Quando vou para o interior sempre aprendo uma coisa nova.
Neste fim de semana foi essa: “galinha que canta de galo é mau agouro, vai logo
para a panela”. Deixa as feministas saberem disso!
Bem, eu não sou machista, as mulheres que passaram em minha
vida é que eram
Mas vamos ao que interessa. A bola da vez é ... petróleo
Eu, é claro, sou sempre a favor do progresso, do
desenvolvimento e do crescimento econômico.
Imagine só o quanto de renda irá gerar o petróleo para a
região?
Assim, teremos não mais apenas UM Camaro Amarelo , mas meia
dúzia deles cruzando as largas avenida de nossa megalópole.
Em breve poderemos reivindicar o status dos países sauditas:
os maiores PIB, com as piores distribuições de renda do planeta.
Mas falar contra o petróleo é um tabu tão grande que pouca
gente ousa. A unanimidade burra se instalou definitivamente na política
acreana. Situação e oposição são favoráveis à exploração. Revelam o que já
deveria ser “óbvio e ululante” (mais uma vez Nelson Rodrigues): a aparente disputa
de “idéias” apenas mascara a verdadeira disputa que é pelas benesses do estado,
sem a qual a “pujante” e “competitiva” classe empresarial acreana, não
sobrevive.
Talvez Henrique Afonso pudesse ter o diferencial caso se
lançasse como terceira via e candidatura anti-petróleo. Perderia, mas marcaria
terreno na política e na história. Preferiu seguir o mesmo caminho de
Marina
Silva: trocou a coerência pelo pragmatismo.
Muito curioso em saber o que vai dar o cruzamento de vaca
mecânica com ambientalista cristão.
Do ponto de vista do coeficiente eleitoral dos dois, a chapa
é forte. Mas os dois estavam há bem pouco tempo em campos opostos no que se
refere à questão ambiental: Henrique dizendo que a FPA perdeu o foco da
sustentabilidade, e Bocalom dizendo que sustentabilidade é balela. Bom mesmo é
monocultura de soja.
São muitas fissuras que serão exploradas pelos adversários.
Encontram o tom comum do discurso lá no gênesis, onde diz
que a natureza deve servir ao homem.
Ufa! Que bom, pensei que estivéssemos lutando para preservar
água, ar, terra e florestas para alguma raça de alienígenas!
A cantilena de Bocalom é a mesma de sempre: “entre preservar
a vida de um macaco e de uma criança, eu prefiro preservar a vida da criança.”
A pergunta é: o que fará um pai, quando não tiver nem macaco
para alimentar as crianças?
Certamente terá que procurar um lugar na fila da vaca
mecânica, para receber sua cota de leite de soja.
O que ninguém quer falar e nem mostrar é que experiências
com petróleo na Amazônia são desastrosas.
Vazamentos são muito difíceis de
serem contidos, praticamente impossível nos populares “baixos” (várzeas).
Com tanta gente doida para lucrar, lutar contra o petróleo
parece ser causa perdida. Mas deveríamos fazê-lo, nem que seja para dizer “eu
te disse” quando o primeiro vazamento ocorrer. E ele vai ocorrer.
Quando ocorrer, teremos contaminação de água e solo,
prejudicando seres humanos que dependem diretamente do meio ambiente para
sobreviver. Mercadores são como gigolôs da natureza, que a exploram para
alimentar sua vaidade.
Se criticam os ambientalistas por estarem em “gabinetes” e “poltronas”,
o mesmo pode ser dito dos “desenvolvimentistas”, que compram sua feira no
supermercado.
Acho engraçado quando ouço petistas dizendo que o petróleo
vai “combater a miséria”. Os companheiros deveriam no mínimo ser coerentes com
a história do partido que sempre defendeu que a causa da miséria é a má
distribuição de renda e não a falta dela. Quem defendia que deveria crescer o bolo
para depois dividí-lo era Delfim Neto, economista da ditadura.
Acho interessante que sempre se faz esta oposição: “humano x
natureza, quem é mais importante?” Talvez a pergunta que deva ser feita seja: “humano
X dinheiro, quem, é mais importante?”
Na prática estão oferecendo dinheiro para que abandonemos
nossas vidas supostamente “miseráveis”, quando na verdade não atentamos para a
riqueza que é viver aqui, cercado de floresta, e em relativa paz.
Algo que nas
cidades onde o “progresso” já tocou, não existe mais.
Esta é a verdadeira miséria: não enxergar a riqueza em que
se vive.
Deveríamos atentar também para as questões econômicas e
sociais trazidas pelo petróleo. Podemos esperar mais concentração de renda.
Quem já tem vai ter mais e quem não tem terá que pagar mais caro por tudo na
cidade. Pode-se esperar mais especulação imobiliária. Aumento no preço da cesta
básica, também.
Alguém acha que a gasolina vai ficar mais barata por conta
disso?
Com tantos engenheiros, técnicos e trabalhadores circulando
pela cidade, a única coisa que vai ficar mais barato vai ser o preço do chifre.
Já que nem a defesa dos rios, peixes e florestas parecem
mobilizar os cruzeirenses, quem sabe a perspectiva de ser corno possa despertar
o que resta do brio dessa brava gente.
Pois é, o Brasil só pensa no petróleo como o suprassumo do desenvolvimento e só enxerga as usinas hidrelétricas como fonte de energia. Não existe uma politica forte com relação a outras energias como a eólica e a solar por exemplo.
ResponderExcluirEste seu texto é muito, mas muito bom.
Um abraço