Uma amiga e colega jornalista acaba de me entrevistar para
um matéria, e talvez por deferência à minha pessoa, fez a gentileza de me
encaminhar o texto, dando-me liberdade para acrescentar ou tirar algo.
Lá na minha ficha de apresentação, a matéria trazia a informação
“jornalista paulista”...
Aquilo me soou mal. Pedi à colega que colocasse apenas “nasceu
em São Paulo”.
Parece a mesma coisa, mas não é. Acho que não basta nascer
em São Paulo para ser “paulista”.
Penso que para ser “paulista” é preciso praticar. É preciso
viver a constante da megalópole.
Parafraseando Euclides da Cunha, o paulista é antes de tudo,
um forte. Só algum tipo de força interior pode explicar como seus quase 20
milhões de habitantes suportam um dia-a-dia que me parece insuportável.
Eu não. Eu sou um fraco. Um trânsfuga que trocou a fumaça da
capital, pela brisa amazônica. Que trocou o congestionamento pelo embalo da
rede. Sou um covarde, é isso que eu sou.
Penso em mim como aqueles filhos de família católica que são batizados, catequisados, crismados, mas que nunca de fato acreditaram na ladainha do padre e que ao atingirem a idade adulta, atiram-se ao ateísmo de Marx, Nietzche, ou Sartre com uma avidez por assim dizer, fervorosa.
Este “fugitivo” deve lembrar o sabor da hóstia, o perfume do incenso, o tom monocórdico do sermão do padre, mas isso faz dele um “católico”?
Tenho por exemplo, uma amiga, que nasceu no nordeste, mas vive intensamente tudo de bom e de ruim que a vida em São Paulo oferece. É uma paulista praticante. Se eu decidisse voltar a viver em SP teria que pegar aulas com ela.
Muito mais paulistas do que eu são os bolivianos que agora ocupam o bairro decadente onde eu nasci, ou os nigerianos que andam pelo centro da cidade em busca de trabalho. Estes são os paulistas, não eu.
Penso em mim como aqueles filhos de família católica que são batizados, catequisados, crismados, mas que nunca de fato acreditaram na ladainha do padre e que ao atingirem a idade adulta, atiram-se ao ateísmo de Marx, Nietzche, ou Sartre com uma avidez por assim dizer, fervorosa.
Este “fugitivo” deve lembrar o sabor da hóstia, o perfume do incenso, o tom monocórdico do sermão do padre, mas isso faz dele um “católico”?
Como um paulista não-praticante ainda guardo a lembrança corporal do stress, do medo e da sensação de estar cercado por milhões de seres humanos, sem contudo viver plenamente a minha humanidade.
Por esta razão, só posso ter um respeito ainda maior por quem, além de sobreviver nesta selva, ainda luta para torná-la mais humana. Estes, vão além de serem paulistas praticantes. São verdadeiros sacerdotes.
Tenho por exemplo, uma amiga, que nasceu no nordeste, mas vive intensamente tudo de bom e de ruim que a vida em São Paulo oferece. É uma paulista praticante. Se eu decidisse voltar a viver em SP teria que pegar aulas com ela.
Muito mais paulistas do que eu são os bolivianos que agora ocupam o bairro decadente onde eu nasci, ou os nigerianos que andam pelo centro da cidade em busca de trabalho. Estes são os paulistas, não eu.
Eu apenas virei as costas e deixei tudo isso
para trás. Não mereço ser chamado de paulista.
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