que "a diferença entre o remédio e o veneno é a dose".

As educadoras da escola, que não convém aqui citar. Pediram que eu fizesse uma retratação. Ora, não pode haver retratação para algo que não é mentira. Isso de fato aconteceu. Ainda assim abri espaço para elas. Mas não quiseram se pronunciar. Queriam que eu falasse por elas. Não fiz nenhum julgamento de valor quando falei sobre a exibição do filme, exceto de que era inadequado para crianças daquela idade. Isto com base, não em uma opinião minha, mas na própria classificação indicativa do filme.

Muita gente, inclusive em casa e no meu local de trabalho não entendeu porque resisti firme na minha posição. Mas o fato, que já venho denunciando o problema da discriminação nas escolas por orientação religiosa. As vezes parte dos próprios alunos, mas há casos mais graves em que os próprios educadores embarcam nesta onda. Isso é um crime. e a LDB está aí para provar isso.

Mas valeu a pena comprar a briga, pois choveram manifestações de apoio ao meu posicionamento, partindo especialmente do meio espírita. Gente que já se sentia incomodado mas ainda estavam numas de "deixa-prá-lá". Os espíritas muitas vezes pela própria convicção religiosa, evitam o conflito, pois são treinados na tolerância e em suportar o preconceito.

Eu, por não pertencer a nenhuma instituição religiosa, me sinto totalmente à vontade para cobrar do poder público, o cumprimento da lei nestes casos.

Sei que mexi num vespeiro, por que até então cada um dava suas aulinhas de religião do jeito que bem entende, mesmo que esteja contribuindo para a formação de fanáticos e intolerantes no futuro. Educadores, por favor, não levem isso como "ofensa pessoal". Também não estou particularizando acusações contra ninguém.
Mas o fato é que o ensino religioso tem que ser repensado urgentemente em nossa cidade.

Não quero que meus filhos sejam discriminados na escola por serem espíritas ou por serem filhos de usuários de ayahuasca. O uso do chá já foi regulamentado em instâncias superiores, como o CONAD (Conselho Nacional Anti-Drogas) e não cabe a um professor fazer diferente em sala de aula, baseado em suas convicções pessoais. Muito menos atacar qualquer religião que seja, pois todas estão amparadas pela constituição brasileira.

Dirigentes da UDV já disseram que vão procurar as secretarias municipal e estadual de ensino para tratar do tema. Não queremos que nossos filhos entrem em conflito com as convicções religiosas de seus pais por uma orientação equivocada na escola.

Na imagem: Khrishna ensina ao príncipe Arjuna sobre as múltiplas personalidades de Deus. Extraído dos Vedas, livro sagrado dos Hindus.

Moções de Apoio


Leandro Altheman

Um paulista recém-chegado em CZS me perguntava porque permaneço em Cruzeiro do Sul mesmo após dez anos...

Naquela tarde minha motocicleta havia quebrado. Cansado, suado, nervoso, irritado por um dia estressante de trabalho e sabendo que chegaria em casa e provavelmente não haveria água para tomar banho.

Pessoas me pararam na rua. "Parabéns Leandro. Muito bem a matéria que você fez sobre o pagamento de diárias... é uma safadeza mesmo."
Um sujeito que nunca vi na vida parou sua motocicleta para me cumprimentar e assim foi o dia todo. Gente velha, nova, ricos, pobres e remediados, vieram me prestar solidariedade pela matéria que expôs a nú administração municipal, suas mazelas, desamandos, nepotismos...

A ironia feita ao vivo no programa Juruá Notícias pelo assessor de comunicação Neto Vitalino "somos mesmo o trenzinho da alegria, pois levamos alegria aos necessitados" , não chegou nem de longe a me afetar.

Sei separar muito bem a pessoa e o papel que ela cumpre. Amanhã ou depois, Neto Vitalino não vai ser mais o assessor da prefeitura e será mais um colega de imprensa. Acho que ele cumpre bem o papel dele. E eu o meu.

Mas só tenho mesmo a agradecer. De outro modo jamais saberia do apreço que graças a minha postura, gozo junto à população.

O sujeito que nunca havia visto, fez questão de me levar até em casa. Meus vizinhos também me cumprimentaram pela matéria.

Confidências de alcova costumam ser a mais sinceras. Sem compreender ao certo porque tantas pessoas me cumprimentavam, uma bela cruzeirense me disse "é por que você diz os que as pessoas tem vontade de falar, mas não podem. Elas se sentem "vingadas"".

E ainda me perguntam porque que eu fico em Cruzeiro do Sul !

Na foto o pôr-do-sol sobre CZS. Na minha opinião, um dos mais lindos que já vi. E olha que já rodei...


Trenzinho da Alegria


População reage com indignação à notícia de que prefeito Vagner Sales, vice e secretários aprovaram lei que permite ganhar diárias para viajar dentro do município.

