Representantes de diferentes comunidades e povos indígenas do
Acre estão reunidos desde o dia 10 na Terra Indígena Puyanawa em Mâncio Lima-AC,
no extremo noroeste da Amazônia brasileira. O objetivo é debater sobre a
política indígena no estado e também sobre o uso da ayahuasca pelos povos
indígenas.
O primeiro encontro reuniu as organizações regionais, OPIRJ
(Juruá), OPITAR (Tarauacá), OPIRE (Envira) e ASKARJ - Associação dos
Seringueiros Kaxinawá do Rio Jordão, também a Federação Huni Kuin, além de
instituições como FUNAI, SESAI, IFAC, EMBRAPA, IPHAN, representantes do Governo
do Estado e secretaria de educação e Exército Brasileiro.
Povos Isolados e de recente contato
Apesar de não permanecerem até o fim do evento, pela primeira
vez estiveram presentes representantes do povo denominados provisoriamente como
Sapanawas (povo do cipó), de contato recente na região do Xinane (afluente do
rio Envira). O planejamento estratégico das organizações contemplou aspectos
específicos para isolados e povos de recente contato.
Retrocessos
Perguntado sobre a preocupação do movimento indígena em
relação aos retrocessos nos direitos dos povos indígenas promovidos pelo
Congresso Nacional e a fragilização da FUNAI pelo atual governo, Francisco
Pianko, coordenador da OPIRJ responde que o encontro reflete a necessidade de
uma visão estratégica dos povos indígenas para o enfrentamento a esse novo
momento.
“Não adianta ficar isolado, temos que estar por dentro de
uma situação que vem lá de cima. Estamos fazendo um esforço para que nossa voz
chegue lá. Vamos tirar desse encontro um manifesto dizendo daquilo que está nos
preocupando e sobre o que a gente quer.”, explica.
Facções Criminosas
Além das já costumeiras preocupações com saúde, educação e
produção, surgiu também neste encontro uma preocupação com a questão da
segurança.
Relatos de algumas comunidades já falam do aumento da influência
das facções criminosas também dentro de algumas terras indígenas, especialmente
aquelas mais próximas da cidade e de rodovias. A ideia é ampliar a relação
institucional com os órgãos de segurança pública e Exército, mas sempre a
partir do fortalecimento das bases de auto-organização.
“Todas comunidades precisa saber o que são estas
organizações criminosas para a gente colocar isso no nosso radar para começar a
discutir estratégias para se defender”, disse Francisco Pianko.
O documento preparado pelas organizações em breve estará
disponível.
Ayahuasca
O encerramento do encontro das organizações já serviu como
abertura para o próximo encontro: a 1° Conferência Indígena da Ayahuasca. O
encontro pretende fornecer um contra-ponto indígena às discussões que vem ocorrendo
no Brasil e no mundo acerca do uso ritual da bebida e que em alguns momentos
negligenciaram a participação indígena.
Nas falas de abertura de Mário Huni Kuin (OPIRE) e Manoel Kaxinawá
(OPITAR) ambos falaram sobre respeito e convivência com os usos não indígenas
da bebida já consagrados pelas religiões ayahuasqueiras, mas também da
necessidade do protagonismo das vozes indígenas nessa construção. “Não estamos
brigando com ninguém, estamos falando que conhecemos a realidade espiritual,
como vem sendo comprovado pelo trabalho dos pajés dentro e fora das aldeias”,
disse Manoel. “Temos respeito ás diferentes formas de uso, mas essa deve ser
uma discussão indígena”, disse Francisco Pianko (OPIRJ)
Entre os temas a serem debatidos estão: a ayahuasca como
base da cultura indígena, as experiências de intercâmbio entre indígenas e
não-indígenas, as canções cerimoniais, a sustentabilidade e plantio do cipó e
folha e a patrimonialização da ayahuasca, entre outros.
Entre os debatedores elencados estão Biraci Brasil e Benky
Pianko, Ninawá e Joaqueim Maná, Luis Puwe Puyanawa, os pesquisadores Juarez
Bonfim e Danielli Jatobá (IPHAN), entre
outros.
De espírito presente
Os debates terão início nesta sexta-feira e devem se
prolongar até sábado. Estão previstas cerimônias durante as três noites do encontro.
A ideia é que a bebida seja servida mesmo de dia, durante as discussões. Uma forma
de garantir que não se torne um debate vazio, abstrato e sim que o próprio espírito
da ayahuasca, e das muitas ancestralidades, estejam presentes durante o
encontro.
Assista vídeo com a canção puyanawa entoada para marcar a abertura da Primeira Conferência Indígena da Ayahuasca
Assista vídeo com a canção puyanawa entoada para marcar a abertura da Primeira Conferência Indígena da Ayahuasca
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