Escrevo esse texto após muita relutância. Não tenho nenhuma satisfação
em dirigir críticas à candidata Marina Silva, e se o faço, não é por
desrespeito à própria, mas muito mais pelo respeito aos seus eleitores e simpatizantes,
entre os quais eu próprio me identifico.
Antes, faça-se a ressalva que continuo
a admirar e respeitar a figura púbica de Marina Silva, bem como de considerá-la
uma das pessoas mais capacitadas do país em temas contemporâneos como sustentabilidade,
mudanças climáticas, matriz energética e outras. Marina ainda é uma das raras figuras
políticas do país que enxerga potencial civilizatório na diversidade
bio-cultural do Brasil, e só por essa razão, já deveria estar à frente de um
programa de governo.
Absolutamente repudio a desconstrução de sua imagem, tal qual foi feita pelo PT em 2014. Marina segue sendo muio melhor de que a maioria que a critica.
Contudo, como ex-eleitor me sinto no dever de apontar as
razões pela qual não o farei, ao menos nesse ano. O desconforto inicia quando a
mesma passa a adotar um discurso juriquista como ‘solução’ para o Brasil. Ora,
é preciso ter coragem e encarar, e encarnar o projeto que representa. O ‘juriquismo
lava-jatino’ de Marina é um aceno para um perfil de eleitor de classe média que
já a abandonou há pelo menos três anos. É uma proposta que se constrói pelo negativo: 'não sou corrupta'. Sim, mas e daí, quer saber o eleitor.
Esse perfil de eleitor hoje segue e firme forte
com Bolsonaro, e não está nem um pouco preocupado se ele contrata uma vendedora de açaí para seu gabinete ou se usa dinheiro do auxilio moradia para 'comer gente'. Marina ou sua equipe parecem não ter percebido isso, ou perceberam tarde demais.
Marina ter um lugar cativo no coração de muita gente, mas seus
atos demonstram que ela não quer ocupar esse lugar. Seu eleitor de perfil
progressista é hoje um órfão que enxerga em Marina, a mãe que ela não quer ser.
Marina tem conseguido a proeza de cair na preferência do
eleitorado ao mesmo tempo em que aumenta sua rejeição. De segundo lugar nas
pesquisas, hoje está em quarto e terá de se esforçar para não cair abaixo dos
6% de intenções de voto que hoje possui.
Isso tudo é muito lamentável na verdade. Marina representa
um ideal de Brasil contemporâneo, mas ela própria não foi capaz de fazer disso
um sentimento. Quem perde não é ela, é uma ideia de Brasil.
Nem tudo é culpa dela, é verdade. As circunstâncias não ajudam.
Mas o fato é que Marina adotou um perfil político que se
opõe ao perfil de seus eleitores mais fiéis.
Gostaríamos nós, eleitores de Marina, que ela fosse uma daimista
ou ayahuasqueira, que fizesse yoga, que brincasse o mariri na aldeia, que se
pintasse de jenipapo, que dançasse com as bruxas à luz do fogo. Mas Marina não
é nada disso. Marina é na verdade uma calvinista cinzenta que manda esconder a
carranca do São Francisco por que é ‘coisa do diabo’. Precisamos encarar essa
realidade. E tentar tecer, em nosso meio, uma proposta política em que essas
possibilidades civilizatórias estejam contempladas.
Tenho dito que a noção de sustentabilidade deve ser defendida
dentro de um programa nacional de desenvolvimento, e não fora dele. Mas isso é
tema para outra conversa.
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