Diante da impossibilidade de se negar a evolução das espécies, teólogos agora se esforçam para encontrar evidências de uma inteligência superior dirigindo o processo da evolução. Contudo, o sistema proposto de "design inteligente" ao excluir o "acaso", exclui um princípio caro a muitas tradições: Caos Criativo.
Tenho acompanhado pela internet os crescentes debates entre "criacionistas" e "evolucionistas", especialmente nos EUA.
É incrível, para não dizer, ridículo, que a "nação mais importante do planeta" tenha posturas extremamente reacionárias, como no episódio que culminou com o ensino do criacionismo nas aulas de ciências. Um tamanho retrocesso que tem sido combatido por professores corajosos como o físico Dr. Neil de Grasse Tyson.
Acreditar piamente que o mundo possa ter sido criado em seis dias (como haveria contagem do primeiro dia, se o sol e a terra ainda não haviam sido criados), que a Terra tenha somente pouco mais de 4 mil anos (?) e que todas as atuais espécies de animais tenham sido colocados dentro da Arca de Noé, nos dias de hoje não é mais inocência é a pura estupidez mesmo. Estupidez, perigosa, até diria.
E nos EUA existem "doutores" que dedicam a vida a explicar por exemplo, por que os dinossauros não são citados na bíblia, ou porque os pobrezinhos foram excluídos do cruzeiro de 140 dias de Noé durante o dilúvio. Dilúvio que aliás, nunca foi universal, prova-nos a geologia.
Ensinar a Criação nas aulas de religião, é aceitável, tratá-la como científica nas escolas deveria ser considerado crime hediondo.
Design Inteligente
Em uma vertente mais moderada, teólogos-cientistas, em sua maioria estadunidenses, desenvolveram a teoria do "Design Inteligente". Eles aceitam am teoria da evolução, mas buscam evidências que possam provar que todas as mutações que culminaram no surgimento do homem tenham sido "dirigidas" por um Criador e não mero fruto do acaso como propõe Darwin.
Os seus defensores chegam a utilizar algorítimos matemáticos para determinar o grau de improbabilidade que poderia criar ao acaso, por exemplo, uma peça sofisticada como o olho.
No meu humilde entendimento, os defensores da teoria pecam por apegaram-se demasiadamente ao "deus do velho testamento" e não experimentar outros modelos de explicação, tentando traçar um paralelo com outras tradições.
Com isso, a idéia de um Criador acaba facilmente seduzida pela noção de um deus personalista, intrinsecamente Bom e instaurador da Ordem.
Sobre este tema, hpá um vídeo engraçadíssimo em que Deus e o Diabo fazem apostas sobre o resultado da criação. Esta foi a forma maliciosa que os detratores do conceito de design inteligente encontraram para explicar a grande quantidade de "caos" que é encontrado no nosso universo. O Diabo seria a figura que introduz o "Caos" no sistema.
Assita ao vídeo legendado "Altas Apostas" e ria muito.
Nesta linha de raciocínio, mais uma vez o físico Neil De Grasse explica de maneira brilhante, a predominância do caos e da desordem no nosso universo, na palestra que ele chama de "Design Estúpido".
O Caos Criador
É justamente por esta razão que "pecam" os defensores do "Design Inteligente", por imaginar um deus, pessoal, bondoso e ordeiro, como as ovelhas do seu rebanho.
Outras tradições, contudo, tratam o tema de maneira mais sóbria e no meu ponto de vista, mais realista.
Os Hindus por exemplo explicam a Criação como um fenômeno inintelígivel, inalcançavel pela mente humana, mas sugerem idéias fascinantes como a realidade ser produto do "Sonho de Brahma"(O Deus Criador na tradição Hindu). Ao invés de simplesmente darem explicações ao estilo conto de fadas a tradição dos Yogues convida a explorar o tema com a propria consciênvcia através da meditação. E alertam: a mente criadora é LOUCA, para os nossos parâmetros humanos. A noção de alguns meditativos, inclusive, é a de que vivemos não em um universo criado, mas CRIANDO. Ou seja, o processo de criação é praticamente infinito, sujeito ao que eles chama de "respiração de Brahma". O ateu Carl Sagan se utilizou da metófora hindu para explicar o efeito de expansão e contração do universo. A tradição dos índios Yaqui, a qual pertenceu Dom Juan, Mestre de Carlos Castañeda, explica que o Universo compreensível ao homem é apenas uma parte de emanações luminosas de uma fonte que é totalmente incognoscível. E também trata desta possibilidade de que a realidade não é algo pronto, mas em constante criação.
Entre as tradições Africanas, o mito da criação é particularmente interessante. Olorumaré, é o Criador Supremo, inalcansável e incognoscível. Olodumaré cria Seres Divinos e delega a eles a missão de continuar a missão de co-criação da vida. Oxalá (Deus do Céu, o Bem Supremo, conceito que mais se assemelha a visão do Deus Cristão) é incumbido do cargo, mas tem dificuldades e não consegue ir muito adiante. Para que tenha sucesso na tarefa, Olurumaré designa o Exu, arquétipo do caos, da contradição e também da realização.
Na Mitologia Nórdica também há espaço para o seu "Deus do Caos". O ardiloso Loki, retratado muitas vezes de maneira caricatural, tem nos contos originais, importancia e respeito como "senhor do fogo"(há um paralelismo também com o mito grego de Prometeu, o desafiador dos deuses)
Em outras palavras significa dizer que o aspecto aparentemente "caótico" da realidade, é assim como Loki, tão perigoso e necessário quanto o próprio fogo.
Algumas narrativas tratam-no não como a um vilão, mas como aquele que cria e inventa saídas onde parece não mais haver.
Não é de admirar que ambas figuras mitológicas tenham sido demonizadas para ocuparem o lugar do "diabo" cristão.
Por tal explanação podemos intuir o quanto significou para a psiqué humana a amputação maniqueísta que sofremos desde cedo em uma cultura que por não compreender muito bem
o papel do "caos incompreensível" opta, por satanizá-lo.
Recuperar o valor do "caos criativo" pode significar entre outras coisas, encontrar portas e caminhos aonde parece não havê-los.
terça-feira, 27 de março de 2012
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