Minutos antes de entrar para ser entrevistado por Nelson Liano no programa Juruá Notícias, conversávamos informalmente com o senador Jorge Viana (PT-AC).
Dizíamos sobretudo que fazer jornalismo no Acre, perdeu o charme de quem o fazia consciente de que estava ajudando a construir um projeto, um modelo de desenvolvimento que levasse em conta a história do estado, as particularidades de sua geografia física e humana. Um modelo, que quem sabe pudesse até servir de referência para a civilização cansada e sem esperança do terceiro milênio.
Dizíamos o quanto estávamos desanimados com o que se transformou o projeto da FPA para o Acre: uma farra de asfalto, madeira e proselitismo religioso regado a verbas públicas.
Foi quando para minha surpresa Jorge Viana virou-se e disse:
"Também estamos sentindo isso. Estamos vivendo uma distopia, uma ausência de sonho. Isso não é bom. Sem sonho não há motivação. Distopia é o oposto da Utopia."
Jorge Viana ainda disse: "O Pro-Acre foi um aprofundamento do nosso projeto durante o governo Binho Marques. Temos que retomá-lo, precisamos superar a distopia"
***
Não deixa de ser ao mesmo tempo confortador e perturbador ouvir isso do senador Jorge Viana. Confortador pois naturalmente vemos nossos sentimentos são compartilhados pela pessoa que liderou o processo de construção da FPA. Perturbador porque quem está à frente do processo hoje, é o seu irmão Tião Viana.
Jorge Viana é suficientemente inteligente para saber que o atual "estado de coisas" não surgiu hoje. Apenas colhe-se o fruto de uma semente plantada lá em 1998, ou talvez ainda antes. Se hoje o estado vive esta "distopia" é apenas para que o mesmo grupo político da FPA permaneça no poder, ainda que para isso tenha que sacrificar o projeto original e adotar o projeto econômico de seus adversários. Foi o próprio Tião Bocalon (PSDB) que afirmou certa ocasião, em OFF "parece que o Tião Viana pegou o meu projeto e o está executando."
"Desenvolvimento" a qualquer custo e a toque de caixa, asfalto sendo vomitado sobre as ruas sem nenhum planejamento, grandes projetos habitacionais, o esvaziamento dos órgãos ambientais. Tudo para alimentar uma elite pseudo e pré-capitalista da capital, totalmente dependente de verbas públicas e de quebra aquela média fanfarrona com as denominações evangélicas (Parque Gospel), que juntamente com os pseudo-empresários são os verdadeiros donos do poder na capital. É a "Rondonização" do Acre, pesadelo tornado realidade não por Bocalom, mas por aqueles que se opuseram a ela. Na verdade o Acre não precisa mais de Bocalom ou de Márcio Bittar, a FPA já se pôs a fazer este serviço.
Se Jorge Viana pensa em "refundar" a FPA é bom que o faça logo, e de maneira convincente, já que a perda de identidade do projeto parece que não irá mesmo garantir a eleição do sucessor na capital, e se o fizer trará grandes custos políticos.
Segundo a Wikipédia:
Distopia ou antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utopia ou promove a vivência em uma "utopia negativa". As distopias são geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo, por opressivo controle da sociedade. Nelas, caem as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. A tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, seja de instituições ou mesmo de corporações.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
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