terça-feira, 20 de agosto de 2013

A religião mais antiga do mundo

O candomblé acredita em um Deus Supremo criador do universo e nos orixás que seriam nossos intermediários na comunicação com esse Deus. Além de cultuarmos nossos ancestrais, ou seja, pessoas de nossa família que desencarnaram. E pasmem, nem se quer sabemos o que é Diabo, Demônio, Satanás, Lúcifer, pois dentro de nossa tradição, não acreditamos que Deus possua um inimigo, um rival, pois se Deus é Deus ele é superior a tudo e jamais teria inimigos.
Como descendente de Judeu que sou e por ter durante anos estudado também sobre a CULTURA JUDAICA digo, nem os Judeus acreditavam em apenas um deus, eles adoravam sim, vários deuses, segue alguns dos nomes que mais tarde foram unificados em um, por Abraão, como forma de estruturar a primeira sociedade monoteísta.
NOMES: EL SHADAY (SENHOR DAS MONTANHAS) EL ELOAH (EQUIVALENTE AO ALÁH DOS ISLAMICOS, UM DEUS PASSIVO) EL ELIOM, IAVÉ (DEUS DA GERRA E DO FOGO, NÃO É ATOA QUE NAS PASSAGENS ELE SE APRESENTAVA COMO UMA CORTINA DE FOGO E SEUS BICHOS ERAM SACRIFÍCADOS EM HOLOCAUSTO.) E vários outros, presentes nos 72 nomes de Deus na Kabalah, que na realidade, eram divindades que foram unificadas em um mesmo ser divino. 


Zarcel Ilésire Carnielli* 

É preciso entender que a África é um continente enorme e que neste continente existia e existe vários grupos étnicos, os principais que foram trazidos ao Brasil como escravos, foram, os povos Umbundo (Da região que hoje é Angola), os povos Yorùbá ou Iorubás (Da região que hoje é conhecida como Nigéria) e os Fon (Da região que hoje é Benin). Vale ressaltar que na África esses povos interagiam entre si, muito antes da chegada do homem branco e existia entre eles uma certa rivalidade. Pois bem, aqui no Brasil, todos se viram pertencentes à um mesmo grupo, ao grupo de escravos e tiveram de deixar a rivalidade de lado, para que, juntos pudessem conviver nas senzalas e assim manter viva a cultura ancestral. Pois o maior princípio das tradições africanas é manter viva a sua cultura ancestral, tanto que há um provérbio africano que diz: “O RIO QUE ESQUECE SUA ORIGEM, SECA”, logo para eles, manter a cultura ancestral viva é manter seu próprio povo vivo. 
Na época, a Igreja católica era tão intolerante quanto algumas evangélicas são hoje, e não permitia a prática religiosa do negro, mas eles, inteligentes e astutos faziam suas práticas escondidos, para que não fossem pro “chicote”. Com o passar dos anos, o poder da Igreja no Brasil foi diminuindo e os negros tiveram sua prática religiosa liberada, então, em Salvador na Bahia, foi fundado o primeiro terreiro (templo) de Candomblé, que tem sua origem na palavra Bantu (KANDOMBILE) que literalmente quer dizer: CULTO E ORAÇÃO. Na Nigéria essa religião é conhecida como ÌSÈSÈ ÀGBÀYÉ que traduzindo para o português literalmente quer dizer: A Religião mais antiga do mundo. Por se tratar de uma tradição milenar. Há um outro provérbio Africano que diz: “Orixá é muito, muito antigo, o judaísmo é antigo, o islamismo é novo e o cristianismo acabou de nascer.”
O candomblé acredita em um Deus Supremo criador do universo e nos orixás que seriam nossos intermediários na comunicação com esse Deus. Além de cultuarmos nossos ancestrais, ou seja, pessoas de nossa família que desencarnaram. E pasmem, nem se quer sabemos o que é Diabo, Demônio, Satanás, Lúcifer, pois dentro de nossa tradição, não acreditamos que Deus possua um inimigo, um rival, pois se Deus é Deus ele é superior a tudo e jamais teria inimigos.
Como descendente de Judeu que sou e por ter durante anos estudado também sobre a CULTURA JUDAICA digo, nem os Judeus acreditavam em apenas um deus, eles adoravam sim, vários deuses, segue alguns dos nomes que mais tarde foram unificados em um, por Abraão, como forma de estruturar a primeira sociedade monoteísta.
NOMES: EL SHADAY (SENHOR DAS MONTANHAS) EL ELOAH (EQUIVALENTE AO ALÁH DOS ISLAMICOS, UM DEUS PASSIVO) EL ELIOM, IAVÉ (DEUS DA GERRA E DO FOGO, NÃO É ATOA QUE NAS PASSAGENS ELE SE APRESENTAVA COMO UMA CORTINA DE FOGO E SEUS BICHOS ERAM SACRIFÍCADOS EM OLOCAUSTO.) E vários outros, presentes nos 72 nomes de Deus na Kabalah, que na realidade, eram divindades que foram unificadas em um mesmo ser divino. 
Mais tarde aparece Jesus ou Yeshua que para os Judeus de fato não é o messias, e a prova é, o Messias deveria pertencer a linhagem de Davi, logo, Maria sua mãe deveria ser descendente de Davi, mas não era o caso, quem era, era José, mas se José não era o pai verdadeiro e sim “Deus”, Jesus não tinha o sangue de Davi. 
Sobre o sincretismo, a igreja católica adotou isso para não perder adeptos, e hoje muitas igrejas evangélicas adotam, pois muitas entregam “rosas abençoadas” (ritual da umbanda), sabonetes consagrados (magia) usam sal grosso e etc... Rituais que não estão escritos nas passagens. Logo, foram trazidos de outras crenças. 
Acho curioso, por exemplo, as igrejas chamarem a Torah de “velho testamento” e rejeitarem práticas do mesmo, dizendo que Jesus é a nova aliança, mas mantém por exemplo, o dízimo em dez por cento, sendo que isto é uma prática do velho testamento, no novo pelo que me consta, cristo não pedia contribuição de nenhum fiel ou seguidor, tão pouco estabelecia uma quantia pré-determinada. Contraditório, mas faz parte.
Voltando a Umbanda, cujo o significado é “A ARTE DE CURAR”, também a etimologia da palavra é “bantu”, prática sim um sincretismo religioso, usando em seus rituais práticas do catolicismo, Kardec ismo, hinduísmo e também do candomblé. Lembremos que, o candomblé é “afro-brasileiro” ou seja, de origem africana, mas estabelecido aqui no Brasil. A umbanda já é uma religião puramente brasileira, criada e estruturada aqui. 
Logo, espero com esse texto ter elucidado nosso colega a respeito do tema levantado em sala de aula, não me senti a vontade de opinar em sala, pois não seria conveniente uma vez que, o tema da aula não era religião, mas fica registrado aqui, minha opinião sobre o tema.

