quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Anonimato
Não, não estou falando do motel, mas desta sensação que se tem nas grandes cidades. Hoje mesmo. Andei duas vezes de metrô. Devo ter visto talvez meio milhar de pessoas diferentes. Incrível, não conhecer ninguém, mesmo tendo vivido por mais de 15 anos em SP. Acostumei-me a andar meio quarteirão e ser cumprimentado umas três vezes. Mesmo sem ter uma relação tão íntima com cada pessoa, no conjunto, é como se houvesse em Cruzeiro do Sul, mais pessoas com que realmente me importam. Ou como se eu importasse mais. Parece loucura, mas isso mexe com a cabeça de qualquer um. O anonimato às vezes é interessante, nos dá uma certa sensação de liberdade, como se pudessemos ser "nós mesmos" sem as amarras das convenções sociais. Mas por outro lado, o anonimato "em excesso" dilui tanto a identidade a ponto de não sabermos mais quem somos.
É por isso que nas grandes cidades existem verdadeiras "tribos urbanas" que recriam a identidade tal qual existia nas pequenas comunidades, usando para isso, até mesmo o espaço virtual.
Ando no metrô olhando as caras de hoje, que não são as mesmas caras de ontem. Nunca mais as verei. Minha mente prega peças: "será que não conheço essa cara de algum lugar?" -"essa parece a Amy Winehouse" . "esse parece aquele tal de "morre diabo", do You Tube.
Os meninos usam uns cabelos estranhos, da tal moda Emo e os afro-descendentes realçam suas características. Através de roupas, cabelos, e adereços, o animal urbano recria o que na selva se fazem com sons e odores.
E quem sou eu afinal? Minha identidade volta-se para o noroeste, tão longe de onde nasci. Mas tenho certeza que sou o resultado da inquietude de uma geração. Sou produto de um meio urbano que não reconhecido, não cabe mais no molde social a sua volta e busca outros valores, outros horizontes. Hoje reconheço-me muito mais nas praias e barrancos do Juruá. Na luta de um povo para romper os seculares grilhões do isolamento. Reconheço-me um Náua que engatinha, que balbucia as palavras de uma língua absolutamente mionoritária, quase esquecida, mas que fala a linguagem das fontes, folhas e animais, dos espíritos e encantes da floresta. Aí está a identidade, o oposto do anonimato.
"Vou me encontrar longe do meu lugar, eu caçador de mim"
Milton Nascimento
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Então volta pra casa, meu garoto!!! Pelo menos aqui a gente tem o fuxico, o mingau de banana, o ditador trapalhão, são tantos tipos...
ResponderExcluirVc está fazendo falta loga agora que estamos vendo a história se materializando. Olha a postagem de amanhã do minhascolinas.
Um abraço e boas postagens.