Por Gustavo Magnani,
Esta
matéria não estava nem em pauta hoje. Mas, devido ao alto número de
leitores que me enviaram, quando vi do que se tratava, bem, achei
necessário trazer para cá. A notícia é retirada do G1, portanto, quem já
leu, pode pular até a parte em que discutiremos:
"Cerca de 14 alunos evangélicos da Escola Estadual Senador João Bosco Ramos de Lima protestaram na frente da instituição nesta sexta-feira (9) contra a temática proposta na sétima feira cultural realizada anualmente na escola.De acordo com um dos alunos, Ivo Rodrigo, de 16 anos, o tema “Conhecendo os paradigmas das representações dos negros e índios na literatura brasileira, sensibilizamos para o respeito à diversidade”, vai de encontro aos preceitos religiosos em que acredita. “A Bíblia Sagrada nos ensina que não devemos adorar outros deuses e quando realizamos um trabalho desses estamos compactuando com a idéia de que outros deuses existem e isso fere as nossas crenças no Deus único”, afirmou o aluno.Para a professora coordenadora do projeto, Raimunda Nonata, a feira cultural tem o objetivo, através da literatura, de valorizar as diversas culturas presentes na constituição do Brasil como nação. “Através deste projeto podemos proporcionar um debate saudável sobre a diversidade étnico-racial brasileira. Mas não foi isso que aconteceu”, disse a professora.Segundo a professora, os alunos se recusaram a ler livros clássicos como ‘Ubirajara’, ‘Iracema’, ‘O mulato’, ‘Tenda dos Milagres’, ‘O Guarany’, ‘Macunaíma’, entre outros, por apresentarem questões como “homosexualidade, umbanda e candomblé”.Segundo a diretora da escola, professora Isabel da Costa Carvalho, os alunos montaram uma barraca sem a autorização da direção na qual abordaram outra temática que fugia à proposta inicialmente. “Eles montaram uma tenda com o nome ‘Missões na África’ na qual abordavam a evangelização do povo africano em seu próprio território”, explicou a diretora. A diretora afirmou ainda que a atitude dos alunos desrespeita as normas e o plano de ensino da escola.Alunos realizaram mostra paralela, chamada ‘Missões na África’ (Foto: Tiago Melo/ G1 AM)Outra estudante, Daniele Montenegro, de 17 anos, argumentou que desde o 2º bimestre os alunos vem apresentando a proposta à direção. “Desde o início do ano que tentamos falar com a diretoria e eles nos negaram uma reunião pra discutir o assunto. Somente nos proibiram de apresentar outro tema. Fomos humilhados em sala de aula por colegas e pelo nosso professor de história”, contou a estudante.A feira cultural, que teve sua primeira edição em 2006, aconteceu na quarta-feira (7) e nesta sexta. Ao final dela, pais, professores, coordenadores, alunos, representantes de turma se reuniram para debater a questão. “Minha filha é uma das melhores alunas da sala e por preconceito por parte dos professores, a nota dela e da turma da ‘Missões na África’ foi reduzida abaixo da média”, afirmou dona Wanderleia Noronha, mãe de Stephane Noronha, de 17 anos, do 3º ano.Ao final da reunião, o conselho escolar decidiu por mais uma reunião, a ser realizada na proxima semana, que contará com agendes da Seduc. “Discutiremos como ficará a questão das notas dos alunos. Se será necessário fazermos uma avaliação diferenciada para eles ou se avaliaremos o projeto ‘Missões na África’”, afirmou a diretora." [Retirado do G1]
Ontem
(09/11/2012) foi ao ar uma excelente matéria do colunista de filosofia
sobre liberdade de expressão. A leitura é mais do que indicada e
linkarei a matéria no final desta. Uma das conclusões que pode-se tirar é
que as pessoas deveriam ser livres para dizer o que pensam e, caso
tenham um pensamento racista [como ele usa de exemplo], deveriam ser
ensinadas ou ouvir as “provas” de que sua opinião não é correta. Mas,
digo também que, como vivemos em sociedade, tais pessoas terão de arcar
com as consequências. Nada mais natural. Toda aquela história de ação
gera reação etc.
