Familiares de policial
assassinado têm direito à indenização por parte de empresário, afirma Major da PM
Em meio a bandeiras negras, comoção popular e uma ação
espetacular das Polícias Civil e Militar, é de se esperar que passem
despercebido aspectos digamos “secundários” da notícia em si, mas que de fato,
podem estar na raiz dos problemas noticiados.
Tentativa de linchamento na chegada dos suspeitos. Imagens: Juruá On Line |
O primeiro é a questão dos “bicos” realizados por policiais
como segurança privada.
Durante a coletiva desta quarta-feira (08), tive a
oportunidade de questionar o comando regional da PM sobre a prática, que além
de ilegal, coloca em risco a vida de pessoas.
Meu primeiro questionamento foi sobre o recebimento de
benefícios a que a família do policial assassinado teria direito em caso de morte
em serviço.
Major Moura, Comandante da PM em Cruzeiro do Sul e região |
O Comandante regional da PM no Juruá, Major Moura respondeu
que os familiares receberiam os benefícios assegurados por lei.
Mas o fato é que a lei não assegura tais benefícios no caso
de o policial ter morrido fora de serviço, ou nesse caso pior: prestando um
serviço que é ilegal.
Major Negreiros complementou a informação, afirmando que os
familiares têm direito a pedir na justiça, indenização ao empresário pela morte
do PM.
Major Negreiros comanda as operações aéreas da PM no Acre |
Na opinião de Major Moura, a atuação dos PMs como seguranças
privados, ainda que ilegal, seria um fator de segurança a mais, pois
reforçaria a presença policial nas ruas da cidade.
Sobre este ponto, sou obrigado a respeitosamente discordar do comandante, e
apresento meus argumentos, não com a autoridade de um especialista na área de
segurança pública, mas como um ex-morador de uma das cidades mais violentas do
mundo.
A atuação dos policiais como seguranças privados, tal qual está
acontecendo em nossa cidade, tão somente os irá expor a um risco extremo de serem
mortos.
No caso específico do Major M.Araújo, por ocasião do
assalto, o mesmo encontrava-se na função de motorista. Armado e sozinho
tornou-se um alvo com poucas chances de reação e menos ainda de evitar o assalto.
Sargento M.Araújo. Imagem: Ecos da Notícia |
Não é segredo que em Cruzeiro do Sul, policiais militares sejam
vistos em supermercados, às vezes atuando como guardadores de capacetes ou
empacotadores de mercadoria.
Sua presença pode ter a eficácia de afastar algum “bêbado”
ou “noiado” que deseje furtar uma lata de leite, mas não significa absolutamente
nada para criminosos minimamente organizados. É apenas o primeiro alvo a ser eliminado
ou neutralizado.
Em setembro de 2013, o sargento Cleiton Aquino morreu na
função de segurança privado após ser baleado durante uma tentativa de assalto à
loja City Lar em Rio Branco.
Por vezes, a mistura de funções como segurança pública e
privada, ganha contornos ainda mais obscuros, como o caso recentemente
noticiado na imprensa da capital em que policiais teriam praticado a extorsão o
proprietário do Auto Posto Correntão, em Rio Branco , afirmando que o “serviço
de inteligência” teria descoberto um assalto planejado para o estabelecimento.
Após pagar durante meses o serviço de segurança privada a uma equipe formada
exclusivamente por PMs, o empresário resolveu cancelar o serviço e denunciar a
extorsão.
É fato que nossa região não possuiu ainda um histórico de violência
que suscite tais questionamentos, mas este histórico começa a mudar, e antes
que mais vidas se percam, é importante atentar para estes fatos.
Cruzeiro do Sul dispõe hoje de pelo menos quatro empresas de
segurança privada. Em conversa com um empresário do setor, o mesmo me confidenciou
que o preparo de um policial militar, é de fato melhor que o de um segurança
privado, mas que o PM não tem garantias legais no caso de ser baleado, ou se por
ventura, matar o assaltante.
Podemos dizer que por trás de um crime, há pelo menos outros
dois: o exercício ilegal da profissão de segurança privado, com evidentes
riscos à vida humana e a complacência do comando da PM com a prática ilegal.
Da parte do empresariado percebe-se também uma prática que apesar
de não poder ser classificada como ilegal, é pelo menos, imoral: colocar
pessoas em situação de risco de morte em defesa de seu patrimônio privado, sem
as garantias legais que tal exercício exigiria.
Em poucas palavras: economizam no dinheiro, mas não no sangue.
Do outro, é claro.
* O segundo aspecto "secundário" diz respeito justamente ao trabalho da imprensa, e farei um post sobre isso mais adiante
Nenhum comentário:
Postar um comentário