sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Racismo à Cruzeirense


Leandro Altheman

O prato indigesto acima, como o nome sugere, é o fruto de 10 anos de boa dose de observação, e indignação, diante do comportamentode uma parcela significativa da população cruzeirense. Este povo, que tão bem me acolheu, merece ser alertado, para algo em que no dito "mundo civilizado", é considerado como uma das raízes da "barbarie". Em duas postagens anteriores citei o racismo praticado pelo Estado de Israel contra os Palestinos. E o racismo permitido pelos EUA contra negros e hispano-americanos através da Klu Klux Klan. Mas não é preciso ir tão longe para encontrar aqui mesmo na "selva ondulada", uma forma particular de racismo.
Sempre pensei que o pensamento anti-indígena, na verdade um eufemismo para esta forma de racismo, estivesse restrito às pessoas menos esclarecidas. Mas um passarinho verde me contou que fui apontado por estudantes universitários da UFAC, como um bom profissional, mas com a ressalva de que "gosto de índio". Em primeiro quero dizer que não apenas "gosto de índio". Gosto do ser humano, e aprendi a ver o valor em cada povo, em cada cultura, em cada credo e raça.
Em seguida, lembrar que ninguém é obrigado a "gostar" de ninguém, mas que o respeito ao próximo e ao diferente, é o mínimo que se espera de estudantes universitários.
Pensei estar em outro planeta quando vi, vereadores da legislatura anterior ocuparem o espaço da tribuna para, no "dia do índio" proferir impropérios contra não um, mas centenas de povos. O discurso centrado sobre a proverbial "preguiça" esqueceu de dizer que o índio vive para sí, ao contrário do trabalhador rural que é explorado por dezenas de atravessadores que vivem do suor alheio.Quem defende tal tese não conhece a
realidade de que precisa acordar de madrugada para caçar e pescar para dar o sustento de seus filhos.
Mas não apenas o índio é vítima do preconceito, o trabalhador rural também o é, mesmo servindo àqueles que lhe cospem a face.
É preciso de vez em quando, botar o cérebro para funcionar, e o coração, sempre. Se uma ou outra atitude cometida por um índígena é suficiente para que os 12 povos do Juruá recebam um adjetivo desonroso, será que o mesmo é aplicável à nós, juruaenses?
Em São Paulo, o mesmo tipo de pensamento, serve para justificar o preconceito contra os nordestinos. Se um nordestino rouba, então "nordestino é ladrão". Ora, por favor, se não pudermos ser nobres a ponto de reconhecer o imenso valor que índios, e também nordestinos, têm para o país, sejamos ao menos racionais, ao medir que tal "lógica" aplicada ao restante da humanidade, a condenaria por inteiro.



4 comentários:

  1. Prezado Leandro,
    Isto indica, tristemente, duas premissas:

    1- Uma parcela de nossos acadêmicos está muito aquém de ter um pensamento crítico ,pois não busca conhecimentos que vão além de suas obrigações em busca da aprovação do semestre.Preferem repetir o senso comum.Digo isto como aluno universitário.
    2- Uma parcela de nossa população se revolta quando se sente (justa ou injustamente) preterida por morar no Juruá, mas ao mesmo tempo não se envergonha de proclamar-se superior aos índios e aos peruanos,por exemplo.
    Felizmente,como você disse,não é uma parcela ou exemplo isolado que representa o todo até que se prove o contrário.Não deixa,porém, de ser vexatório.

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  2. Parabéns, Leandro!
    Como sempre, seu texto é oportuno e preciso. Preconceito... logo nós aqui do oeste que tanto reclamamos do preconceito governamental, é no mínimo ridículo.
    Quem eles pensam que são? Uns tolos, medíocres e incapazes de ver o próprio umbigo. Pessoas assim, que buscam o divergente ao invés do convergente, que se auto-entitulam intelectuais jamais conhecerão a Verdade. Serão escravos.
    Que os bons espíritos te abençoem.
    Um abraço.

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  3. Orgulho de tê-lo aqui no Acre, em especial na região do Vale do Juruá!
    Profissionais como Leandro Altheman, aplicam, antes de tudo, a humanidade que estamos perdendo dentro de nós! em nome da Maçonaria (que ergue nestas terras a bandeira da liberdade - igualdade e fraternidade há mais de 100 anos), congratulo o companheiro pelo texto! que sirva de alerta.
    Narcélio Flávio (acreano e cruzeirense)!

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  4. Fiquei indignada com a visão tão estreita que estudantes de nível superior têm em relação ao próximo. Como assim "gosta de índio"? E eles o quê? Por acaso odeiam índio? Não sabem eles que esta terra é legitimamente deles, habitada por seus ancestrais e tomada à força pelo velho mundo? Quantos desses estudantes preconceituosos são descendentes de índios? Aposto que a maioria. Lamentável. Generalizar um grupo por um episódio desagradável envolvendo alguns membros é preconceito e ignorância. De que adianta ter conhecimento intelectual (se tiverem) se de sentimentos nobres e que realmente importam são ocos? Esse povo precisa ouvir verdades. É bom que alguém aí esteja disposto a fazer isso.

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