terça-feira, 21 de junho de 2011

Frágil Comunicação
























Papo sério...

Um colega de trabalho, tão desempregado quanto eu próprio, veio me reclamar da falta de autonomia nas decisões que emperra praticamente tudo aqui no Juruá. Drama sentido na pele pela equipe de jornalismo da TV Aldeia, há dois meses sem receber.

O resultado das últimas eleições trouxe para muitos a seguinte leitura: não vale a pena investir em um meio de comunicação caro e dispendioso como o sistema público de comunicação, se o seu impacto social é pequeno, em outras palavras: pouca audiência e quase nenhum dividendo político. Parece ser mais interessante investir diretamente nas empresas de comunicação já com audiência consagrada do que tentar disputar de igual para igual com elas, e perder.

Num primeiro momento faz sentido. Mas estive à frente de um importante meio de comunicação o tempo suficiente para saber que as coisas não são bem assim. Isto porque em parte audiência destes meios de comunicação se consagra por contemplar na sua pauta assuntos mais populares e uma abordagem popular. Isto faz com que a pauta diária se afaste naturalmente dos assuntos "de governo".
Ou seja, se não houver uma assessoria capaz de produzir material para alimentar as empresas de comunicação, as pautas "governamentais" acabam sendo preteridas por outras, talvez até de menor importância social, mas que sejam mais apelativas no que cerne à audiência. Não há nada de errado nisso, é a dinâmica de um meio de comunicação que depende de audiência para se manter. Mas o fato é que o problema permanece: a população deixa de conhecer o trabalho do governo e sua importância.
Testemunhei o fato de que a prefeitura de Cruzeiro do Sul, com menor estrutura, conseguia ter um alcance maior na divulgação de suas ações. Isto porque a sua assessoria produz material para os meios de comunicação locais, resolvendo parte do problema da falta de conteúdo dos jornais.

Nem de longe isso se trata de uma crítica pontual ou pessoal. É uma questão de redefinir os papéis do Sistema Público de Comunicação. Ou se parte definitivamente para um trabalho de assessoria de imprensa, sem medo de ser feliz ou se redefine o sistema como realmente público, o que não é sinônimo de estatal.

Hoje no Juruá não há uma coisa nem outra, e se o resultado político na última eleição foi insatisfatório, pode se esperar um fiasco ainda maior no próximo se a questão não for redimensionada.

Se o papel escolhido for o de uma assessoria, ótimo, é só colocar a estrutura para produzir em cima dos trabalhos das secretarias no Juruá. Caso a decisão seja realmente criar um sistema público de comunicação, então teremos que ... ouvir o público e não tentar fazer com que o público diga aquilo que o governo quer ouvir.

A coisa não funciona deste jeito e mesmo sendo ainda a maior parte da população do Juruá de baixa escolaridade (quadro que está mudando), a sensibilidade fala mais alto e o povo percebe que está havendo manipulação grosseira. Já quando a manipulação é pensada in loco, mesmo quando tosca, costuma funcionar...


Que me desculpem os bons profissionais da Companhia de Selva, mas a linguagem elaborada por eles nunca 'colou' por aqui. Talvez algo bem mais simples, sem tanta elaboração case muito melhor com o jeitão 'meio brega' da nossa gente.







Um outro aspecto é o impacto que o fechamento de um meio de comunicação teve sobre a categoria no que se refere a questão trabalhista. Uma categoria já fragilizada pela decisão do STF de abolir a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão se vê quase que impelida a buscar outros meios de vida, ou se submeter as condições aviltantes por vezes impostas pelas empresas que têm no jornalista 'um qualquer'. Só quem ganha com isso são os...













Com seus pensamentos cheio de incertezas e muitas vezes sem ser valorizado pelo seu trabalho, é assim muitas vezes que vai para rua um profissional para defender os interesses da população, sem a garantia que seus próprios direitos serão respeitados.

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