Lá estavam eles de novo, os caçadores de votos. De
quatro em quatro anos eles apareciam, como uma fruta temporã, ou uma revoada de
aves migratórias, para desaparecer novamente nos anos seguintes. Desta vez, coincidência
ou não, eles vinham exatamente atrás das máquinas que faziam a abertura de ruas.
Ruas esquecidas durante os quatro anos anteriores. Naquele ano nem mesmo o
barranco do rio tão incerto quanto improvável para uma rua, foi esquecido.
Um ano antes não faltariam desculpas para não fazê-lo: - o barranco está quebrando, não podemos fazer
uma rua lá... É muita tabatinga... teremos que escavar o solo e o terreno não é
firme.... É o mais provável que diria o secretário
Meia-Sola com seu inseparável boné Nelore.
As coisas eram assim mesmo em Nova Constelação. A pequena colônia
humana nos fins da galáxia já fora um importante entreposto de produção de
árvores-de-leite. Essencial para as espaçonaves que cruzavam a galáxia de um
ponto a outro. Mas finalmente os cientistas haviam aprendido a plantar as
árvores-de-leite em cultivos controlados no cinturão de asteroides e Nova
Constelação perdeu a sua importância. Passou a ser apenas um posto avançado da
força intergalática a fim de impedir que o império tawantinsuiano avançasse
sobre os sistemas da federação.
Mas na melhor das hipóteses, Nova Constelação não era nada
mais do que um ponto esquecido da imensidão do espaço, o local onde os ventos de
partículas estelares faziam a curva e regressavam para o centro galáctico.
Por esta razão, os cargos políticos eram disputados de todas
as formas. As verbas federais que eram destinadas a manter o funcionalismo
público, tão necessário quanto um secador de cabelos no deserto, eram praticamente
a única fonte de renda em Nova Constelação.
Não haviam limites para conquistá-los.
Lembrava-me de oito anos atrás. Duas eleições anteriores.
- Ele vai trazer os
melhores cantores da galáxia. Todos os jovens vão votar nele. Vou perder a
eleição. Dizia preocupada a candidata Zhélia Pantera, enquanto
caminhava de um lado outro do salão.
- Faça a sua parte e
deixe comigo o restante. Disse a confiante a sacerdotisa Assandrea, enquanto manuseava a pequena rosa-dos-ventos que trazia presa ao colar, símbolo de sua ordem.
Zhelia deveria mesmo ter feito altas promessas à sacerdotisa
dos ventos, pois naquela semana em que aterrissariam em Nova Constelação os
famosos cantores LBK’s, uma nuvem de fumaça de partículas estelares cobriu os
espaçoportos da região, impedindo o pouso da nave que traria os aristas e talvez
mudasse o rumo das eleições. Agradecimentos especiais ao vento que trouxe as partículas e mudou o rumo das eleições.
Depois de vencidas as eleições, os prédios públicos tingiram-se de cor-de-rosa e alguns chegaram a dizer que seria parte do compromisso firmado
com a sacerdotisa Assandrea que prometera à Deusa-dos-Ventos pintar os prédios com a sua
cor, o rosa.
Quando o marido de Zhélia adoeceu disseram também que era o
alto preço pago pelo uso indiscriminado da magia. No final a Deusa-dos-Ventos acabou tão abandonada quanto Nova Constelação e tornou-se um perigoso vento-sem-rumo aparecendo nos momentos mais inconvenientes.
Pouca gente lembrava disso quando um vento-sem-rumo
inexplicavelmente arrancou somente a cobertura do ginásio de esportes deixando intactas todas as outras casas. Ia pelos ares a promessa de campanha de Valdir Lessa,
o novo administrador de Nova Constelação.
Mais uma eleição se aproximava, e os esquecidos habitantes
de Nova Constelação, lá onde o vento faz a curva a se sentiam mais uma vez felizes,
com a percepção, temporária e ilusória, de quem mais uma vez haviam se tornado
o centro do universo.
Quem permanecia esquecida era a Deusa-dos-Ventos. O
candidato postulante ao cargo de administrador de Nova Constelação era um
adorador do Deus-Pastor e seu filho, o Deus-Ovelha e tremia só de ouvir falar nestas coisas.
Mas não se convida uma tempestade para morar em casa e se esquece
dela. Mais cedo ou mais tarde, a Deusa-dos-Ventos
iria se mostrar, para que todos pudessem ver agitando suas saias ela faria
os ventos mudarem mais uma vez de rumo, em Nova Constelação, lá onde o vento
faz a curva.
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