segunda-feira, 21 de março de 2016

Marina cresce na Sombra

pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (19/03) aponta que cresceram as intenções do voto na acreana Marina Silva (Rede). Se as eleições fossem hoje, Marina venceria as eleições nos quatro cenários possíveis, independente de qual seja o candidato do PSDB. Na mesma pesquisa, Lula, ficaria em segundo ou terceiro lugar dependendo do cenário. A conclusão possível é de que Marina tornou-se o nome mais forte para disputar a eleição contra os tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Mesmo em uma improvável eleição em que os três candidatos tucanos viessem a disputar, ainda assim, Marina levaria vantagem sobre os mesmos, segundo a pesquisa.


Há muita água para rolar debaixo da ponte, mas é certo que Marina deverá ser novamente o alvo do PT nos próximos dias.

Uma avaliação possível é de é preferível ao PT, perder as eleições para os tucanos e entregar a presidência, do que ver Marina Silva à frente dela.

Tamanha prevenção só se explica pelo que Marina pode vir a significar, caso vença as eleições. Ela, que já é hoje, uma referência internacional nas questões climáticas e ambientais, poderia tornar-se ainda uma figura de tal importância a ponto de ofuscar o lugar que hoje Lula ocupa como o presidente que ‘venceu a fome no Brasil’.

Marina já vem sendo criticada por suas posições por vezes tíbias, por vezes moderadas demais, mesmo quando o assunto é a sua praia: as questões ambientais. Um exemplo comumente lembrado é o da tragédia envolvendo a Samarco em Mariana. Não é verdade. Marina escreveu sobre o assunto nos espaços em que lhe foi permitido. Ainda assim, não há nela, aquela postura militante, indignada, que muitos poderiam esperar em um caso do tamanho e da gravidade de Mariana.

Mas também não é segredo que boa parte das razões que a fizeram romper com Lula, Dilma e o PT, encontram-se justamente na sua relutância em conceder as licenças ambientais para a construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio.

Ao contrário do que afirmam muitos petistas, a saída de Marina do PT não teve nada de ‘oportunista’ ou ‘personalista’. Há aí uma divergência de concepção que é fundamental. Enquanto o governo desenvolvimentista de Dilma Roussef aposta (ou apostava) no petróleo do pré-sal, aliado ás hidrelétricas na Amazônia como principal alavanca para o desenvolvimento, Marina faz uma aposta mais utópica, do Brasil como ‘potência ambiental’, por enxergar o enorme potencial do país na produção de energia solar e eólica, na sua biodiversidade, nas suas florestas e rios. Há aí o risco da chamada ‘economia verde’ e de mercantilização da natureza, já alertado por setores dos movimentos indigenista e ambiental. Mas é inegável que seria um passo à frente no país que baseia sua economia nas frágeis comodities.

Ainda que boa parte da população e da classe política enxergue as questões ambientais como um tema transverso, periférico, a decantada produção de soja do país pode ser abalada caso venhamos a ter um agravamento das crises hídricas e climáticas. O mesmo pode ser aplicado à produção hidrelétrica, totalmente sujeita ao regime de águas dos rios, e portanto, às florestas.

Uma mudança na matriz de produção energética do país, tal como propõe Marina  implicariam entre outras coisas, em um investimento massivo em ciência e tecnologia, relegado a um plano pífio durante o governo Dilma. Outra consequência indireta, poderia vir a ser um reaquecimento e realinhamento da economia para atender a esta nova demanda.
Algo que certamente assusta as empreiteiras e partidos políticos que hoje dependem de grandes obras para financiarem suas campanhas e conseguirem as benesses do poder público, num circulo vicioso que só deve parar quando não existir mais nada a ser devorado por essa aliança espúria.
Marina é igualmente criticada por estar sempre ‘à sombra’ dos grandes debates nacionais, o que denotaria ‘oportunismo’ segundo seus críticos.
Pois é justamente este ‘estar às sombras’ que melhor explique o seu crescimento político.  
Marina sabe que para vencer a disputa presidencial de 2018 (e eventualmente antes disso, caso vença a tese da cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, defendida pela REDE e pelo PSOL) deverá cativar eleitores hoje identificados tanto com a esquerda quanto com a direita. Qualquer posicionamento mais incisivo, irá fatalmente reduzir o eleitorado de que necessita para tonar-se uma candidatura viável.
A acreana não vai entrar num campo minado, onde não detém nem o poder da mídia, nem o da militância. Seria esmagada e despedaçada em poucas semanas, como o que ocorreu nas eleições de 2014.

Há uma analogia poética possível deste ‘crescer às sombras’, não com os ‘urupês’ – cogumelos que crescem em paus podres, usados como metáfora por Monteiro Lobato para descrever os caipiras do interior do Brasil, mas com a rainha, ou chacrona, arbusto utilizado na preparação do daime, que apesar de ser a responsável pela ‘luz’ das mirações, deve crescer às sombras.    


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