sábado, 15 de setembro de 2012

Sobre o Debate: Na frente e por trás da Câmeras

As especulações sobre quem possa ter vencido o debate são vazias. Cada torcida declara o seu candidato,  vencedor. Mas inequivocamente houveram sim, vencedores.

Em primeiro, certamente o público. Um debate televisionado como este alçou a política cruzeirense a um degrau acima.
Vitória também, é claro, do Sistema Juruá de Comunicação. Uma óbvia vitória técnica por um lado e outra não tão óbvia vitória que é da linha editorial adotada da empresa que procurou garantir igualdade de oportunidades para ambos os candidatos.
Certamente, uma vitória pessoal  também de Nelson Liano Jr. Artífice e cabeça do processo que culminou com o debate nas telas, Nelson saiu-se bem no papel de moderador, produzindo o mínimo de intervenção necessária.

Mas a maior dificuldade veio antes do debate: não é fácil ter jogo de cintura para colocar na mesma arena dois adversários, principalmente quando não existe esta cultura na democracia de Cruzeiro do Sul.

Profissionalmente, meu papel foi produzir questionamentos que pudessem ser relevantes no processo eleitoral. Optei pela questão do plano diretor, pois se já o tivéssemos aprovado, não sobraria muito espaço para politicagem de varejo, como por exemplo na questão do asfalto cujo andamento de trabalho segue simplesmente a lógica demagógica da quantidade de votos, e não o planejamento de crescimento da malha urbana da cidade. E nisso, ambos os lados pecam.

Pessoalmente tiro minhas próprias conclusões, e é bom que se deixe claro que as posições assumidas no blog Terranáuas refletem opinião pessoal e não meu trabalho de jornalista.

Na minha opinião, Vagner Sales levou vantagem do início até aproximadamente a metade do debate.
Sua linguagem mais popular, mais presente e mais pé-no-chão tem mais alcance eleitoral, mais penetração no público, mais fácil de ser assimilada. O domínio sobre as ações da prefeitura sob sua gestão também lhe conferiram vantagem.

Henrique por outro lado, durante a apresentação das propostas pareceu-me um tanto quanto vago, idealista e sonhador demais, não para mim, mas para o conjunto majoritário do eleitorado cruzeirense. Pessoalmente acredito que o caminho adotado por Henrique, de fazer de Cruzeiro do Sul uma referência nacional e até mundial, pelas suas potencialidades humanas e biológicas, através do ecoturismo e da produção diferenciada, não é apenas o melhor caminho, como o único possível para que Cruzeiro do Sul cumpra o seu destino, seu propósito existencial, por assim dizer, de capital florestal do Alto Juruá.
No entanto, pelo andar nas ruas, nota-se que o eleitorado ainda não está maduro  e para esta imensa maioria, as propostas parecerão devaneios pueris. Raramente o ribeirinho, ou o morador desempregado das periferias irá estabelecer uma relação entre o "ecoturismo" e uma possibilidade real e concreta de melhora de vida para sua família. Para estes só vendo para crer, e as vezes mesmo vendo ainda não se crê.

Vagner também se saiu melhor ao responder as críticas de Henrique sobre aspectos de sua gestão. Municiados de números das ações de sua equipe, Vagner tinha quase sempre uma resposta na ponta da língua, embasando a idéia (falsa ou não) de que Henrique de fato não vive tão intensamente o dia-a-dia de Cruzeiro do Sul.

Talvez por este desconhecimento, Henrique perdeu diversas oportunidades de uma investida mais incisiva em Vagner, como por exemplo na questão dos Postos de Saúde. O fato de estarem sendo construídos diversos postos, não explica por exemplo, o funcionamento precário dos que já existem e muito menos como se farão funcionar os novos postos. Mas a oportunidade escapou entre os dedos do desafiante.



O debate contudo, pendeu a favor de Henrique quando o assunto passou a ser os supostos desvios de recursos da gestão de Sales e os processos de improbidade administrativa a qual responde na justiça. Vagner ficou visivelmente alterado culminando com os segundos de silêncio que se seguiram a partir da pergunta de Henrique  sobre o "Ficha Limpa". O extremo nervosismo de Sales resultou no pedido de
retirada de Chico Melo dos estúdios. Segundo Vagner, este o estaria "atrapalhando". Francamente, de onde estava, vi apenas que Chico Melo havia levantado um papel na direção de Henrique, mas é provável que tenha feito alguma "cara estranha" ao ver a palidez de Vagner. Todos nós fizemos. A pergunta de Henrique foi um legítimo tiro à queima-roupa.  

Por duas vezes Vagner mais uma vez quis usar o fato de que Henrique tenha vendido sua casa própria e que não tenha declarado sua nova casa.

Henrique não quis explicar o motivo da venda de sau casa própria, pois correria o risco de parecer piegas e sensacionalista. Henrique não pode falar mas eu posso: ele vendeu sua casa para custear o tratamento de um de seus filhos adotivos, que sofre de uma forma particularmente virulenta e incurável de câncer no sistema linfático.

