Relutei muito em fazer uma postagem sobre o assunto, uma vez que poderia parecer que estaria expondo o meio de comunicação em que trabalhava. No entanto, decidi que meu público tem o direito de saber porque não estou mais a frente do maior meio de comunicação do Juruá e para este fim, utilizar o humilde espaço deste blog para isso, não me parece assim, algo tão recriminável.
Então vamos lá.
Em primeiro lugar, antes de quaisquer explicações quero deixar claro que a apesar das divergencias de pensamento, meu maior sentimento que fica é o de gratidão. Comandar o maior meio de comunicação do vale do Juruá, ainda que por um curto período, é uma experiência que não tem preço. E agradeço a esta oportunidade ao dono da emissora, James Cameli a quem, sempre considerei e considero, um amigo.
E é justamente por considerá-lo um amigo, que me sinto totalmente a vontade de discordar das posições tomadas à frente da empresa, que culminaram com minha demissão voluntária.
Creio ser mais honesto o livre e respeitoso discordar do que a falsa suberserviência que apenas aguarda o momento oportuno para cravar as presas peçonhentas na vulnerável jugular.
As razões que levaram a esta decisão tiverma início a partir da contratação de um recém-formado Engenheiro de Produção para o cargo de direção da empresa. Nada pessoal.
Houve uma promessa por parte de James Cameli de que o novo administrador não faria ingerências no jornalismo. Promessa que foi por incontáveis vezes, descumprida. O novato, em parte encantado pela comunicação e outra com o próprio poder que o cargo trazia, começou a dar 'pitaco' em tudo: desde conteúdo do jornal até o enquandramento das câmeras.
Por fim, resolveu reiventar a roda e propôs, em uma reunião que cumprissemos uma escala de trabalho. Ora, isso era exatamente o que já vinhamos fazendo há mais de anos. Apresentou a idéia como grande 'novidade' como se tivesse sido iluminado pelo espírito do saber.
Após a sua 'epifania luminosa' tentou impor que nossas três reporteres acumulassem novas funções, sem a devida remuneração. A repórter Jaqueline Teles (prêmio estadual de jornalismo em 2009), disse cabalmente que recusava-se a cumprir nova função, ampliando sua carga horária, a menos que isso implicasse em acréscimo no salário. Foi esta posição, em conformidade com o que estabelece o sindicato da categoria, que lhe custou a alcunha de "preguiçosa", pecha que foi também direcionada à outra colega de trabalho, Dayana Maia.
Jaqueline cabou sendo demitida por recusar-se a acumular funções sem a devida remuneração.
Assim, a RTV Juruá livrou-se questionadora Jaqueline Teles e o público ficou sem questionadora Jaqueline Teles. Ou seja, o que a empresa considera como defeito, é na verdade a maior qualidade de um jornalista.
Não podia admitir também o que foi dito de Dayana Maia. Nos momentos mais difíceis de saúde ou de desgaste mental, foi ela quem me socorreu. Sem que nunca fosse necessário pedir, Dayana sempre ocupou a minha função nos momentos de maior cansaço, enfrentando como uma verdadeira Valquíria, o Sol e Chuva inclementes do Juruá.
Seguindo a mesma lógica da linha de produção de uma fábrica de salsichas, o novo diretor enviou relatório em planilha, apontando apenas uma repórter como 'produtiva'. Ocorre que em sua avaliação, três 'stand-ups' (VT que demoram menos de 5 minutos cada um), valem mais do que uma matéria bem produzida, bem pensada.
Assim permanece a velha política do 'encher lingüiça', onde o âncora, pela falta de conteúdo do jornal se vê obrigado a entreter o público com um 'show man', comentando e dando opiniões até sobre aquilo que desconhece. Ninguém é obrigado a saber tudo, mas como gerar conteúdo crítico, se os repórteres são cobrados em quantidade e não em qualidade de produção?
