quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Integraçao a Ferro e Fogo



Leandro Altheman

Poucas horas na capital me poe a par de que hoje, mais do que a fumaça ou qualquer outra coisa, o crescimento da violencia é de longe a maior preocupação do riobranquense. Latrocínio: uma palavra feia que mete medo em qualquer pessoa de bem que ande pelas ruas da capital com um pouco mais de dinheiro no bolso. Empresários sao, obviamente, os alvos preferidos pelos bandidos. Um preço alto que se paga pela integraçao. Desde que Rio Branco foi ligado a Porto Velho, criminosos passeiam na capital e fazem discípulos entre os jovens desempregados da periferia. Muito vem sendo feito no sentido de se qualificar e capacitar os jovens para o mercado de trabalho, mas há geraçoes perdidas para o tráfico e a criminalidade. Assisto de longe a formatura de 600 novos policiais e me lembro de que virao apenas 50 para atender uma demanada ja reprimida em ramais e zona rural. Isto por que o governo do estado baseia-se nao na populacao, mas no numero e gravidade de ocorrencias para determinar para onde vai o policiamento.
Ser contra a estrada nestas alturas, é sandice, mas é preciso ter em mente os impactos sociais que ela trará, especialmente a criminalidade. Cruzeiro do Sul tem uma oportunidade que nao foi dada a Rio Branco: tempo e exemplos para que possamos melhor nos preparar. Mas infelizmente me parece que a sociedade cruzeirense nao está madura para discutir isso e os governantes locais administram a Cruzeiro do Sul de ontem, quando deveriam estar planejando, a Cruzeiro do Sul de amanha.

Que felicidade é poder ir e vir. Algo que quase se desconhece no Juruá. Depois de uma tentativa de voo frustrada para Pucallpa, tenho que me render a ponte aérea da capital. Estou na rodoviária e se vendem passagens para Rondonia, Ceará, Paraná e o Peru, que a poucos 100 km de Cruzeiro do Sul ainda é um sonho distante, em Rio Branco é um passeio de fim de semana. Apenas por 70 reais se chega a Puerto Maldonado, mais 50 e se pode cegar a Cuzco.

O passeio se torna triste quando da janela do confortavel e climatizado onibus a paisagem se revela desoladora, muita queimada. Do lado brasileiro, fogos extintos que deixaram na beira da pista a sua marca suja, mas do lado peruano, sao queimadas ativas, fogo ardendo e o vento desfavorecendo ao Acre que recebe toda esta fumaça. Certamente será uma das pautas do próximo MAP, com data marcada para 17 de setembro próximo. Ha uma década este encontro transfronteiriço discute o desenvolvimento da regiao amazonica pré-andina do Acre, Madre de Dios, no Peru e Pando, na Bolivia, por saber que as consequencias das açoes nao precisam de passaporte para cruzar as fronteiras.

Alegro-me em ver que os trinta quilometros faltantes da rodovia já foram asfaltados e agora uma ponte, a muito tempo abandonada, recomeça a ser construída. Para atravessar o Madre de Dios, que é o mesmo rio madeira de Porto Velho é necesario um esforço de engenharia ainda mais ousado do que atravesar o Juruá. A obra em si é bela, e é ativo o movimento de grandes e pequenas embarcaçoes que movimentam este formigueiro humano a beira-rio. Uma obra que somente faz sentido dentro de uma visao de integraçao regional que inclua o Brasil, e o Acre em seus planos. Uma visao que é um pouco atrapalhada pela fumaça. Uma névoa espessa que sugere aos condutores atentos, prudencia.
A integraçao é um caminho sem volta. O desejo de ultrapasar as fronteiras, é inato ao ser humano. O isolamento é uma condiçao desejável apenas por aqueles que nao a vivem. Tampouco podemos estar inocentes perante ao desenvolvimento, ou pagaremos um preço alto por ele. Nao se pode fechar os olhos para os seus riscos. Assimilar tais contradiçoes é o caminho da maturidade de um povo que quer ser dono de seu próprio destino.

PS: Desculpem os erros de ortografia: teclado español

Um comentário:

  1. Essa estrada é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que trará benefícios a uma população carente quanto à deslocamento e melhor qualidade de vida com a possibilidade comprar produtos mais baratos, é pertinente essa preocupação quantos aos impactos sociais, pois com certeza Cruzeiro do Sul receberá forasteiros indesejáveis que podem lhe roubar a paz.

    Em PVH estamos sentindo na pele as consequencias de um impacto social depois que as benditas usinas foram aqui instaladas, não só no que diz respeito a violência, mas também no aumento desonesto dos preços de imóveis à gêneros de primeira necessidade. O trânsito caótico, pois a cidade não tinha e ainda não tem esttutura para suportar toda a demanda de gente que veio para cá, assim como o sistema de saúde. Os governantes? Pfff... O estado e a prefeitura em especial receberam milhões do Gov Federal só destinado ao saneamento básico e outras ações de melhoria na cidade/estado. Alguém sabe dizer onde foi parar tanto dinheiro? Eu suspeito. O que se via era rixa entre o prefeito e ex-governador Cassol que renunciou para se candidatar ao senado e que com certeza vai se eleito porque o povo tem memória de vento. Tal rixa só prejudicou a cidade, o cidadão. Só agora, prestes ao fim do mandato o prefeito cara de pau resolve recauchutar algumas ruas principais que estavam caóticas, vergonhosas. De doer.

    Gosto de desabafar aqui!

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