sexta-feira, 16 de março de 2012

Paquistaneses em Cruzeiro do Sul

Recebemos a visita de dois paquistaneses aqui na Rádio e TV Juruá. Com seus trajes típicos chamaram a atenção dos funcionários que olhavam supresos para suas vestes.

Conversei com eles com meu sofrível inglês. Foram bastante simpáticos e aparentemente o objetivo de sua viagem é divulgar o Islã e buscar adeptos.

Demonstraram interesse em procurar em Cruzeiro do Sul, famílias descendentes de sírios e libaneses, aparentemente porque talvez acreditem que estes seriam mais propícios a abraçarem o Alcorão.

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Um pequeno parêntese. Puxando pela memória, lembro-me que conheci sim, um islâmico "cruzeirense": na verdade o libanês sr. Ibrahim Murad.

Conversei pouco com ele. Uma das poucas coisas de que me lembro foi de que disse que os filhos por serem do mesmo sangue do pai, teriam para o islâmico, um valor maior do que suas esposas.

Falou também que em seu país natal, O Líbano, havia uma comunidade radical cristã, os drusos.

Na verdade os drusos parecem ser uma comunidade religiosa que prega uma espécie de mescla entre islamismo, cristianismo, gnose e filosofia grega.

Mas o que não esqueço mesmo era do carneiro que seu Ibrahim fazia assado...

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Bem, voltando aos paquistaneses, elss pediram licença para utilizar o banheiro da rádio para as "abluções". Trata-se do procedimento islâmico de lavar as mãos e o rosto antes da oração.

São cinco orações diárias, todas no mesmo horário e voltadas para Meca.

Logo em seguida sacaram uma bússola, que indica a localização aproximada de Meca.

Estenderam um tapete no chão e fizeram a sua oração, que durou cerca de 2 minutos.

Já li muita coisa sobre o islamismo até porque é um fenômeno religioso que tem implicações importantíssimas tanto para a história da humanidade, quanto na atualidade.Ainda assim foi pela primeira vez que ouvi da boca de um islâmico os pontos fundamentais de sua religião.

Um deles é que o islamismo é um monoteísmo puro,que não permite, por exemplo, a idéia de trindade.

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Monoteísmo

Mais um parêntese. Eles não fizeram quaisquer menções depreciativas ao cristianismo. mas tive a impressão de que perto do monoteísmo islâmico, o cristianismo não parece assim tão monoteísta. Afinal de conta, prega-se uma trindade, e a idéia de um filho de deus que ressuscita deve lhes parecer bastante estranha e supersticiosa.

Ainda assim, as referências à Jesus e à Virgem Maria no Alcorão são sempre respeitosas. Seus nomes, assim como como de todos os profetas vem acompanhado da exortação: "Que Deus esteja com ele", que é o mesmo sinal de respeito destinado a Maomé.

Idolatria

Sobre a "idolatria" os islâmicos também são severamente muito mais rigorosos que os cristãos. Entre os cristãos o uso de imagens tornou-se corriqueiro por diversos aspectos históricos e culturais na Europa, entre eles o analfabetismo na Idade Média, que praticamente obrigou o uso de imagens nas igrejas para que pudessem ser assim "lidas" pela população.

Mesmo os evangélicos se viram como podem, retratando cenas do Velho Testamento ou adotando símbolos judaicos.

Os islâmicos são em tese proibidos de retratar até mesmo o corpo humano, animais e plantas, pois segundo sua interpretação isto seria uma tentativa do homem de imitar à Deus.

A solução foi decorar as mesquitas com os chamadas "arabescos" versos do Alcorão em caligrafia requintada que somados à figuras geométricas criam um efeito visual estupendo.

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Falaram-me sobre um conceito do islamismo que achei especialmente poético: disseram que Alá fez as almas todas em um único momento e que na hora da oração, em que todos os muçulmanos fazem ao mesmo tempo no mundo todo, é possível todas as almas se reconhecerem como irmãos.

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Fiz questão de dizer-les que ainda que não seja um islâmico, respeito a sua religião e cultura.

Disseram que deveria tornar-me islâmico. Algo muito improvável.

Estou muita mais para o politeísmo hindu, ou para o panteísmo druídico , do que para o monoteísmo de qualquer uma das religiões abrâamicas.

Ainda assim, sendo um admirador da humanidade e da diversidade cultural e religiosa do nosso planeta, é impossível não reconhecer a verdade de sua fé e a beleza de sua tradição.

No momento da oração, senti de fato, algo muito forte. É indescritível, mas senti meu coração de fato, tocado no momento da oração.

Uma amiga minha que esteve na Turquia observou que no momento em que o Imã faz o chamado à Mesquita até os cães param de latir.

"Lá onde a terra pouco verdeia, para não se perder na areia, tem sempre a luz da candeia, do archote de Maomé"

Alabé de Jerusalém

Gostaria que os cristãos de seu país também tivessem o mesmo tratamento. Ainda que eu considere temerário atacar em um país de maioria islâmica, quaisquer um dos pilares fundamentais do Islã, sou sobretudo, um defensor da liberdade religiosa e de expressão.

Existem dois casos de ampla divulgação nas redes sociais de perseguição aos cristãos. Um deles é o pastor iraniano Youcef Nadarkhani, que está sendo julgado, não exatamente por ser cristão, mas por ter proibido seus filhos de estudarem o Alcorão. Em um Estado Teocrático como o Irã, a "blasfêmia" equivale à crime contra o estado.

No Paquistão a cristã católica Asia Bibi está sendo julgada por ter dito "Maomé está morto, Jesus está vivo" -frase de efeito bastante provocativa em um país de maioria islâmica, o que para mim, como humanista, não justifica a condenação. Um ministro cristão do governo de Islamabad tenta reverter a pena, mas Asia sofre ainda o risco de ser morta por grupos radicais. A "blasfêmia" é um crime previsto em lei desde 1986, período em que o regime passou a ser fortemente influenciado pelo fundamentalismo.

É preciso saber separar islamismo, de fundamentalismo. historicamente o islamismo foi mais tolerante que o cristianismo. Quando no ocidente, os cristãos queimavam livros gregos de filosofia, astronomia e matemática, os islâmicos o traduziam. Se hoje conhecemos as obras de Sócrates, Platão e Aristóteles agradeça aos islâmicos, especialmente os do Califado de Córdoba que o reintroduziram no ocidente. Na idade média, os médicos islâmicos faziam cirurgias complicadas para a época, enquanto os cristãos ainda estavam na base "expulsar demônios".

O fundamentalismo é um fenômeno moderno. Datado da década de 70, surgiu como uma resposta, uma reação aos regimes onde o petróleo alimentava o luxo de uma minoria de privilegiados que além de legarem a maioria da população a uma condição de miséria, praticavam uma total inobservância dos preceitos da tradição islâmica.

Reação também à crescente influência econômica e militar dos EUA no Oriente Médio, tendo como principal títere, o Estado de Israel.

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Penso que a humanidade faria muito melhor se ao invés de tentar "ganhar" almas, buscasse os pontos essenciais de todas as religiões: o amor ao próximo. Conceito que está presente em todas as religiões e tradições do planeta.

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Na verdade o Paquistão não é um país árabe. Sua formação histórica e étnica está totalmente ligada à Índia. Quando ocorreu a independência da Índia, a região de maioria islâmica acabou se transformando em um novo país, o Paquistão. Os dois países disputam a posse da região da Cachemira.

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