A opinião que deixei explicita na minha carta de demissão é de que jamais houve 'preguiça' na minha equipe mas que sempre tive que lutar contra o 'monstro da desmotivação', simplesmente pelo fato de que o trabalho destes profissionais nunca foi reconhecido e que a epresa dobrou o seu faturamente, sem compartilhar o fruto deste sucesso com aqueles que sempre carregaram a empresa nas costas.
Não é momento de falsa modéstia, sou formado em jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, considerada a melhor escola da América Latina nesta área e uma das melhores do mundo. Se a opinião profissional de um engenheiro recém formado e recém chegado na área vale mais do que um jornalista formado na melhor escola deste país, com 15 anos de profissão, não há realmente motivos para permanecer no cargo.
A gota d'água veio quando fui solicitado a selecionar currículos e treinar estagiários como forma de pressionar minha equipe a cumprir tarefas além de suas atribuições. Não aceitei e por isso pedi minha demissão.
Com isso fica claro que a política da empresa é formar um staff de estagiários obedientes pela metade do preço.
Não há interesse da empresa em zelar por uma informação de qualidade para o público.
Sempre afirmei e afirmo que faço jornalismo para o público e não para o patrão.
Gostaria de poder mudar esta realidade, não para manter o polpudo salário que a empresa me pagava, mas pelo respeito e compromisso que tenho com o meu público e com as tranformações sociais que virão a reboque do crescimento econômico do Juruá.
Mas, a empresa fez suas escolhas e eu faço as minhas, se não posso mudar esta mentalidade, fico feliz e já me sinto em parte vitorioso por não participar dela.
Considero que é importante a lealdade à linha editorial da empresa, mas definido isto a notícia deve ter como foco o telespectador, ouvinte e leitor, e não o dono da empresa ou os anunciantes. Esse é o Jornalismo que eu aprendi da Escola e este é o Jornalismo que faço todos os dias.
É com este mesmo respeito que me despeço do público da RTV Juruá.
Caro Leandro,
ResponderExcluirParabéns pelas suas convicções. Não arrede pé delas pois mais cedo ou mais tarde os "inventores da roda" pagarão pelas barbeiragens cometidas.
Um abraço.
Prezado Leandro,
ResponderExcluirSempre tive apreço e respeito pelo seu profissionalismo , sentimentos estes que agora, diante de uma atitude desta, meu caro, só dobraram de tamanho. Poucos teriam a decência e o caráter que você teve nesta situação.Assim como também teve a Jaqueline.
Que isto sirva de exemplo para toda classe jornalistica ou qualquer outra categoria que queira ser respeitada e valorizada.
O triste de tudo é saber que a maior empresa de comunicação da região, prefere o estrelismo de alguns doutos iluminados à seriedade, ao compromisso com a noticia, à simplicidade e ao bom cárater, tão escasso no jornalismo atual.
Fica meu repúdio também ao assédio moral sofrida pela minha colega de curso Dayana Maia, vindo de um cidadão que nunca pôs os pés na rua para gravar ou produzir uma matéria jornalística. Chamar um reporter de " preguiçoso ", estando esse iluminado engenheiro com a bunda sentada no ar condicionado, é no mínimo um despreparo profissional. Uma prepotência que a lei trabalhista não aceita.
Pelo que você disse, vale lembrar que o mesmo amigo seu é quem da as ordens ao engenheiro.
ResponderExcluirkkkk. Gladson Cameli pra senador. Zu livre!
ResponderExcluirÉ uma pena que o James tenha abandonado a linha de construção de uma gestão por metas construídas a partir da visão de cada equipe e, sabe-se lá por que, acreditado que os exercícios caricatos de livro-textos de administração substituiriam tanto tempo de diálogo para construção de consensos mínimos visando um projeto de Comunicação Social com a cara do Juruá. Calcula-se que a essa hora o nobre descendente dos Cameli já esteja bastante arrependido, visto que a qualidade da programação caiu a olhos vistos.
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