segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Universidade da Floresta esvasiada



Semana passada recebi a noticia de que o curso de educação indígena do Campus Floresta da UFAC está migrando de CZS para RBR. A decisão foi tomada bem ao estilo UFAC mesmo, ou seja, sem dialogar com a comunidade, mas como as organziações indigenas também ficaram caladas, a decisão parece ser irreversível.
O argumento é de que CZS não oferece uma boa estrutura para alocar os indígenas que passam normalmente 45 dias na cidade, geralmente, no Centro Diocesano de Treinamento, e a própria organização do espaço não estava satisfeita com a presença dos professores-estudantes indígenas.
Em Rio Branco existe a estrutura do sítio da CPI que deverá ser usado para manter os indígenas duranmte os modulos.

Quem pensa que são os indígenas quem mais perde com a mudança, engana-se. Para os indígenas não fará tanta diferença se deslocar para CZS ou RBR. É preciso dizer que existem recursos especiais para cursos como este? Ou basta lembrar que com a mudança, o Campus Floresta passará por um esvaziamento, principalmente porque este curso é simbólico do próprio processo de construção do campus pois abraça o conceito de "diálogo entre os saberes".

Talvez para os estudantes de engenharia, letras, enfermagem ou agronomia isso tenha pouca ou nenhuma importância em suas vidas, mas é graças a este conceito que o campus Floresta é hoje uma realidade. Não fosse a mobilização em torno desta idéia, talvez o Campus da UFAC em CZS ainda se limitasse aos cursos de letras e pedagogia na avenida 25 de Agosto (atual prédio do CEFLORA).

É uma pena que o curso está saindo de CZS sem nenhum grito, sem nenhum manifestação seja por parte do campus, ou da comunidade indígena. Talvez secretamente, até se sinta um pouquinho de satisfação de saber que "não teremos mais que aguentar estes índios andando por aqui", mas o fato é que a comunidade acadêmica deveria ter brigado pela permanencia de um curso que sintetisa o próprio conceito da Universidade da Floresta.


Um duro golpe no processo de autonomização da Universidade da Floresta, uma oportunidade que o Juruá, mais uma vez adormecido, deixa escapar entre os dedos.

2 comentários:

  1. Leandro, muito bom comentário. Estive fora da UFAC por conta do meu doutorado e fui surpreendido por esta notícia ao retornar este mês a Cruzeiro. Não conheço o conteúdo da discussão, mas concordo que está sendo uma grande perda para o Campus, principalmente quando fazemos referência à recente história da Universidade da Floresta, como foi bem colocado no seu texto. Também o Instituto da Biodiversidade, outro carro chefe da idéia original, está ainda no papel e um prédio quase pronto no Campus pode virar um elefante branco. Por outro lado, há euforia por conta da criação do curso de Direito. Vejo hoje que os idealizadores do projeto Universidade da Floresta, estavam mesmo bastante à frente do tempo no tema de projetar, mas depois de 6 anos observo que pouco contribuíram na execução do projeto. Com exceção de alguns poucos que permanecem somando esforços, a maioria abandonou o barco faz tempo, deixando o pepino na mão de poucos professores motivados, que agora são bem menos que a 5 anos atrás.
    É mesmo uma lástima, sobretudo porque a construção do diálogo entre os saberes, aqui no Juruá, tem caminhado de diversas formas - 'extra-acadêmicas', entretanto a academia não tem enxergado potencial neste diálogo, e sem dúvida será a que mais sairá perdendo.

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  2. Que triste, e o que aconteceu com o projeto do Kampô?

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