Gente que havia participado do lançamento do ponto de cultura Yorenka Atame, em Marechal Thaumaturgo, passou pelo constrangimento de ver o seu rapé apreendido durante revista dos soldados do Exército Brasileiro na pista de pouso do município. Até mesmo indígenas tiveram seu rapé apreendido, ainda que o porte esse tipo de substância de uso cultural, lhes seja assegurado por lei.
Os soldados justificaram a apreensão por se tratar de “produto da fauna e da flora local” (sic). A explicação não convence. Feito a partir de tabaco (produzido ali mesmo em Marechal) e cinza de cascas de árvores, o rapé tem menos de “fauna e flora local” do que os cocares e brincos emplumados que passaram sem problema.
A implicância com um produto que até bem pouco tempo não era incomodado com os aeroportos pode ter relação com uma reportagem recentemente apresentada pela TV Gazeta, onde, legitimamente, se apresentam preocupações com o abuso do rapé e sua rápida popularização no meio urbano, incluindo aí, muitos jovens e adolescentes nas escolas.
Digo que a preocupação é legítima, já que ate mesmo os pajés alertam para os danos de um eventual abuso do rapé.
O problema é que nas instituições da nossa sociedade, as reações a um fenômeno cultural, acabam tendo um viés proibicionista e criminalizador, principalmente quando se tratam de produtos da ‘exótica’ Amazônia.
Não se vê, por exemplo, alguém defendendo a proibição de Nutela ou Coca Cola, que podem ser tão viciantes ou, no caso da Coca Cola, especialmente danosa à saúde.
No caso do rapé, kambô ou mesmo da ayahuasca, cada vez mais se faz necessária a circulação de informações claras a respeito. Uma sugestão é que lideranças do meio indígena venham a cada vez mais a público, fazer estes esclarecimentos. Mas pode ser necessário também realizar encontros entre indígenas e não-indígenas, já que o uso destas substâncias no meio urbano, é uma realidade.
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