Em entrevista no Programa Juruá Notícias, o professor José
de Arimatéia deu uma verdadeira aula sobre a importância da cultura afro no
Brasil.
Em Cruzeiro do Sul para organização do I Encontro de Cultura
Afro, José de Arimatéia, representante da CERNEGRO (CENTRO de Referência da
Cultura Afro no ACRE) e da Secretaria estadual de Direitos Humanos falou sobre
os objetivos do encontro.
“Nossa intensão é pegar as sementes do que existe de cultura
afro no Juruá e fortalecer.
Entendemos que a cultura afro tem que deixar de ser apenas folclore
e lembrar apenas nos dias 13 de maio e 20 de novembro. Queremos que esta
cultura seja constante, e isso tem que ser fomentado pelo poder público. Saúde e
educação, segurança e obras públicas são papel do estado, mas cultura também é um
preceito constitucional. Isso só é válido quando é local, não queremos importar
nada, por isso somos parceiros de entidades que já existem aqui.”
JN
- Hoje se fala muito da violência contra o negro. No Brasil,
os maiores índices de violência atinge principalmente jovens negros, moradores
das periferias. E a cultura negra também
sofre violência simbólica?
“Sim, até porque o dominado não conta sua historia.
O negro que veio escravizado dentro do navio era produto de
guerra. Ali haviam nobres, generais, médicos. Haviam cristãos inclusive, porque
cristãos foram sim escravizados. Na África foi construída a primeira catedral
cristã.
Julga-se que eram pessoas que não sabiam nada. Vieram para o
trabalho braçal. No entanto a cultura econômica brasileira veio naqueles navios
negreiros. O problema é pensar a cultura negra somente como folclore.
A criação de gado, por exemplo. Quem trouxe o sistema de criação
extensiva de gado foram os negros, já que na Europa, havia a criação intensiva,
em pequenos espaços.
Boi-bumbá, Sinhazinha, negrinho do pastoreio, são elementos que
estão no folclore, mas que vieram desta cultura econômica trazida da África. Desta
cultura afro de cuidar de gado.
O negro não veio aprender a cuidar do gado, ele veio ensinar.
O negro veio para o Brasil para trabalhar na mineração, mas ele não veio aprendera
tirar ouro, ele veio ensinar, porque já existia esta cultura da mineração na África.
A fundição brasileira, também veio de lá.
O negro não veio aprender, veio ensinar.
Mas quando se fala de negro, se pensa logo em feijoada,
capoeira e samba. Estes são elementos essenciais na nossa cultura, na África,
também tínhamos festas. Agora folclorizar e reduzir, isso é o problema. É não
entender a cultura brasileira e tirar dele elementos essenciais.
Saúde
Há dez anos o SUS veio falar de acolhimento. Na cultura
Banto, isso existe há dez mil anos. Porque algumas doenças não são somente do
corpo, mas da mente. Quando se chega numa casa de santo, num terreiro onde uma mãe
de santo, um pai de santo, vai fazer o papel de psicólogo, doutor, alguém que lhe
escuta. Muitas doenças de hoje, é só falta de alguém para te ouvir.
Ubuntu
Empoderamento é uma palavra nova, mas na cultura Banto o
conceito já existe. Vem através da palavra Ubuntu que significa “eu sou o que
eu sou porque nós somos”. Então você tem poder igual a mim. Tenho que dar para
você a mesma chance que eu dou pra mim. Quem dá importância dá poder.
O preconceito neste país é a redução. Reduzir o negro ao
canto à dança.
Muitos inventores foram negros*, mas isso não é interessante
dizer que este povo escravizado o negro contribui com algo mais do que a sua
força braçal
O negro até pouco tempo era retratado só do pescoço pra
baixo: futebol, samba e bunda.
Nós temos cabeça também, a contribuição negra é intelectual."
*Vale a pena conferir a lista de inventores negros no arquivo Geledés
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