segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Quem são os "donos" da ayahuasca?


Há alguns meses atrás tive uma conversa, muito positiva por sinal, com uma pessoa do patrimônio histórico sobre proceso de patrimonialização da ayahuasca.

Percebe-se que o caminho encotrado no Brasil para o uso legal da ayahuasca se dá através do conceito de liberdade religiosa. Até aí tudo bem. A questão é que a ayahuasca em seus milênios, nunca foi religão por si só. Segundo os estudos antropológicos a respeito, a bebida era muito mais um "acessório" dentro de uma cosmovisão já existente (até por que o conceito de religião parece estranho aos povos indígenas). É muito mais um instrumento de acesso a esta cosmovisão do que um eixo a qual orbita a comunidade.

Dentro deste processo que fez com que a sociedade brasileira tomasse contato com esta bebida milenar, é natural que cada vez mais pessoas se interessem em conhecê-la em sua origem.

Conversava neste final de semana justamente sobre isso com o cacique Nixi Waca do povo Yawanawá, mais conhecido no Acre, como Biraci Brasil.
Nixi Waca reconhece a importância das religões ayahuasqueiras para o reconhecimento da sociedade nacional sobre os conhecimentos indígenas. Para ele, a existência de grupos ayahuasqueiros em todo país cria uma comunidade significativa de potenciais aliados do movimeto indígena Mas para que isto se torne uma realidade é preciso que se conheça a verdadeira origem deste conhecimento.

"As pessoas querem beber o uni (ayahuasca) com liberdade, mas também com responsabilidade. Para iso, estão buscando nas origens. Quem foi que trouxe essa bebida, foi Cristovão Colombo? Foi Pedro Álvares Cabral? Não, isso é nosso, é dos povos indígenas. Tem gente que diz: veio do Peru. E o que é o Peru? Quem criou o Brasil, a Colômbia e o Equador. Antes era tudo nosso, dos povos indígenas. Nós nascemos junto com esta bebida que não conhece fronteiras. Tem gente que esconde a verdade: de que a ayahuasca é algo da cultura indígena e dos povos indígenas. Mas esta é uma época em que as máscaras estão caindo. Tanto as máscaras do mal, quanto as do bem. Eu tenho a minha máscara de uma jibóia toda pintada. Uma máscara que mete medo, mas por trás dela sou uma pessoa que ama seus filhos, que brinca com os menoriznhos, que se torna criança também, sem medo. E tem gente que usa uma máscara bonita e por trás dela é uma pessoa que só quer as coisas para si. Esta é uma época do fim das máscaras, para que todos conheçam a verdade."

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