segunda-feira, 28 de julho de 2014

Amazônia: Território do Colonialismo e do Imperialismo Verde-Amarelo


Leandro Altheman

O simpósio promovido pela Fundação Maurício Grabóis durante o segundo dia da 66ª SBPC, em Rio Branco Acre debateu o tema do desenvolvimento na Amazônia sob diferentes pontos de vista. Participaram do simpósio Aldo Arantes, diretor-presidente do INMA;   Ênio Candotti presidente de honra da SBPC e Otávio Alves Velho, antropólogo e cientista político e social, ex-vice-presidente da SBPC.

Colonialismo 

Ênio Candotti foi crítico em relação aos megaprojetos de desenvolvimento na Amazônia. Para o cientista, a falta de pesquisa compromete o resultado. Citando mineração e hidrelétricas, Candotti questionou o fato de que estes projetos geram energia e riqueza para uma parte do país, sem que isso, contudo, se reflita em uma significativa melhora no IDH das populações regionais da Amazônia.
“Além da discussão sobre a real necessidade das hidrelétricas, existe uma relação entre poder central e periferia que são típicas de uma relação colonial. A Amazônia é tratada como fonte de matéria-prima para o desenvolvimento do resto do país.” 

BRICS

Aldo Arantes tratou do tema da cobiça internacional sobre a Amazônia e da necessidade de um projeto integrado de desenvolvimento que servisse como um elemento de defesa e permita aos brasileiros se apropriarem da riqueza. Aldo citou a carência em pesquisa como um dos obstáculos a serem vencidos. Outro obstáculo seria o capitalismo regional predatório do agronegócio, a quem ,segundo Aldo, não interessaria este desenvolvimento integrado.
Aldo defendeu a retomada do Programa Amazônia Sustentável, do Governo Lula, mas com metas mais claras. Para ele, o novo banco dos BRICS poderia financiar um projeto integrado de desenvolvimento na Amazônia, não apenas no Brasil, mas nos oito países que fazem parte da região.
“A SBPC poderia tomar a frente às negociações com o governo federal para isto”, sugeriu Aldo. 

O índio e a esquerda brasileira

O terceiro palestrante foi Otávio Guilherme Alves Velho, Cientista político e Antropólogo.
Otávio chamou a atenção para o fato de que a esquerda brasileira ainda não formulou uma base de pensamento consistente em que as questões indígena e ambiental estejam contempladas. Segundo o antropólogo, nos países vizinhos da América do Sul, há pensadores de esquerda que já avançaram mais nesta discussão e citou o sociólogo peruano Aníbal Quijano. Quijano é um crítico daquilo que chama de visão eurocêntrica da esquerda latino-americana.
“A existência do índio e da questão ambiental podem ter um caráter revolucionário nas bases do nosso pensamento. É um valor que nos obriga a mexer com a nossa visão e a nossa mentalidade.”
Em sua fala, Otávio ampliou o conceito tradicional de soberania, dizendo que o mesmo aplica-se aos direitos dos povos indígenas e tradicionais, em questões como a soberania alimentar, por exemplo.

Imperialismo Verde-Amarelo

O antropólogo chamou a atenção para aquilo que vem sendo chamado de “imperialismo verde-amarelo” em que empresas com base no Brasil reproduzem uma relação imperialista com países e povos da América Latina e da África.
“É preciso ter uma solidariedade com estes povos. Uma noção de solidariedade além da nacional.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário