A “administração sem crise” passa longe
da porta da casa do vendedor Leandro Pinheiro. Residente da “Avenida
Leopoldo de Bulhões” no bairro do Telégrafo, Leandro convive com a água
fétida do esgoto que é derramado diariamente no quintal de sua casa. Com
o aumento de volume das águas no período de inverno, a cada chuva as
águas se aproximam mais do assoalho. Risco de saúde permanente para sua
pequena filha de apenas um ano de idade.
A bueira e a canalização foram
construídas no local há mais de dez anos. A falta de manutenção e de
coleta de lixo fez da antiga estrutura uma ruína sem nenhuma finalidade
prática, a não ser lembrar aos moradores que um dia já existiu ali tal
obra.
Segundo Leandro o contato com a
secretaria de obras foi infrutífero: “o secretário nos disse que a obra
não era prioritária e que não poderia ser feito nada neste inverno”.
Na “avenida” Leopoldo de Bulhões é
difícil encontrar quaisquer rastros de que exista uma administração
municipal: o mato toma conta do espaço que deveria ser destinado às
calçadas (inexistentes) e uma caixa d’água serve de lata de lixo
improvisada para que o caminhão da prefeitura faça a coleta.
Já os moradores da rua Martinho do Carmo
Souza, também no bairro do Telégrafo reclamam que a coleta de lixo não é
constante. Aparentemente os três novos caminhões de lixo, alardeados em
campanha eleitoral como fruto de emendas parlamentares não trouxe
beneficio para estes moradores que vivem em uma área central da cidade,
vizinhos ao Instituto Santa Terezinha, uma das mais tradicionais
instituições de ensino da cidade.
“O caminhão da prefeitura passa apenas
uma vez por mês. Mas quando tocamos fogo, assim que levanta fumaça
aparecem os fiscais” Disse um morador que se identificou apenas como
“Grilo”.
Não é preciso ir longe para encontrar
problemas na “administração sem crise”: buracos e lixo proliferam pelas
ruas do centro da cidade na mesma velocidade dos ratos e urubus que
passeiam sem serem incomodados.
Alguns problemas são agravados pela
falta de relação institucional entre prefeitura e governo do estado. No
bairro do Remanso há um claro exemplo do resultado da política de usar a
população como “trincheira política” da oposição. Na rua do Remanso o
DEPASA abriu uma vala no asfalto para passagem da rede de água que irá
atender à comunidade do Santo Cruzeiro. Mesmo depois de concluída a
rede, a prefeitura não cobriu o local aberto e com as chuvas a rua perde
a cada dia sua já precária trafegabilidade. Um descuido muito bem
calculado do ponto de vista político: descumprida a obrigação
constitucional da prefeitura, a população acaba por culpar o DEPASA pelo
estrago, colocando o ônus político nas costas do estado.
Enquanto isso no bairro Nova Olinda, os
moradores aguardam a ligação da rede de água prometida pela
“administração sem crise”. Cerca de sete dias antes da eleição, operosos
funcionários de uniforme azul instalaram uma extensa rede de água, mas
até o momento não há uma gota nas torneiras. Procurados por nossa equipe
de reportagem, os funcionários esclareceram que o poço artesiano não
havia sequer sido repassado à prefeitura e que não havia previsão de o
sistema entrar em funcionamento.
Estes são apenas alguns “relances” da
real condição da segunda maior cidade do estado. Cruzeiro do Sul
reflete em suas ruas o desmazelo de uma administração que se mostra
incapaz de cuidar dos velhos e novos problemas urbanos, mas cujo gestor,
agora elevado à condição de “liderança da oposição” pela imprensa da
capital, mostra-se a cada dia um hábil e exímio “administrador de
votos”.
O preço de ter se tornado a “trincheira
da oposição” é pago pela população de Cruzeiro do Sul: terá de conviver
por mais quatro anos com uma administração faz uma opção política dos
problemas que escolhe resolver, enquanto a imprensa da capital destila
matérias laudatórias de uma cidade que só existe em faz-de-conta.
Escrito por Leandro Altheman
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