O tiro também saiu pela culatra quando Vagner chamou Henrique de mentiroso por não ter declarado sua casa própria, recentemente comprada. pela legislação ele só é obrigado a declarar a partir do próximo ano.

"- Se quiser entrar na justiça, entre, vai perder o seu tempo!" Fuzilou Henrique.

Um outro ponto favorável à Henrique foram a questão das emendas. Vagner tentou colar a ideia de que somente contam como recursos para Cruzeiro do Sul, aqueles que passam pelas suas mãos através da prefeitura. Henrique respondeu à altura, mas poderia ter sido mais claro para o eleitorado.

Em geral, acredito que o debate serviu para que a população conhecesse melhor os candidatos. No entanto, como um eleitor indeciso, na minha opinião Henrique não me convenceu de que possa ser um melhor administrador do que Vagner, exceto por um aspecto: a mal-versação de recurso público. Vagner pelo seu turno, também não convence de que seu segundo mandato possa ser melhor que o primeiro. Na verdade tende a ser pior, com o foco voltado exclusivamente para a eleição de Antônia Sales e sua própria possível eleição para Dep. Federal, outro ponto que Henrique não soube explorar.

O "Lunático" X O "Macumbeiro" 

Do lado de fora, a oportuna presença da PM evitou que o acirramento das tensões entre os partidários pudessem partir para o campo físico, mas não impediu, obviamente a troca de impropérios entre as torcidas.

A torcida do azul, por exemplo, chamou Henrique de "doido", "lunático" e "aluado".

A acusação de lunático partiu de um ex-assessor e ex-aliado de Henrique, Marcos Neto. Evangélico e Ufólogo (não acreditava que era possível ser as duas coisas) ele deve conhcer bem do assunto. Afinal quem se dedica a estudar Objetos Voadores Não-Identificados deve de fato ser capaz de identificar se um sujeito é proveninete da Lua, Marte, Vênus ou quem sabe, do cinturão de asteróides. 

Por outro lado, o time de laranja lançou contra Vagner as acusações de "ficha suja" e "macumbeiro".


Não entendi porque os laranjas estavam gritando "fora macumbeiro" e perguntei a um dos partidários, o porque da acusação.

-"É porque o pai de Antônia Sales era o maior macumbeiro!"

- "Puxa, essa eu não sabia." Disse.

A palavra "macumbeiro" é um termo perjorativo que inclui centenas de práticas mágico-divinatórias e curativas com as mais diferentes finalidades e intensidades. É um termo impreciso e carregado de preconceito que deveria ser abolido do mesmo modo que os "crentes" conseguiram substituir pela expressão    "evangélico", por moldar-se mais às suas necessidades de identidade social.

Desconheço qual tipo de "macumba" possa ter feito o pai de Antônia Sales, mas uma coisa é certa: a magia ucayalina merce respeito. Em Pucalpa não tem político, artista ou empresário que se preze que não tenha o seu "brujo". Faz parte da rica cultura selvática e o que o povo do Tawantinsuyu  faz desde antes dos primeiros cristãos pisarem nestas bandas, deveria ser alvo de respeito e não de deboche. No Peru há um ditado que eu gosto muito "O peruano não acredita em magia, ele a faz".

Merece respeito também porque se o 'brujo" fez algum trabalho para ajudar Vagner e Antônia Sales, aparentemente está dando certo.

Se Vagner fosse capaz de declarar publicamente que é um adepto de 'brujeria", eu talvez fosse até capaz de votar no 15. Algo que certamente ele não o fará, pois o meu voto não é mais importante do que o de milhares de "crentes" que abominam tudo aquilo que desconhecem. Vitória da hipocrisia, uma vez mais.

4 comentários:

  1. "a magia ucayalina merce respeito. Em Pucalpa não tem político, artista ou empresário que se preze que não tenha o seu "brujo". Faz parte da rica cultura selvática e o que o povo do Tawantinsuyu faz desde antes dos primeiros cristãos pisarem nestas bandas, deveria ser alvo de respeito e não de deboche. No Peru há um ditado que eu gosto muito "O peruano não acredita em magia, ele a faz". vivendo e aprendendo!!!

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  2. Sensacional análise Leandro, direto ao ponto. Se os marqueteiros não leram, estão perdendo.
    Eu não escondo de ninguém a minha ojeriza contra a administração que aí está e confesso que minha torcida contra foi tanta que me passaram despercebida estas falhas graves que o candidato do PV cometeu e que vc magistralmente pontuou aqui. Henrique perdeu realmente uma grande oportunidade de jogar toda empáfia do Vagner no chão. Agora, mesmo com toda sua arrogância o 'coronel' não merece sofrer este tipo de preconceito religioso. Não justifica e chega a ser vergonhoso. A disputa tem que ser limpa e restrita ao campo da política. Não fica bem para quem prega " uma nova forma de fazer política", agir desta forma.

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  3. Ainda bem que tenho dos companheiros baluart na comunicação de cruzeiro, camarada Jairo, o Nolasco e o nobre Leandro Altheman.

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