quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Arquétipos do Feminino2: Politeísmo

E aproveitando o assunto dos arquétipos do feminino, antes que ele “esfrie” (para mim não esfria nunca); como tratei sobre a presença arquetípica feminina nas religiões abrâmicas (mais uma vez: judaismo, cristianismo e islamismo), achei por justo tratar do tema também presente em outras religiões.

A primeira referência é o que pode ser chamado de ”politeísmo”, na verdade não uma religião, mas uma categoria, oposta ao monoteísmo abrâmico. Geralmente judeus, cristãos e islâmicos se referem injustamente ao tema tratando-o por “paganismo”. Pagão é somente um termo prejorativo, originário da latim que se refere aos cultos (denominados “superstições”) das pessoas “rudes” do campo (pagão= rude, inculto).

As religiões politeístas dominaram o mundo antigo, aliás muito mais culto que o mundo cristão medieval. E pode-se questionar se de fato eram politeístas em essência, pois ainda que admitissem a existência de vários deuses, a obra da Criação sempre acaba ficando a encargo de um ser primordial. O mesmo pode ser dito do hinduísmo que profere a mesma crença em uma trindade, aceita a pluralidade da divindade, mas admite a existência de um absoluto primordial.

Pode-se questionar também, até que ponto, o cristianismo é assim, tão monoteísta.Em parte pela crença na trindade, mas também pela famosa frase proferida por Jesus (ou a ele atribuída) em seu calvário; “Eli, Eli, Lama Sabatsani”- frase que depois foi interpretada "Senhor, Senhor, por que me abandonaste". No entanto a palavra Eli é plural de El, (Deus em aramaico, portanto Eli=Deuses) e os estudiosos da bíblia se apressam em dizer que se trata de um “plural majestático”, algo como dizer que Deus de tão grande não cabe em si sendo apenas um. Majestático ou não, o plural foi usado e pode significar também que ainda que admitindo a presença e existência de um ser primordial e absoluto sobre todas as coisas, admite-se também a pluralidade de suas manifestações, leitura que torna a religião cristã em essência não assim tão diferente do hinduísmo ou dos cultos afro-brasileiros aos Orixás.

Mas todo este preâmbulo foi somente para dizer que as religiões abrâmicas oferecem apenas dois arquétipos femininos, a qual as mulheres a muito custo tem de se enquadrar: ou é santa , ou é puta. No português claro é disso que se trata. É claro que uma leitura mais imaginativa dos Cânticos de Salomão podem ver alí também algo muito semelhante aos princípios do tantra hindu.Mas duvido qual seja o padre ou pastor que arrisque tal leitura.

Mas neste ponto acredito que o politeísmo seja mais rico no sentido de oferecer não um ou dois arquétipos, mas uma dezena de modelos de personalidade, todos com alguns pontos favoráveis e outros desfavoráveis (e não são assim as mulheres? Aliás, todas as pessoas?).

Daí posso descrever com mais propriedade o que conheço um pouco melhor, por ser brasileiro: os cultos afro, que em alguns pontos apresenta certas semelhanças com o mundo Greco-romano. Na próxima postagem , trago uma breve descrição dos arquétipos femininos mais conhecidos dentro do culto aos Orixás: Iemanjá, Oxum, Iansã, Nanã e Euá.

Um comentário:

  1. Muito interessante saber que algumas referências do feminino propagado dentro das religiões, não são únicas. Esperando os arquétipos Orixás.

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