Genildo foi um dos principais herdeiros da tradição de aplicação do kambô que teve em seu avô, Francisco Gomes, um dos pioneiros da aplicação da "vacina do sapo" nos não-índios.
Genildo continuou o trabalho de seu avô, levando a medicina para os grandes centros do país.
Uma parte dos recursos foi utilizada para a criação e manutenção de dois espaços de cura e de preparação das medicinas: A AJUREMA, localizada na periferia da cidade de Cruzeiro do Sul, e o "Vinte e Um", localizado no projeto de assentamento Santa Luzia, zona rural de Cruzeiro do Sul.
A casa do "Vinte e Um" |
Genildo |
No local encontra-se uma casa com cobertura de palha, além de alguns pés de chacrona e cipó plantados por Genildo.
A mata do local é do tipo de terra firme, situada em área de reserva legal destinado ao uso sustentável.
Chacrona plantada por Genildo às margens do Igarapé |
Por que "Vinte e Um" ?
A história do "Vinte e um" começa com Genildo conduzindo o alemão Guido Stiehle e o eslovaco Juraj Penciak que andavam na floresta das redondezas em busca do "lugar ideal" para uma cerimônia de ayahuasca.
Guido então ficou encantado com o canto de um pássaro e decidiu seguir aquele som. Por algumas horas os três andaram na floresta até que chegaram a um local onde havia um bando desses pássaros.
Genlido explicou que aquela ave era chamado de "Vinte e Um" devido ao som que faz parecer que ele está dizendo, "vinte e um", e também porque segundo a lenda, onde canta um, cantam vinte e um. Aquele local, portanto, seria o local onde estariam os "vinte um" pássaros.
O "Vinte e Um" (Lipaugus vociferans) também é conhecido como pássaro do seringueiro, capitão da mata, fri-frió ou cri-crió, entre outros. Produz um som alto e estridente, bastante característico.
O "Vinte e um", capitão da mata ou pássaro de seringueiro |
Genildo lembrou também que seu avô Francisco, atribuía uma característica especial ao número 21.
Este era o número máximo que ele fazia de aplicações de kambô.
O pássaro do seringueiro é assim chamado por ser um companheiro na solidão da floresta para o seringueiro, como fora para o seu avô durante as lidas na mata.
O resgate
Após o trágico falecimento de Genildo, em uma acidente automobilístico no ano de 2007, o local ficou praticamente abandonado.
O "Vinte e um" - restauração e reabertura do acesso |
A ideia não é aplicar o kambô como quem faz uso de uma substância apenas. Mas sim, transmitir através da aplicação, a força e a pureza da floresta, a natureza dos instintos, a potência da selva amazônica.
Trata-se de manter viva a tradição e a ancestralidade e de possibilitar que esta troca com as pessoas das cidades possibilite aos povos da floresta viver dignamente, com o mínimo de impacto sobre a floresta.
Para isso é necessário preparar as medicinas na floresta, e se preparar com elas também na floresta: fonte de conhecimento e energia de cura e equilíbrio.
Cipó plantado por Genildo |
Reativar o "vinte e um" significa reabrir o trabalho iniciado por Genildo e antes, pelos seu pai e avô. Significa um local de estudo e aprofundamento, um local para beber da fonte da floresta e que poderá ser compartilhado com os aliados da cidade.
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