quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Acre e sua "guerra (nada) santa"

Fico preocupado com a questão religiosa ocupando cada vez mais o centro do debate político no estado. Será que faltam problemas municipais para serem discutidos? Ou de repente a orientação religiosa passou a ser mais importante do que as propostas dos candidatos?

Na "gospelândia" que se tornou a capital do estado, a guerra já é declarada. Depois de toda polêmica a respeito de quem teria o tal vice  "evangélico", um colega jornalista Willamis França provoca um acirramento com a declaração de que o fato de:

"...  o Brasil estar quase destruído moralmente, isto também se deve à igreja católica, a principal comunidade eclesiástica de apoio ao projeto do PT.”

A declaração veio em apoio ao Major Rocha, depois que o Padre Mássimo Lombardi se solidarizou publicamente com  Tião Viana após Rocha ter o chamado de "Mariquinha".

Não vou aqui entrar no mérito da questão política. Rocha é tão truculento quanto se poderia esperar e Tião Viana, demonstra a mesma falta de habilidade para lidar com adversários políticos que demonstrou desde o primeiro dia. No fundo, os dois se merecem.

Mas o que chama a atenção é a declaração do assessor de Rocha que sai em sua defesa, atacando não apenas ao padre, mas a igreja católica que segundo ele, apóia o projeto político do PT e é responsável pela decadência moral brasileira.

Para mim, a maior prova da decadência moral brasileira e acreana é a proliferação de inúmeras denominações evangélicas, algumas das quais com princípios obscuros que somente servem para ocultar o único desejo de seus líderes "prosperar". O cenário na capital acreana muito me lembra aquele que é descrito por Gibbons em seu brilhante Decadência e Queda do Império Romano". Gibbons descreve cidades e instituições romanas corrompidas em seus valores mais íntimos, sendo absorvidas avidamente pelos chamados "primeiros cristãos".

Os métodos utilizados pelos "primeiros cristãos" para dominarem as diferentes esferas do poder público na decadente Roma, em muito se assemelham aos utilizados por denominações evangélicas, para alcançarem o poder político no Acre.


Não é raro que candidatos à cargos eletivos apresentem como um qualificante de seu mandato o fato de serem "evangélicos". É o suficiente para que um bom número de "picaretas" recém-convertidos  caiam nas graças de um eleitorado inculto e amorfo, quase sempre nada esclarecido dos deveres e funções de governantes e legisladores, mas que rapidamente se agrupam sobre a incerta bandeira israelita, tornada símbolo maior da idolatria não apenas tolerada, mas incentivada pelo "movimento Gospel".

Dizer que são políticos se aproveitando da inocência religiosa do rebanho, tornou-se lugar comum e recebe já o repúdio dos setores mais esclarecidos do meio evangélico.

Contudo, a tese a que pouca gente se arrisca é a de que o fenômeno é uma via de mão dupla. Ou seja, não tratam apenas políticos inescrupulosos fazendo uso da religião, mas também de religiosos que habilmente estão usando o campo político com a arena onde ampliam-se o seu poder de influência sobre a sociedade.

O Pastor Evangélico Ricardo Gondim em seu brilhante, inspitrado e sinecro texto : "Deus nos livre de um Brasil evangélico" expõe a nu o projeto político de setores importantes do movimento evangélico de tornar o Brasil um país moldado pelos valores evangélicos.

Selecionei aqui alguns trechos:

"...o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo, mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como Movimento Evangélico. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou que ortodoxos se alastrem. Para “ser do Senhor Jesus”, o Brasil tem que virar “crente”, com a cara dos evangélicos."
 
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político prevaleceu; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembleias e Gabinetes para saber que isso aconteceria.

Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra a Igreja Católica e viria a criar uma elite religiosa, os ungidos, mais perversa que a dos aiatolás iranianos. "

Leia texto completo aqui.

 O Acre tornou-se palco de uma "Guerra Nada Santa" e francamente, não vejo em nenhum dos grupos políticos a capacidade moral de fazer frente a etse avanço. Situação e oposição fatalmente irão rifar cargos e salários em troca de assessar a uma fatia cada vez maior do eleitorado.


A questão toda não se resume a ser "evangélico" mas ao "way of life" que é trazido no bojo de um calvinismo protestante interpretado a lá USA, para quem a natureza tem pouca ou nenhuma importância e para quem a miséria e a pobreza humana são frutos de uma "maldição" daqueles que não estão "predestinados".

Uma "filosofia" que cai como uma luva para aqueles que querem se apropriar da natureza para o seu enriquecimento próprio sem qualquer escrúpulo do mal que possa estar causando. Os crimes resultados de uma sociedade desigual serão vistos como "sinal dos tempos", lavando as consciências de qualquer responsabilidade social. De modo ainda mais hediondo, se faz a defesa da destruição da natureza, porque em seu íntimo desejam que se apresse o "fim do mundo" pois nela vem "embutida" a esperada volta de Jesus.

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