domingo, 23 de janeiro de 2011

São Sebastião: o erotismo por trás da santidade


Estamos em Mâncio Lima fazendo a cobertura do último dia do Novenário de São Sebastião. Não é a maior festa da cidade, uma vez que a novena de São Francisco é mais tradicional em Mâncio Lima.
Mas é interessante que o santo seja lembrado em pelo menos mais três cidades acreanas: Marechal Thamaturgo, Xapuri e Epitaciolândia. Quase todo mundo já ouviu falar a historieta do santo que fôra soldado do Império Romano e martirizado pelos arqueiros númidas (entre os melhores do mundo antigo) durante o reinado de Diocleciano.
Muita gente por aqui não sabe, mas São Sebastião foi um dos primeiros padroeiros do Brasil. Isto por que a imagem de seu corpo trespassado de flechas, remetia diretamente aos primeiros "mártires" em terras brasileiras, mortos pelo crivo das flechas dos indígenas. São Sebastião do Rio de janeiro, esse é o nome completo da mais famosa cidade brasileira. Talvez por isso também tenha sido escolhido para ser o padroeiro de M.Thaumaturgo, uma vez que uma história semelhante aconteceu naquelas bandas do rio Machadinha, e a sepultura dos mártires ainda é visitada até hoje. Bem, já os índios não erguem ídolos para os seus martirizados, pois se o fizessem, talvez já não existissem mais árvores de pé.

Pela relação com as flechas, os negros proibidos de exercer livremente os seus cultos, em alguns lugares do Brasil elegeram São Sebastião para representar Oxossi, o Orixá caçador. Maneira injteligente de manter a fé mesmo debaixo de açoite. O mesmo processo fez de São Jorge, Ogum e Santa Bárbara, Iansã, entre tantos outros. E é por isso que ainda hoje no Brasil "Babalorixá" (sacerdote de Orixá) se traduz como "Pai-de Santo".

Mesmo tendo em essência, tão pouca relação com o culto original, não deixo de ter certa admiração por São Sebastião e pela data 20 de janeiro. E mesmo não sendo assim digamos, um exemplo de católico, não deixo de respeitar e admirar a beleza que existe em cada exemplo de vida deixado pelos santos, o que não me impede também de enxergar um pouco mais do que se quer de fato mostrar .

E por falar em beleza, voltemos à Praça de Mâncio Lima, onde estou diante da imagem de São Sebastião. Uma idéia, como um raio, preenche meus pensamentos: qual seria o sentimento de uma moça virgem na Idade Média diante daquela imagem? É certo que em uma época de tanta repressão sexual e artística, estar diante da imagem de São Sebastião era uma das raras oportunidades que elas tinham de admirar o nu masculino. E há que reconhecer que a posição em que ele foi retratado, há um quê de sensualidade. Quem o retratou deixou transparacer que mais do que as flechas, o soldado romano estava transpassado de Paixão. Paixão no Cristo, é verdade, mas ainda assim, Paixão. Na Idade Média deve ter feito damas e donzelas sentirem um calor de enrubescer a face.

A imagem, assim como que ela traduz, é um eco das flechas do Cupido, anjinho safado que fazia despertar paixões no mundo antigo (e talvez até hoje com uma ou duas garafas de vinho). Uma imagem poderosa que atravessa o tempo.

No mito original, Eros (O Amor) se fere em uma de suas flechas e se apaixona por Psiqué (a Alma). O mesmo enlace divino, só que descrito de outra maneira, milhares de anos antes.


Na Imagem: Eros pergunta para Psiqué: "- Foi Bom pra você"

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K entre nós

A imagem escolhida pela Agência de Notícias do Acre para ilustrar a matéria de Novenário de São Sebastião, é um tanto quanto suspeita, não? Ou talvez até óbvia demais!Nada me convence que os fotógrafos experientes da agência (o autor da foto é Sérgio Vale. Um dos melhores do Acre) não tenham tido a intencionalidade ao escolher a foto.
Ou talvez a intencionalidade tenha partido da própria organziação da festa, pois o guarda-chuva colorido é segurado por um fiel diretamente sobre a cabeça do padre celebrante.
Bem depois dessa vai ser difícil Xapuri deixar de hostentar o mesmo título que Campinas e Pelotas. Sem nenhum preconceito, apenas uma leitura aguçada de fatos e imagens. Na verdade acho injusta essa apropriação do arco-iris para este sentido. Ele já era antes o símbolo de aliança. Entre os andinos simbolia a união entre os diferentes povos e até hoje é a bandeira de Cuzco, mas isso é tema para outra postagem.

E já que a idéia do blog é tratar de assuntos com profundidade, sem ser chato, e que o Nolasco postou o ótimo texto "Artificial Baunilha". Lembrei de uma história que ouvi em Pernambuco, quando passava férias com uma namorada na praia de Maracaípe, há uns 12 anos atrás.

São muitas as explicações e teorias para explicar o homossexualismo, umas mais preconceituosas e outras menos, umas "científicas", outras "religiosas", outras "sociais", "culturais", "políticas" que entram e saem de moda ao sabor do momento. Esta é apenas mais uma e não significa que seja a certa ou aquela que eu acredite (particularemente prefiro não formular teorias), mas é certamente a mais poética que já ouvi.

O sujeito na praia, falava sobnre outro tema, bastante popular, o das "almas gêmeas". Disse que quando Deus nos criou, nos fez com a alma inteira, masculino e feminino juntos. Mas depois fomos separados para não sermos arrogantes. E então assim surgiram as chamadas" almas gêmeas" e desde então passamos a procurar a metade perdida.
- E no caso dos gays? Perguntamos
Ele respondeu:
"- A alma, cansada de procurar sua metade sem encontrar, sente tanta saudade de seu oposto complementar que intenta ser ele e passa a buscar a sua auto-imagem perdida naqueles do mesmo sexo."

Não é uma afirmação, apenas uma interrogação.

5 comentários:

  1. Show, " sêo" Leandro. Quanto a foto da Agência de Notícias, pode não ter sido intencional a mensagem subliminar, mas, como vc bem disse é no mínimo suspeita. E há motivos para a suspeita : Muita gente nas Regionais do Baixo e Alto Acre chama Xapuri ,de forma jocosa é claro, de Terra da Caxinguba ( nem sei se a grafia é assim mesmo ), que é uma fruta silvestre da região.Advinha qual o animal que dela se alimenta ?
    A fama não passa , é óbvio ,de brincadeira e provocação, entre localidades irmãs. É mais ou menos como os cruzeirenses se referindo à Mancio Lima como " Mangará ", ou a relação de amor e rivalidade entre Tarauacá e Feijó.Só pilhérias populares.

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  2. amigo segue o meu blog que eu sigo seu o meu é joaoregotk.blogspot.com se vc segui me manda um comentário que eu faço o mesmo

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  3. http://joaoregotk.blogspot.com
    é esse o link do blog. não esqueça de acessar. um abraço

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  4. Essa imagem de São Sebastião causa mesmo suspiro. O soldado-santo, pelo menos pela imagem consagrada, exibe o corpo-padrão aceito pela sociedade.

    Quanto ao sombrinha na cabeça do religioso... Até eu me perguntei se não seria mesmo intencional... Hehe Mas a questão deve voltar-se não para quem fotografou e publicou e sim QUEM LEVOU?

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  5. Alimentar o preconceito não deixa de ser preconceituoso...

    Antônio Campos

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