Pois bem, os alunos possuem direito em se negar a fazer o trabalho? Sim, com certeza. Todavia, os professores possuem o direito em dar-lhes uma nota negativa. E nós possuímos o direito em
discutir o assunto. A proposta do projeto escolar não é “converter”
ninguém às religiões africanas ou, quiçá, ao homossexualismo. Como disse
a professora, o objetivo era “proporcionar um debate saudável sobre a diversidade étnico-racial brasileira”
através da literatura. E você apresentar um projeto de “Missões
Evangélicas na África”, pelo amor de deus, foge completamente ao tema
[pra não dizer que é, de certa maneira, controverso]!
O jovem Ivo Rodrigues disse: “A Bíblia Sagrada nos ensina que não devemos adorar outros deuses e quando
realizamos um trabalho desses estamos compactuando com a ideia de que
outros deuses existem e isso fere as nossas crenças no Deus único“. OI? Você
realizar um trabalho significa que acredita e compactua com aquilo? Ai
de quem estuda o racismo! Ai de quem estuda a inquisição! Aí eu começo a
me perguntar: onde está a “rocha”, citada na “Bíblia Sagrada”, na fé
desses indivíduos? Porque, se na concepção deles, estudar determinada
cultura os fará compactuar com outros “deuses’, por favor, não há
certeza nenhuma nessa crença evangélica desses estudantes [e não estou
dizendo que uma crença deve ser forte e irredutível, estou apenas
partindo do pressuposto deles].
Ou seja,
além de mostrar um “xenofobismo religioso”, um etnocentrismo, ainda
salienta uma contradição pessoal: “não vamos estudar esses temas para
não sermos convertidos”. Que bela ‘fé na rocha’ em! Se um mero projeto
pode converter esses cidadãos, que eles não saiam de casa. Reforço mais
uma vez: não estou dizendo que uma fé deve ser irredutível. Estou
partindo do pressuposto deles. Outra coisa que devo reforçar: eles
possuem o direito de não se submeter ao projeto. Todavia, estão na
escola e a escola é, supostamente, um lugar de aprendizado, onde se
estuda várias culturas [inclusive a cristã e a judaica], na ideia de
que, assim, o ser humano aprenderá mais, terá contato com tantas outros
ensinamentos que podem ajudá-lo como ser humano e profissional.
E, estudar
a cultura negra é parte do currículo escolar. E, estar na escola é
obrigatório por lei. Ou seja, legalmente falando, você é sim obrigado a estudar diversas
culturas. De maneira alguma os rituais e as crenças lhe são impostos,
mas, o estudo, sim. O assunto dá muito pano pra manga, inclusive na
questão da liberdade de expressão. Todavia, como o João tratou disso
essa semana, não quis me prolongar no assunto, pois é apenas ler o texto
e encaixar no contexto da notícia. A questão é que: o projeto não fere
nenhum direito religioso e, se não for cumprido corretamente, deve sim
ser dado uma nota baixa. Não é porque é evangélico, negro, gay,
católico, budista, que deve ter privilégios e ser avaliado de uma
maneira diferente, quando o único argumento é de que “não farei isso
porque posso ser contaminado”.
E que
ainda fique bem claro: o projeto é completamente diferente do que uma
aula de “Ensino Religioso” onde, muitas vezes, a professora está lá para
pregar o cristianismo [eu tive aula de E.R, mas, minha professora
jamais se fixou numa doutrina cristã. Pelo contrário, abordávamos de
tudo - e, curiosamente, ela é mãe do Gabriel, colunista de História -].
Nesse caso, de pregação, o aluno tem todo o direito de não se submeter.
Todavia, num caso de estudo cultural, ele deve ser
punido com nota baixa, de acordo com os critérios de avaliação do
professor. – e ainda deveria ler alguns escritores, para tentar abrir um
pouco a mente.
A matéria
deve gerar uma boa discussão. Espero que tenham gostado da exposição e
dos argumentos apresentados. Aguardo os sempre excelentes comentários.
No mais, não esqueçam de curtir/compartilhar e claro, se possível, votar
no literatortura para topblog2012! – segundo turno [último dia!]
Coluna de Filosofia, matéria citada: Liberdade de Expressão
obs: acho
extremamente importante salientar que o grupo de estudantes não
representa a totalidade dos evangélicos. E também saliento que não
tenho nada contra o segmento religioso. Tenho amigos e familiares muito próximos que participam de congregações.
obs2: pode
parecer que não, mas tive que ser sucinto e me conter em muitos
aspectos da matéria. Caso contrário, ela ficaria ainda maior haha.
Selecionei 3 comentários no G1 que me chamaram atenção e podem prevenir alguns esquentadinhos:
Erick Coelho: Espera aí!!!! Qer dizer qe defesa e respeito à diversidade vale apenas p/negros, índios, gays? E os evangélicos não merecem respeito às suas crenças? Se é uma escola evangélica qe proibisse a apresentação de outras religiões seriam condenados a morte, mas o contrário não pode, evangélicos tem obrigação de respeitar a todos, mas e o contrário? RESPEITO, DINHEIRO NO BOLSO E CANJA DE GALINHA NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM! Quem quer ser respeitado, antes de tudo respeita! Respeitem os evangélicos porque o senso prova que existem, fazem parte de um país com uma diversidade imensa de crenças!
nenhum evangélico foi desrespeitado no projeto. Em momento algum!
Ronilson Viana: Parabens a esses jovens que assim como Sadraque, Mesaque e Abedenego, se recusaram a adorar a estátua do Rei Nabucodonozor e foram lançados na fornalha, mas lá dentro da fornalha já estava o QUARTO HOMEM, Jesus para os livrar. Parabéns, o nome de Jesus foi certamente glorificado!
Bela analogia:
Daniel
3:10 Tu, ó rei, baixaste um decreto pelo qual todo homem que ouvisse o
som da trombeta, do pífaro, da harpa, da cítara, do saltério, da gaita
de foles e de toda sorte de música se prostraria e adoraria a imagem de
ouro;
Daniel 3:11 e qualquer que não se prostrasse e não adorasse seria lançado na fornalha de fogo ardente.
Daniel 3:11 e qualquer que não se prostrasse e não adorasse seria lançado na fornalha de fogo ardente.
Realmente. A escola ameaçou os alunos caso eles não se prostrassem aos deuses africanos [...]
Ricardo Aguiar: Nunca vi dizer que um professor passou um trabalho falando sobre a cultura evangélica! Isso é um país laico? Que pais é este que não temos liberdade nem respeito pra decidi o que devemos ou não fazer? Se pedíssemos para fazerem um trabalho com musicas evangélicas ou até mesmo um trabalho de pesquisa dentro de uma Igreja Evangélica será que iriam? Falar é fácil difícil é está em nosso lugar onde na verdade nós é quem somos desrespeitados!
Sim. É um
país laico, mas que favorece a religião cristã em sua totalidade.
Liberdade, bem, afirmar que temos em sua totalidade, hum, acho que não.
Mas, não vou me ater nisso porque já falei bastante ao longo do texto.
E, se o professor abrir para que “os alunos decidam qual trabalho fazer’
[o que acho esquisito, assim, aleatoriamente], duvido que proibiriam.
Claro, não adianta o trabalho ser sobre a cultura africana e aí sugerir
fazer uma pesquisa sobre a Missão Evangélica na África… Seria esquisito
demais… – ops!
*****
O
Literatortura foi para o segundo turno graças a vocês! Todos os votos
são zerados, por isso, pode-se votar novamente. Vote no literatortura
para TOPBLOG 2012: Mais informações clique aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário