Tenho notado uma imensa quantidade de ‘fake news’ rodando pela internet envolvendo diversos assuntos, desde política, conceitos históricos e também o movimento do Xamanismo Brasileiro, são pessoas que utilizam a internet (blogs, sites pessoais, etc.) criados estrategicamente por pessoas de diferentes seguimentos (grilheiros de terras, fazendeiros, políticos, polícia e também movimentos religiosos de evangelização) com um objetivo em comum, a criminalização dos rituais e das medicinas nativas. O ETNOCÍDIO (genocídio cultural) dos povos nativos.
Vira e mexe o assunto é Ayahuasca ou Rapé nessas “imprensas paralelas", tudo miticulosamente planejado. O meio de propagação dessas ‘falsas notícias’ é sempre pelas mesmas pessoas (ou de perfis parecidos), creio que pela projeção de suas sombras/demônios/
Não entrarei no mérito da última notícia em questão, pois para entender a profundidade do problema precisamos ESTUDAR A HISTÓRIA. O Brasil e as Américas não foram descobertos como contam os livros da escola, a coisa foi bem mais feia, os europeus chegaram com a cruz e a espada aqui, quem não aceitava a cruz recebia a espada. MUITOS povos indígenas foram levados à beira da extinção, na maioria dos casos, tribos inteiras foram CRUELMENTE ASSASSINADAS. Estamos falando do MAIOR GENOCÍDIO DA HISTÓRIA MODERNA.
Também não entrarei no mérito se ainda existe “Pajé” na Amazônia servindo a Mãe Natureza juntos as sagradas plantas que curam. O fato de termos diversos falastrões que se auto intitulam “Xamas” ou “Mestres” por aí (sejam ou não nativos) não exclui toda a beleza, poder e magia do caminho trilhado pelos(as) Txanas, Yuvehus, Xinayas, Mukayas , Tsimuyas, etc. Todo o meu respeito, gratidão e apoio!
Também não irei abordar a questão do ALTO POTENCIAL DE CURA das plantas de poder – Ayahuasca e Rapé – pois já existem décadas e mais décadas de estudos comprovando a eficácia das mesmas. Uma rápida pesquisa pela internet, com a mente aberta, é suficiente mesmo para aqueles que não tenham nenhum conhecimento a respeito.
O que gostaria de tratar é a delicada questão que está ocorrendo nesse exato momento dentro e fora das tribos, estão usando os próprios nativos agora evangelizados contra os próprios nativos, contra a própria cultura dos mesmos – como sempre foi – conforme relato de alguns txais que temos contato, existem no momento diversos grupos evangelizadores atuando dentro dessas tribos, vai lá saber o que estão aprontando...
Muito além disso existe a exclusão histórica dada aos nativos pelo próprio pessoal do movimento Ayahuasqueiro, conforme a antropóloga Bia Labate, durante os anos 80 e 90, durante o processo de regulamentação do uso da ayahuasca o debate público se deu unicamente em torno da ideia de que as religiões ayahuasqueiras (Santo Daime, UDV e Barquinha) tinham raízes amazônicas e representavam uma tradição de uso da ayahuasca no país. Com a imagem do indígena TOTALMENTE vaga, difusa ou apagada. Ambas as manifestações eram tidas como expressões autênticas, práticas que “deitavam raízes profundas”, ou pelo menos possuíam continuidade muito próxima com aquele que teria descoberto esta bebida sagrada de origem supostamente milenar. Isso permanece até hoje, porém inicia-se uma mudança no movimento...
Pra se ter uma ideia segundo pesquisas que andei realizando, a primeira cerimônia nos centros urbanos (fora das aldeias) que se tem notícia data de 2002 (desde as famosas CORRERIAS de 1900, onde os nativos foram proibidos de falar sua língua e praticar seus costumes), mas só por volta de 2010 a saída de alguns nativos começou a se tornar mais comum. Trata-se de um movimento que ainda está crescendo com o FORTE APOIO de diversos grupos NeoAyahuasqueiros (dissidências do Santo Daime, UDV e Barquinha), pois o propósito passa a estar fortemente ligado a experienciar a planta de poder (Ayahuasca/Rapé) dentro de um contexto natural/tradicional, ou melhor, “sem as influências judaico-cristãs”. A ênfase genérica recai sobre a ideia de que a cura é obtida a partir tão somente do consumo mágico-ritualístico da ayahuasca ou rapé (pajelança). É claro que existem muitas pessoas contra esse movimento, muito além de todos citados nesse texto, temos também algumas lideranças dos povos nativos que consideram que estão vendendo a tradição e/ou sendo vítimas da bio-pirataria, ou mesmo, por divergências políticas com outras tribos.
A mágica de tudo isso é que estamos vivendo um momento histórico do movimento das plantas de poder, da divulgação do conhecimento nativo, do poder de cura da Mãe Natureza. Não existe mais esse papo de estar em cima do muro, ou você está de um lado ou está do outro, ou você é parte da construção do movimento ou é parte da destruição do mesmo.
Fica a reflexão, de que lado você realmente está?
* Alan Montoya é músico e terapeuta neoxamânico
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