quarta-feira, 16 de março de 2011

Petróleo no Juruá: “Somos Contra”

Esta é a posição do movimento indígena do Juruá. Eles querem garantias de que sua sobrevivência física e cultural seja assegurada. Na BR 364, katukinas dizem que somente 50% de suas demandas foram atendidas.

Durante o encontro de lideranças dos doze povos do Vale do Juruá se reúnem durante dois dias desta semana no Centro Diocesano de Treinamento para debater sobre as políticas públicas do Governo do Estado para as comunidades indígenas.

No debate estavam principalmente as questões ligadas à saúde, educação e produção. O assessor do governo para assuntos indígenas, Zezinho Kaxinauá falou que o objetivo do governo é estabelecer uma relação direta com as comunidades para que estas possam “caminhar com as próprias pernas”. Ainda que não fosse tema deste debate, questões polêmicas a respeito do modelo de desenvolvimento foram trazidas à tona, mostrando a necessidade de que sejam discutidas com transparência entre governo e povos indígenas.

“Para começo de história, somos contra”, disse o cacique do povo Kontanáua e coordenador da OPIRJ, Osmildo Kontanáua. A OPIRJ é a entidade representativa dos doze povos indígenas da região do Vale do Juruá. Osmildo diz que a avaliação é de que a prospecção de petróleo deve dificultar o acesso à caça e á pesca, colocando em risco a segurança alimentar das comunidades. “Nós sabemos o imapcto que vai causar. É uma bomba que vai devagarinho acabar de exterminar os povos indígenas.”, conclui. Mas, na avaliação de Osmildo não será possível para os povos indígenas evitar que tais projetos aconteçam “Quem somos nós para ser maiores do que as leis do nosso país”. ”Mas queremos garantias por parte do governo nas áreas de saúde, educação, produção e segurança alimentar”, concluiu a liderança.

Zezinho Kaxinauá (Huni Kuin) disse que o governo pretende construir estas políticas com a participação direta das comunidades na discussão, o mesmo se aplicando á questão da ligação terrestre para Pucalpa (ferroviária ou rodoviária).

Conflito de interesses

“Acredito que a melhor maneira de trabalhar estas questões seja colocando abertamente para os povos sobre os possíveis impactos e benefícios destes projetos.”, disse o antropólogo Marcelo Piedrafita, da assessoria dos povos indígenas do Governo do Estado.

“As comunidades que vivem na floresta têm direitos que devem ser respeitados, bem como a trajetória especifica destes povos são de extrema importância”

Katukinas e a BR 364

O embargo da BR 364 pelo Ministério Público Federal na década de 90 foi motivado pela não apresentação de um estudo de impacto ambiental que levasse em conta também o modo de vida das comunidades indígenas ao longo da BR. A retomada da obra foi condicionada á apresentação do EIA-RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental), bem como o Plano de Mitigação conjunto de ações de estado desenvolvidas como forma de reduzir os impactos negativos da BR na fauna e flora e na vida das comunidades do entorno. No entanto, passados cerca de doze anos da reabertura dos trabalhos na BR, os Katukinas avaliam que somente 50% da demanda da comunidade foi atendida. “Por esta parte estamos satisfeitos, agora por outra, estamos tristes. No governo passado foram anos e anos planejando e deste planejamento pouca coisa foi atendida.” disse o cacique-geral do povo Katukina, Fernando (Capi).”Da parte da empresa Colorado, Orleir Cameli,o que ele prometeu, ele fez. O que faltou foi da parte do estado, como a finalização e os quebra-molas. Vamos reapresentar, para que seja atendido este ano.“

Com pouca caça e quase nenhum peixe, os Katukina estão tendo que se adaptar a atividades até pouco desconhecidas para o povo, como a piscicultura e criação de galinhas. No ano passado, um atropelamento de um jovem Katukina, que morreu após mo acidente, deu origem a uma onda de suicídios e tentativas entre os katukina.

(Leandro Altheman) Publicado originalmente no site Juruá Online

Um comentário:

  1. Leandro, isso me deixa muito preocupada mesmo! Como falei num comentário em uma postagem anterior, aqui em Rondônia estamos sofrendo sérias consequências com relação a implantação das Usinas Hidréletricas, inclusive recentemente houve um episódio lamentável. Muitos ativistas, estudantes e uma minoria política manifestou-se contra a implantação explicando os nocivos efeitos colaterais... Não teve jeito. Quando digo que estou preocupada, é porque percebi que quando os principais interessandos querem, as coisas acontecem. A construção da BR é um exemplo de que os atingidos pelas obras "de progresso" têm muito a perder. O que me dói é que são pessoas que vivem Terra mãe no sentido abrangente, do da alimentação ao espiritual, num espaço "herdado" de ancestrais de muitos e muitos anos...

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