“Não acho certo, por que ele já ganha pra isso. É sempre eles ganhando, e deixando o pobre pra trás”. A frase dita pelo agricultor aposentado Raimundo foi repetida pelo menos uma dezena de vezes por populares durante a enquete produzida pela equipe da Rádio TV Juruá sobre a lei que permite ao prefeito ganhar diárias para viajar dentro do município.

A Lei de autoria do executivo que autoriza prefeito, vice, secretários e servidores a receberem diárias foi publicada no Diário Oficial em 24 de dezembro de 2010 (véspera de Natal). No entanto, a maioria dos vereadores disse desconhecer a lei. A portaria 425/2010 que criou a diária para “viajar dentro do município” leva a assinatura do prefeito Vagner Sales.

A primeira reação veio da Câmara de Vereadores. Os vereadores Ribeiro(PTN), Paulo Soriano (PDT) e Edvaldo Gomes (PCdoB) pediram espaço no programa Juruá Notícias para prestar esclarecimentos. Eles fizeram uma defesa do trabalho do legislativo municipal e alegaram ter tomado conhecimento da lei a partir da reportagem. O vereador Paulo Soriano defende o estabelecimento de critérios para o pagamento de tais diárias. Já o vereador Edvaldo Gomes, disse que pretende derrubar a lei na câmara.

A lei que regulamenta o pagamento de diárias e que entrou em vigor em 1991 deixou uma brecha jurídica para que o executivo fizesse as alterações que julgasse necessário sem passar pelo legislativo. Assim, a mudança foi aprovada pelo Gabinete do Prefeito, incluindo as diárias para viagens dentro do município, sem passar pelo legislativo.

Nesta terça-feira, o espaço foi cedido ao prefeito Mazinho Santiago e ao assessor de comunicação Neto Vitalino. Mazinho afirmou categoricamente que apesar da aprovação da lei, as diárias nunca foram pagas.

Neto Vitalino ironizou a expressão “trenzinho da alegria” dizendo que as viagens do prefeito e comitiva ao interior trazem “alegria” aos necessitados.

Questionado pelo apresentador Rogério Venceslau sobre o nepotismo (contração de parentes) dentro da prefeitura e os processos de improbidade administrativa gerados por esta prática, o vice-prefeito Mazinho Santiago respondeu: “Não se segue nunca uma lei ao pé da letra.”

Com a palavra, o MP.

(Leandro Altheman)

Segue lei, abaixo:

MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL – ACRE

GABINETE DO PREFEITO

PORTARIA N° 425/2010, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2010.

93 Sexta-feira, 24 de dezembro de 2010 Nº 10.447 DIÁRIO OFICIA9L3

O PREFEITO MUNICIPAL DE CRUZEIRO DO SUL – ACRE, no uso das

atribuições que lhe confere o art. 64 da Lei Orgânica deste Município e

o art. 3° da Lei Municipal n° 043/1991.

RESOLVE:

I – Fixar novos valores para a TABELA DE DIÁRIAS do Poder Executivo

Municipal de Cruzeiro do Sul – Acre, modificando o Anexo I da Lei n°

043/91, de 13/12/1991, que passa a vigorar com os termos seguintes:

LEI N° 043/91.

ANEXO I.

BENEFICIÁRIOS NO MUNICÍPIO/ DENTRO DO ESTADO /FORA DO ESTADO

PREFEITO R$ 120,00 R$ 408,00 R$ 879,00

VICE-PREFEITO R$ 114,00 R$ 388,00 R$ 835,00

SECRETÁRIOS R$ 108,00 R$ 281,00 R$ 420,00

SERVIDORES

(NÍVEL SUPERIOR) R$ 102,00 R$ 267,00 R$ 400,00

DEMAIS SERVIDORES R$ 96,00 R$ 220,00 R$ 350,00

II – Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação com efeitos

a partir do primeiro dia útil do mês de janeiro do exercício de 2011.

III – Revogam-se às disposições em contrário, em especial a Portaria n°

010, de 29 de janeiro de 2009.

GABINETE DO PREFEITO MUNICIPAL DE CRUZEIRO DO SUL,

ESTADO DO ACRE, EM 23 DE DEZEMBRO DE 2010.

Registre-se.

Publique-se.

Vagner Sales

Prefeito Municipal

terça-feira, 10 de maio de 2011

Quem for contra o casamento gay... Não case com um gay!


Provoquei os mais veeementes protestos dos leitores evangélicos com a postagem no Jurua online. Uma pena que a maiuoria das pessoas parece não perder tempo para ler , somente escrevem em cima de impressões.

O fato é que sou contra o casamento gay. Por isso não caso com gay!

Em dez anos de jornalismo e quinze de xamanismo, aprendi uma coisa: opinião não é conhecimento. De que vale minha opinão pessoal diante do fato consumado de que devem existir pelo menos centenas destas uniões em todo Brasil.

A postagem é antes de tudo em defesa da separação entre Estado e Igreja. Alguns leitores vieram lá com os seus versículos para justificar a não-união entre pessoas do memso sexo.

