Mesmo diante de seu 'Rei Nu', setores da imprensa ainda se esforçam para elogiar suas vestes, ao professar legitimidade à farsa que segundo a opinião corrente, transformou o Brasil em
uma ‘República das Bananas’: associação imediata com uma republiqueta onde as
regras do jogo são torcidas e distorcidas para se chegar ao resultado que afinal,
se queria desde o início, mas que, não sendo possível por meios legítimos
busca-se dar ao menos a aparência de legalidade.
Temer em seu Trono de bananas. Imagem: Mídia Ninja* |
A expressão tem origem na atuação da United Fruits Company,
corporação estadunidense que determinou a política local da maioria das
repúblicas centro-americanas durante o século XX.
Eram elas, afinal, as bananas, principal produto de
exportação, quem de fato importavam na política nacional destes países. A
democracia, nada mais que uma pantomima, destinada a dar a aparência de que
havia ali, o aval da vontade popular.
Em editorial deste dia 15 de maio do Jornal O Globo, repete
à exaustão a catilinária de que ‘o Brasil não é a Venezuela’, como uma contra
medida à imagem maculada do país no exterior com a suspeita de que tenha sido
vitima de um ‘golpe’.
Ainda que alguns meios de comunicação estrangeiros ainda se
ressalvem de utilizar a palavra ‘golpe’, a noção de que o processo todo foi uma
grande farsa está cada vez mais evidente.
O editorial tenta pregar a ideia de que a reação da imprensa
internacional tenha sido fruto de movimentos de bastidores daquilo que denomina
‘lulopetismo’.
Com a acusação, tenta se defender da triste sina que carrega
desde que foi criada para dar sustentação ao regime ditatorial militar
instaurado com o Golpe de 64.
A argumentação de que o processo transcorre na mais absoluta
normalidade institucional, tramitando por duas casas legislativas com o amparo do
STF pode até, para os mais incautos, servir de base para sedimentar a opinião
de que não há golpe algum.
Contudo, mesmo uma avaliação das mais superficiais, dá conta
do tamanho da farsa perpetrada justamente sob as barbas, togas e mandatos de
quem deveria resguardar não apenas a constituição, mas a essência da vontade
popular.
Pois bem, recordemos:
1-
Um processo de impeachmeant é instaurado contra
uma presidente eleita tendo como acusação as benditas ‘pedaladas fiscais’,
expediente comum utilizado por presidentes anteriores e repetido por dezenas de
governos estaduais, como o de SP, para citar um
2-
Mobilizações populares são estimuladas e
incentivadas pela mídia, tendo como motivação central a (justa) indignação popular
contra a corrupção. A imprensa, aí incluída as organizações Globo, ajudam a
construir a ideia de que o impeachmeant de Dilma, seria apenas o começo de uma ‘grande
limpeza’.
3-
O processo é conduzido por um presidente da
câmara sob graves acusações de enriquecimento ilícito, recebimento e
distribuição de propina entre outros parlamentares e lavagem de dinheiro através
de uma igreja evangélica. É réu no STF, que contudo o permite continuar todo o
processo, para logo em seguida ao impeachmeant, ter o mandato cassado
4-
Finalmente após a aprovação no senado, Dilma é
afastada e assume Michel Temer, já declarado inelegível por estar enquadrado na
ficha suja. Temer compõe o governo com o PSDB, partido derrotado nas eleições
anteriores. Entre eles estão ao menos sete investigados pela Lava Jato.
5-
Temer anuncia um plano de governo que prevê
cortes em programas sociais e uma política de austeridade que jamais seria
aprovada em referendo popular
6-
O PMDB tenta ‘garrotear’ a Operação Lava Jato,
levando a considerar, por exemplo, a anistia de Cunha, para evitar a sua
delação, ou mudar a lei de delações no congresso.
Não é preciso ser ‘lulopetista’ para
enxergar a grande ‘Ópera Bufa’ que se tornou o processo de imepachmeant.
A alegação de que toda esta farsa ocorre
justamente com tramites e ritos supostamente respeitados nas duas casas
legislativas e no judiciário, longe de conferir legitimidade ao processo, tão
somente denunciam o quão podres e carcomidas estão as instituições a ponto de permitir
tamanha ruptura institucional.
Fato é que, se nossa democracia permite que
esta ‘ruptura’ tendo as instituições preservadas, o mesmo não se pode dizer do
pacto representado pelo momento das eleições.
Nela, é facultada uma escolha. O eleitor
opta por um candidato, um partido, um programa de governo.
Vota-se inclusive, no conjunto, também em
um vice-presidente com atribuições constitucionais bastante claras, que certamente
não incluem a conspiração com o seu partido para comprometer a governabilidade
do governo pela qual foi eleito e implantar o programa político adversário.
Farsa.
Durante anos, a Rede Globo que vinham
anunciando à população ‘abram o olho, vejam quanta corrupção’, faz o movimento
contrário: ao defender a ‘legalidade’ da farsa, dizem com isso: -’podem fechar
os olhos, está tudo sob controle e absoluta normalidade democrática’.
Farsa
O editorial de ‘O Globo’ busca exaltar as
instituições brasileiras festejando como a prova definitiva de que ‘O Brasil
não é a Venezuela’. Repete-se ad nauseum os adjetivos ‘lulupetista’ e ‘bolivariano’,
como se fossem aplicáveis a meios de comunicação internacionais como
Whashington Post, New York Times, The Guardian, Liberation, Le Monde, El País.
Todos estes jornais, com maior ou menor
grau assumem o caráter de farsa do impeachmeant. Alguns claramente aplicam o
nome definitivo: ‘golpe’, mas mesmo os mais cautelosos apontam os desvios e vícios
do processo.
Certamente que não o Brasil não é a
Venezuela, já que aqui, comprovadamente as instituições: legislativo e
judiciário, não serviram aos interesses do executivo, o que não significa
dizê-los dignos de isenção.
A acintosa seletividade, denunciada desde o
início, primeiro pela imprensa declaradamente de esquerda, e agora pela
imprensa internacional, somente revela que nossas instituições tem claramente
servido a um projeto de poder que não por acaso, é o exato oposto daquele
referendado pela população nas últimas eleições.
O episódio servirá de ilustração para os
historiadores quando estes quiserem exemplificar de como um projeto neoliberal
falido, incapaz de vencer pela via eleitoral, volta do túmulo como um
morto-vivo por meio de uma ‘farsa’ institucional, que na prática trata-se de
uma eleição indireta para presidente.
Se isso não faz de nós uma ‘Venezuela’,
certamente nos aproxima de outros exemplos de ‘farsas’ e ‘manobras’ perpetradas
em outros países do continente, como Paraguai e Honduras, para citar dois
exemplos.
Uma nova classe de golpe, em que não se dispara
um único tiro, em que os militares não saem as ruas, mas que tão somente as
instituições que deveriam ser as guardiãs
da vontade popular, tornam-se sua algoz, usurpando para si um poder que não
lhes pertence por direito.
De nada irá adiantar que se repita 24 horas
por dia que ‘não houve golpe’. Podemos passar anos discutindo a semântica da
palavra ‘golpe’ cada qual defendendo um ponto de vista. O fato é que, houve uma
ruptura, um pacto foi quebrado, e as chances de que um governo sem legitimidade
possa a vir resgatá-lo são praticamente nulas.
A imprensa não irá lidar mais com a classe
média bestializada, mas com setores organizados, conscientes e agora libertos
de qualquer compromisso com a manutenção do governo.
Temer, o conspirador, irá herdar não
somente um país quebrado do ponto de vista fiscal, mas completamente cindido em
vários níveis.
Irá herdar uma República nascida da
promessa de uma era de combate à corrupção, mas que já inicia-se desmoralizada com
sete ministros investigados pela Lava Jato e manobras para diminuir o alcance
das investigações.
Quincas Borba, personagem imortal de Machado
de Assis traduzia sua filosofia particular, o ‘humanitismo’, na célebre frase ‘ao
vencedor, as batatas’ – como maneira de justificar todos os atos que levem à
vitória
Àqueles que procuram naturalizar o conjunto
de manobras e farsas, algumas sutis e outras nem tanto, para alterar por completo o
resultado das últimas eleições, fica o recado, prenhe de simbolismos, seja pela
herança que terão de uma República das Bananas, desmoralizada em sua essência,
seja pelo gesto familiar de quem não aceita as condições impostas de maneira arbitrária
e sorrateira:
Ao vencedor, as bananas.
* Não consegui identificar o autor da caricatura. A imagem foi publicada pelas páginas 'Mídia Ninja' e 'Jornalistas Livres'.
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