O episódio Paulo Guedes revelou para o país, um aspecto da
campanha de Bolsonaro que para muitos já era evidente: falta comando em sua
campanha.
Tendo em vista que parte significativa de seus eleitores
busca justamente em sua candidatura um sentido de ordem e disciplina, é
importante pontuar, que são justamente nestes aspectos onde Bolsonaro é mais fraco.
Que não existe um programa claro de governo, é lugar comum,
mas o que vemos agora é que não existe tampouco uma cadeia de comando de decisões e que
as mesmas estão sujeitas a avanços e recuos ao sabor dos ventos.
A
escalada/desescalada de Mourão é outro exemplo. Como não existe um programa mínimo
pactuado internamente, as decisões dependem inteiramente do desejo imediato de
Bolsonaro e de seu carisma pessoal. Não é preciso argumentar muito para provar
que isto é receita certa para o fracasso.
Associado muitas vezes à Trump, faltaria a Bolsonaro o
essencial para ser ao menos assemelhado ao governo Trump: uma proposta econômica minimamente
clara. Trump adota um modelo que é protecionista, ou seja, taxa produtos
importados como forma de preservar a capacidade de concorrência da indústria dos
EUA. Em que pese todo retrocesso que significa o governo Trump, medidas como
essa tendem a surtir efeito positivo na geração interna de emprego, ao menos em
determinado período.
Esse modelo contudo, é o oposto ao liberalismo defendido por
Paulo Guedes. Para gerar um efeito de recuperação do emprego, no Brasil, as
medidas tem de ser outras, mas precisaríamos crescer em setores estratégicos,
precisamos reverter a desindustrialização e conseguir transferência de tecnologia
para produzir, ao menos uma fatia maior, dos bens de que hoje consumimos. O
modelo Paulo Guedes irá acentuar nossos problemas mais graves: desindustrialização,
desemprego, concentração de renda.
Tudo isso, quem tem um pouco de noção já sabe. O que ficou
evidente contudo, é o grau de desorganização interna da campanha de Bolsonaro:
num primeiro momento Paulo Guedes tem a ‘carta branca’ para dirigir a economia,
mas bastou se pronunciar para que fosse desautorizado em sua fala. Bolsonaro
precisaria saber o mínimo de economia, até para dar ordem em Paulo Guedes.
Aqui, do lado de fora do quartel, a autoridade não é dada por patentes, mas é algo que se constrói ou com conhecimento técnico-científico dos temas, ou com legitimidade popular.
Aqui, do lado de fora do quartel, a autoridade não é dada por patentes, mas é algo que se constrói ou com conhecimento técnico-científico dos temas, ou com legitimidade popular.
A pequena frente partidária que apoia a campanha de
Bolsonaro é justamente a antítese do que desejam seus eleitores: uma farândola desordenada,
sem comando, ordem ou disciplina, sem estatuto ou regimento interno, cujo
sentido de autoridade tem muito de arte teatral e dramática e pouca eficácia
além do espetáculo.
Este não será o principal motivo de sua derrota. Mas será um deles. Isso já parece tão auto-evidente entre seus apoiadores que desde já alegam 'fraude nas urnas' para justificar a 'fraquejada' que seu candidato está construindo.
Este não será o principal motivo de sua derrota. Mas será um deles. Isso já parece tão auto-evidente entre seus apoiadores que desde já alegam 'fraude nas urnas' para justificar a 'fraquejada' que seu candidato está construindo.
*Imagem: Cartaz do filme 'O Incrível Exército Brancaleone', simboliza a desordem e a falta de disciplina e de metas claras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário