quinta-feira, 16 de julho de 2009

Cruzeiro do Sul nunca mais será a mesma!


Leandro Altheman


Gente carregando peixes nas embiricicas, embarcações que no inverno chegam até a porta das casas, oficinas que consertam barcos ao invés de automóveis. Pecualiaridades de um bairro que é a síntese das contradições que fazem o Vale do Juruá.

Há o aspecto que incomoda: tráfico de drogas, prostituição, venda de bebidas alcoólicas em bares para lá de suspeitos. Mas a Lagoa não é só isso. Certa vez descrevi a Lagoa como uma espécie de “faroeste” amazônico onde o deserto empoeirado do oeste americano é substituído pela lama da beira do rio. O cavalo, pela canoa, o Whisky pelo “Corote”, a Winchester, pelo terçado, e o “Can-can” pelo Forró.”

Estamos assistindo às últimas cenas de um filme perto de acabar.

Na rua da Castanhola também há muita dúvida. A certeza é de que os terrenos e imóveis serão imensamente valorizados, mas provavelmente não haverá mais lugar para o comércio varejista que hoje sobrevive da venda de “estiva” (sal, açucar, óleo, sabão, o básico) para agricultores e ribeirinhos que chegam em Cruzeiro do Sul através da Lagoa. Herança do sistema de aviação do tempo em que a borracha ainda era a economia da região.

A construção da ponte sobre o rio Juruá deve alterar para sempre o modo de vida destas pessoas. Claro que, a nostalgia não é argumento para que não se faça a ponte. Pelo contrário. Estamos assistindo ao início de uma nova era. Cruzeiro do Sul será lembrado em duas fases: antes e depois da ponte.

No bairro do Miritizal as expectativas são mais positivas. Entrar no segundo distrito de Cruzeiro do Sul é uma espécie de “túnel no tempo”. O isolamento do bairro ajudou a preservar alguns costumes que são lembrados pela população do tempo dos seringais. Nas margens do rio Juruá, casas bem cuidadas, terreiros limpos, sombra de árvores e as mulheres que lavam a roupa nas praias como faziam as suas avós.

É possível até que muito disso permaneça mesmo depois da ponte, a menos que a especulação imobiliária faça as famílias se retirarem para outras áreas do bairro.

Tudo é na verdade uma grande incógnita. Será que teremos ali uma espécie de “gameleira”, como em Rio Branco? Ou será que a área residencial dará lugar a galpões de desembarque de cargas? Ou ainda, permaneceram as casas, dando aos moradores nova qualidade de vida?

Perguntas que por enquanto, ficam sem resposta.


Seria importante que o poder público, tivesse em mente o que todas estas mudanças podem trazer. A prefeitura não pode se escusar desta preocupação, mas infelizmente, não vejo hoje nem a prefeitura nem a própria sociedade de Cruzeiro do Sul com maturidade suficiente para planejar o seu futuro.

O mesmo se aplica em relação à BR 364. Estamos às vésperas da abertura, e a sociedade cruzeirense ainda não conseguiu avançar o debate além do preço do tomate.

Não há planejamento, não há debate e isto não pode ficar por conta do governo. É um papel que cabe à sociedade e ao poder público municipal.

Precisamos aprender a utilizar o desenvolvimento ao nosso favor, trazendo qualidade de vida e esperança ao invés de destruição. Isto se faz com planejamento.


É preciso despertar a tempo de decidir que futuro queremos para nós e nossos filhos.

Um comentário:

  1. Parabéns pela matéria, isso aí é um fato histórico que muitos não dão importância, os própios cruzeirenses em si.

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