quinta-feira, 27 de maio de 2010

O Soma



Leandro Altheman

Uma tarefa difícil é manter um blog que ao mesmo tempo de propõe a tratar de temas espirituais e políticos. Depois de uma sequência de postagens sobre a formação do pajé dentro do universo Yawanawá, não pude ficar calado diante dos acontecimentos envolvendo Irã e Brasil. Não que eu seja simpático ao fundamentalismo. Pelo contrário. Todo fundamentalismo é execrável, seja ele islâmico ou cristão.
Mas quiz mostrar com o post anterior que o Irã é bem mais do que isso.

Um comentário vindo de um anônimo (agora não mais!) deu-me a deixa para voltar a tratar do assunto apaixonante que é a relação entre o homem e as chamadas plantas de poder.
O comentário fala da combinação entre a acácia e a harmala. Uma versão asiática da nossa combinação entre o cipó (uni, mariri, jagube, ayahuasca) e a folha (cawá, chacrona, rainha, tzacuruna).
A combinação asiática é descrita em textos antigos e pode ter sido uma das muitas versões do Soma, uma bebida capaz de elevar o pensamento de quem a usa em um contexto sagrado. É possível encontrar diferentes descrições para o Soma, como cogumelos, por exemplo e situando-o na Índia e não no Oriente Médio. No entanto me parece que a palavra Soma tenha se tornado mais um conceito de uma bebida espiritual do que propriamente uma bebida específica. Há informações de que uma certa "acácia suma" tenha sido objeto de devoção na Índia. O Soma é descrito tanto nos Vedas hindus quanto no Avesta (livro sagrado Iraniano).
Bem, e o que é a acácia?
Acho que todos já ouviram falar da "sarça ardente" que conversou com Moisés no Monte Sinai. Isto mesmo, é ela.
Recentemente recebi em meu blog alguns comentários também anônimos, de alguém que queria contrapor o uso das plantas de conhecimento, ao conhecimento exposto na bíblia.
Mas, estremeça diante do fato de que a bíblia, pelo menos parte importante dela, pode ter sido revelada através de algum tipo de contato com as plantas de conhecimento. Ou seja, os dez mandamentos podem muito bem ter sido inspirados ou revelados através da acácia.

A bíblia não fala que Moisés tenha tomado a planta. Mas podemos supor que ao descer a montanha e revelar a "verdade" ao seu povo, Moisés tenha guardado certos segredos, para protegê-lo. Ele dizia que Deus havia tomado a forma da "Sarça Ardente". E por que então ainda há tanto preconceito, quando nós, ayahuasqueiros de todas as linhagens, procuramos uma conexão divina através de uma planta? O que há de tão exótico, ou herético, nisso?

Ainda no campo da expeculação, juntando os parcos conhecimentos que tenho sobre o assunto posso supor que mesmo que Moisés não tenha bebido da acácia, ele pode ter entrado em contato com a sua essência. Como? Simples: um jejum prolongado, um pensamento contrito e firme, o esforço físico e a fadiga de subir a montanha podem ter sido suficientes para que ele entrasse em contato com o poder da acácia.

A acácia é a madeira utilizada na construção da Arca da Aliança. No Brasil ela é chamada de Jurema.

3 comentários:

  1. Leandro,
    que bom reencontra-lo perdi o contato com muitas pessoas de CZS.
    Adorei o conteúdo do seu blog! Vou acompanha-lo.
    Abraços

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  2. Salve Lobinho!

    Tenho um livro bom no assunto "Persephone's Quest" do Gordon Wasson. Infelizmente nao ha indicio de qual substancia (se alguma) tenha sido a Soma, apesar de muitas especulacoes em torno de diferentes especies de plantas e cogumelos. Vale lembrar que a uniao da Arruda da Siria com a Jurema/Acacia e' algo moderno, provindo da conveniencia de seus principios ativos (identificados laboratorialmente), e nao tem nenhum registro de uso historico ou tradicional.

    A Jurema segue como uma das plantas mais misteriosas da humanidade, pois guarda em si um tremendo poder enteogeno, e foi louvada pelas mais diferentes culturas nos mais diferentes locais do mundo - mesmo sem essa caracteristica enteogena ter sido ativada.

    Grande abraco!

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  3. Quanto segredo e surpresas guardam as plantas...

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