Ora, é justamente sobre isso que venho falando: usar a bíblia como código civil não é muito diferente de usar o alcorão como constituição, que é o que acontece nos países fundamentalistas. Aliás, um pelo outro, eu prefiro o alcorão, que pelo menos permite um homem casar com quatro mulheres.

Em Brasília, o Deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) criticou a decisão do STF em reconhecer a legitimidade da união entre pessoas do mesmo sexo. Em Rio Branco, a voz de Bolsonaro encontrou eco no deputado estadual Astério Moreira (PRP), que demonstrou preocupação de que a nova lei pudesse ser usada para obrigar as igrejas a realizarem o casamento gay.”Sou contra o casamento gay por princípios bíblicos”, disse o parlamentar na tribuna.

Já o deputado Jamil Asfury (PSDB) foi mais moderado: “na verdade existe um direito civil que não tem como se negar. Mas pessoalmente tenho concepções religiosas e não tenho respaldo bíblico para admitir isso.”

Edvaldo Souza (PSDC), defendeu o estado laico e o direito civil: “o Estado brasileiro é laico e a opção sexual é de cada pessoa. Acho que o Estado brasileiro existe para defender todas as pessoas sejam elas heterossexuais ou homossexuais. Por isso, os homossexuais devem ter os seus direitos civis garantidos pela Constituição Brasileira, não vejo nenhuma aberração jurídica em se tratando dessa questão. Mas acho que tem que haver respeito pelos evangélicos, pelos católicos, pelos umbandistas e por todas as matizes religiosas”, argumentou.

Deixando de lado as preferências sexuais e concepção religiosa de cada um, vamos aos fatos:

1º - A união civil entre pessoas do mesmo sexo, apenas garante direitos civis para este tipo de união, chamada “homoafetiva”. Na prática, o Estado brasileiro apenas reconhece a legitimidade de direito, para um tipo de união que já existe de fato.

2º - A decisão do STF baseia-se claramente no princípio de separação entre Igreja e Estado, e o STF, de maneira muito clara e objetiva analisou a questão sob o prisma do Estado e não da Igreja. Cabe ao estado reconhecer o direito de seus cidadãos.

3º - O mesmo princípio de separação entre Igreja e Estado, a priori, impede qualquer tipo de ingerência do Estado sobre os assuntos da Igreja. Ou seja, o Estado brasileiro, jamais poderá obrigar qualquer igreja a realizar algo que vá de encontro aos seus princípios.

O episódio é mais um desafio para o estado laico brasileiro e se opõe frontalmente à tendência de as igrejas dominarem o debate político.

Pessoalmente, posso ser até contrário a este tipo de união, mas como defensor das liberdades individuais, jamais poderia aceitar que por razões religiosas e morais, pessoas nestas condições não tenham acesso à cidadania plena.

Tenho sido, por exemplo, um crítico contumaz do proselitismo homoafetivo nas novelas da rede Globo, mas isso não me impede de enxergar que a decisão do STF é a mais correta do ponto de vista jurídico: ou seja, de que direitos devem ser reconhecidos pelo Estado.

O que muitos parlamentares não vêem ou não querem ver, é que o mesmo Estado Laico, aquele que separa as razões de estado e igreja, é na verdade a única garantia de que as liberdades religiosas continuarão a serem respeitadas. Ou seja, se uma igreja, a partir da interpretação doutrinária de suas escrituras, entende que o homossexualismo é condenável, está no seu pleno direito de pregar contra esta prática, no seu âmbito religioso.

Em outras palavras, ao Estado cabe reconhecer direitos, e à Igreja cabe convencer seus fiéis a terem uma conduta condizente com sua base doutrinária. Cada qual no seu papel. Simples assim.

Deixar que razões religiosas interfiram nas políticas de estado, seria se aproximar perigosamente dos regimes fundamentalistas do oriente, onde a base legal é dada pelo Alcorão.

Por outro lado, permitir a ingerência do estado em questões religiosas, nos aproximaria de um regime chinês, onde as razões de estado sufocam as liberdades individuais e interferem no trabalho das igrejas, a ponto do governo nomear os sacerdotes.

Outra coisa: os pastores estão preocupados de que a PL 122 possa impedí-los legalmente de realizar pregações contra o homossexualismo. Me parece uma inverdade.

A PL 122 apenas altera o texto constitucional que criminaliza o preconceito contra raça, sexo e credo, acrescentando tb orientação sexual. Se fosse crime, já teria muito pastor preso por pregar contra o espiritismo, a umbanda, e o próprio catolicismo, não apenas dentro das igrejas, mas também no rádio e na televisão.


Aliás, todo ano, em época de novenário é amesma coisa: pastores pregando contra as procissões. Alguém uma vez respondeu judicialmente sobre isso?


Embora considere uma perda de tempo, usar o espaço sagrado de um templo para ficar falando mal de outras religiões, defendo o direito de que possam fazê-lo, afinal de conta, estão na casa deles e faz sentido que tentem convencer seus fiéis a terem um comportamento condizente com as escrituras.
Mas lembrem-se: o que serve para uns, pode não servir para outros. Isto é democracia.