Compreendo que seja prosaico que o apresentador do principal telejornal da cidade não apenas utilize adornos indígenas, mas como despudoradamente os exiba ao vivo.
Para quem não sabe, não é de hoje que ando com os “kenês” (palavra de amplo significado, mas que designa principalmente os desenhos em padrões que representam a identidade indígena).
Desde minhas primeiras reportagens, sempre usei os “kenês”, não apenas como forma de me enfeitar, mas sobretudo como forma de homenagear aos primeiros habitantes desta terra.
A diferença é apenas que literalmente “arregacei as mangas”, deixando-os à mostra.
Até o momento não houve repreensão por parte da direção da emissora, que é quem literalmente, paga o meu salário.
No entanto já tem gente reclamando nas redes sociais. No status de um conhecido professor da cidade foi postado: “Imagine se Willian Bonner apresentasse o Jornal Nacional com aquelas pulseiras”.
Bem, o fato é que nem eu sou William Bonner e nem o professor ministra aulas na UFRJ, na USP ou na UNB. Ou, nas palavras de Elza Soares “posso não ser a garota de Ipanema, mas você também não é o Tom Jobim”.
O professor deve saber que a Aldeia Nova Esperança no rio Gregório está bem mais próxima dos estúdios da TV Juruá, do que os transmissores da Rede Globo, no Rio de Janeiro.
Como educador deveria saber que não podemos construir uma realidade melhor para nossa região, forjando-a com base em outra realidade distante, enquanto viramos as costas parta a nossa.
A história dos kenês me lembra a história de uma advogada negra nos EUA, que foi admoestada pelo seus superiores por esbanjar uma bela cabeleira afro. Disseram-na que era por demais “étnico”.
Ora, qualquer educador, minimamente preparado sabe que ditar roupas, costumes, moda, podem se tornar um instrumento de dominação, de padronização, onde não há lugar para o diferente.
Podem argumentar que não sou índio. De fato não sou. Mas carrego no sangue de minhas veias um juramento na qual compartilho uma cosmovisão de mais de cinco mil anos. Com a mesma tranquilidade com que pessoas públicas, da política ou da comunicação, citam versos bíblicos, orgulhosamente exibo os meus kenês.
Em um momento em que jovens brasileiros adotam o nome de algum dos 180 povos indígenas do Brasil como forma de somar-se a luta dos primeiros habitantes, usar os meus “kenês” ao vivo não deixa de ser também um ato político, e por que não dizer, educativo.
*Nosso "Kenê" é bonito
sábado, 12 de outubro de 2013
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