Há temas que são recorentes em novelas de marinharia. Tempestades, Criaturas monstruosas, sereias encantadoras e perigosas e é claro: A Ilha dos Amores, que surge como recompensa para os perigos enfrentados.
Camões dedicou um episódio inteiro a este tema que já aparece em romances muito anteriores como na própria Odisséia de Homero. É fácil entender que os marinheiros passando por perigos e sofrendo delírios e distorções de percepção comuns a quem passa muito tempo embarcado, também criassem esta quimera de que encontrariam em algum lugar paradisíaco, ninfas ardendo de desejo que lhe proporcionariam a satisfação de seus prazeres. Ulisses encontra a ilha da bela Calipso (sim, é dela que sai o nome deste ritmo musical tão popular na região amazônica). Para os marinheiros de Vasco da Gama este encontro foi ditoso, com os marinheiros se deliciando com as belas, enquanto o próprio Vasco da Gama recebe de sua musa, a orientação segura para navegar.
Há também ao menos um episódio real em que a vida realmente imitou a arte. O Bounty, navio britânico comandando na base da chibata pelo capitão Bligth, acabou sogrendo um dos mais famosos motins da história da navegação, depois que os marinheiros foram recebidos como "todo amor" pelas belas nativas de uma ilha do pacífico sul, proximo onde hoje está o Taiti.
Enquanto marinheiro, não-embarcado, mas aquartelado, tive também um episódio de "Ilha dos Amores". Foi a noite da Festa das Enfermeiras, que hoje compartilho com os poucos, mas valiosos leitores deste blog.
Havia, na enseada vizinha à nossa unidade em Angra dos Reis, um famoso hotel que recebia convidados ilustres. De alguma maneira ficamos sabendo que naquela noite haveria uma "festa das enfermeiras" no referido hotel. Foi oi suficiente para aguçar a imaginação de nossas mentes pueris.
Naquele tempo, era um dos mais novos da minha turma. Com apenas 16 anos, de baixa estatura e com cara de doze, claro que a princípio a idéia era me deixar de fora dessa. Mas o fato é que apesar da tenra idade havia acumulado uma habilidade imprescidível para a "operação". Isto por que a saída para a Festa das Enfermeiras dependia de uma fuga noturna pelas matas que circulavam a unidade, incrustrada na Serra do Mar e um retorno de madrugada que não levantasse suspeitas. Mais do que isso, deveríamos passar literlamente pelas costas de um fuzileiro naval que cuidava da saída, o que significava andar à noite sem lanterna. Naquele tempo eu era o único na turma capaz de tal manobra.
Tendo realizado os preparativos, nos embrenhamos na mata, comigo à frente. Os outros totalmente cegos fizeram uma fila atrás de mim, cada um segurando na bitaca na calça do colega à frente. Lembro-me como se fosse hoje o coração querndo saltar à boca, enquanto despistávamos o fuzileiro e ganhavamos a mata. Em fila e quase totalmente cegos seguimos pelo estreito caminho pode cerca de meia hora até que pudessemos acender às lanternas. Caminhavamos em meio aos sons noturnos e misteriosos que preenchiam a floresta.
Com mais de meia hora de subida, começamos a descer, nos deparando com as primeiras casas de uma vila de pescadores.
Quando a Floresta se abriu deparei-me com uma cena que até hoje permanece viva em minha memória: acima de nós a Lua Cheia mais linda que já havia visto, à frente o mar prateado, a vila de pescadores com os barquinhos descançando no porto, a areia alvíssima e atrás de nós a floresta de onde ainda podíamos ouvir o som mdos pássaros noturnos. A cena, somada à sensação de liberdade que o momento proporcionava, ficaram cravados em minha memória e naquela noite em diante, soube que jamais suportaria viver sem liberdade, sem aventura, sem emoção.
Bem, e as enfermeiras?
Caminhamos por mais meia hora sobre a areia fofa. Descalços para evitar o barulhinho desagradável que ela fazia sob nossos sapatos. Finalmente chegamos á tal "festa".
Encontramos na verdade meia dúzia de enfermeiras idosas e embriagadas ao som de Maria Betânia. Tomamos um drink e demos meia volta, a maioria xingando o destino.
Eu não, pois naquela noite, a Lua, O Mar e a Floresta, haviam me bastado. Foram eles os melhores companheiros que se pode ter em uma jornada em busca de aventura e liberdade.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
A vida imitando a arte, ou os mitos.
ResponderExcluirLeandro, Leandro... é que vcs ficaram pouco tempo na festa e nem beberam o bastante. Duvido se depois de uma certa quantidade de álcool na mente a retina de vcs não revelaria a " beleza interior" daquelas musas e vcs vem ouviriam a música. Se sou eu,ainda na tenra idade , não perderia a viagem de jeito nenhum. O arrependimento só duraria no máximo até próximo fim de semana, hehehe...
ResponderExcluir