A pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (19/03)
aponta que cresceram as intenções do voto na acreana Marina Silva (Rede). Se as
eleições fossem hoje, Marina venceria as eleições nos quatro cenários possíveis,
independente de qual seja o candidato do PSDB. Na mesma pesquisa, Lula, ficaria
em segundo ou terceiro lugar dependendo do cenário. A conclusão possível é de
que Marina tornou-se o nome mais forte para disputar a eleição contra os
tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Mesmo em uma improvável
eleição em que os três candidatos tucanos viessem a disputar, ainda assim,
Marina levaria vantagem sobre os mesmos, segundo a pesquisa.
Há muita água para rolar debaixo da ponte, mas é certo que
Marina deverá ser novamente o alvo do PT nos próximos dias.
Uma avaliação possível é de é preferível ao PT, perder as
eleições para os tucanos e entregar a presidência, do que ver Marina Silva à
frente dela.
Tamanha prevenção só se explica pelo que Marina pode vir a
significar, caso vença as eleições. Ela, que já é hoje, uma referência
internacional nas questões climáticas e ambientais, poderia tornar-se ainda uma
figura de tal importância a ponto de ofuscar o lugar que hoje Lula ocupa como o
presidente que ‘venceu a fome no Brasil’.
Marina já vem sendo criticada por suas posições por vezes tíbias,
por vezes moderadas demais, mesmo quando o assunto é a sua praia: as questões
ambientais. Um exemplo comumente lembrado é o da tragédia envolvendo a Samarco
em Mariana. Não é verdade. Marina escreveu sobre o assunto nos espaços em que
lhe foi permitido. Ainda assim, não há nela, aquela postura militante,
indignada, que muitos poderiam esperar em um caso do tamanho e da gravidade de
Mariana.
Mas também não é segredo que boa parte das razões que a
fizeram romper com Lula, Dilma e o PT, encontram-se justamente na sua relutância
em conceder as licenças ambientais para a construção das hidrelétricas de Jirau
e Santo Antônio.
Ao contrário do que afirmam muitos petistas, a saída de
Marina do PT não teve nada de ‘oportunista’ ou ‘personalista’. Há aí uma divergência
de concepção que é fundamental. Enquanto o governo desenvolvimentista de Dilma
Roussef aposta (ou apostava) no petróleo do pré-sal, aliado ás hidrelétricas na
Amazônia como principal alavanca para o desenvolvimento, Marina faz uma aposta
mais utópica, do Brasil como ‘potência ambiental’, por enxergar o enorme
potencial do país na produção de energia solar e eólica, na sua biodiversidade,
nas suas florestas e rios. Há aí o risco da chamada ‘economia verde’ e de mercantilização
da natureza, já alertado por setores dos movimentos indigenista e ambiental. Mas
é inegável que seria um passo à frente no país que baseia sua economia nas
frágeis comodities.
Ainda que boa parte da população e da classe política
enxergue as questões ambientais como um tema transverso, periférico, a
decantada produção de soja do país pode ser abalada caso venhamos a ter um
agravamento das crises hídricas e climáticas. O mesmo pode ser aplicado à
produção hidrelétrica, totalmente sujeita ao regime de águas dos rios, e portanto,
às florestas.
Uma mudança na matriz de produção energética do país, tal
como propõe Marina implicariam entre
outras coisas, em um investimento massivo em ciência e tecnologia, relegado a
um plano pífio durante o governo Dilma. Outra consequência indireta, poderia
vir a ser um reaquecimento e realinhamento da economia para atender a esta nova
demanda.
Algo que certamente assusta as empreiteiras e partidos
políticos que hoje dependem de grandes obras para financiarem suas campanhas e conseguirem
as benesses do poder público, num circulo vicioso que só deve parar quando não
existir mais nada a ser devorado por essa aliança espúria.
Marina é igualmente criticada por estar sempre ‘à sombra’
dos grandes debates nacionais, o que denotaria ‘oportunismo’ segundo seus
críticos.
Pois é justamente este ‘estar às sombras’ que melhor explique
o seu crescimento político.
Marina sabe que para vencer a disputa presidencial de 2018 (e
eventualmente antes disso, caso vença a tese da cassação da chapa Dilma-Temer
no TSE, defendida pela REDE e pelo PSOL) deverá cativar eleitores hoje
identificados tanto com a esquerda quanto com a direita. Qualquer posicionamento
mais incisivo, irá fatalmente reduzir o eleitorado de que necessita para
tonar-se uma candidatura viável.
A acreana não vai entrar num campo minado, onde não detém
nem o poder da mídia, nem o da militância. Seria esmagada e despedaçada em
poucas semanas, como o que ocorreu nas eleições de 2014.
Há uma analogia poética possível deste ‘crescer às sombras’,
não com os ‘urupês’ – cogumelos que crescem em paus podres, usados como metáfora
por Monteiro Lobato para descrever os caipiras do interior do Brasil, mas com a
rainha, ou chacrona, arbusto utilizado na preparação do daime, que apesar de
ser a responsável pela ‘luz’ das mirações, deve crescer às sombras.
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