Um pequeno glossário:

(BANTU É UM DIALETO FALADO PELO POVO UMBUNDO, CHAMADO DE QUIMBUNDO TAMBÉM que ocupavam o que hoje é Angola.)

"Yorùbá é a forma Iorubá de se escrever Iorubá, é um dialeto falado por um grupo étnico que vive no leste da Nigéria. São conhecidos no Brasil como Nagôs, pois era assim que os rivais se referiam à eles, pois nagô no dialeto FON quer dizer “rival”, assim como os FON são conhecidos como Jejê, pois, Jejê é como os Iorubás se referem aos seus rivais."

Existe uma oração africana que diz: E má f'ibi pe ire e má fire pe ibi (que eu não confunda o bom com o ruim nem o ruim com o bom) e o objetivo deste texto é justamente isso, não confundir, e assim livrar as pessoas de seus "pré-conceitos".


Zarcel Ilésire Carnielli é sacerdote Yorubá

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Verdes e maduros


Fábio Pontes*

O lançamento da candidatura do deputado federal Henrique Afonso ao governo pelo PV é um claro sinal da atual fragilidade política da Frente Popular e do Palácio Rio Branco.

O governo que tanto criticava a oposição por sua eterna divisão, agora também se vê às voltas com este mesmo problema. A disposição do parlamentar verde em tirar o PV da Frente mostra a fragilidade do governo Tião Viana (PT) após a operação G7.

É inconcebível um governo que se gaba de ter quase 80% de aprovação popular não ter a capacidade de manter sua base unida. A perspectiva de vitória da oposição no próximo ano é um dos principais fatores para esta dispersão.

De olho neste momento, os partidos que sempre estiveram às margens de qualquer possibilidade de ascensão na FPA já vão arrumando as malas e saindo de mansinho.

Outro fator que mostra a vulnerabilidade da então toda-poderosa Frente Popular é a saída de partidos que garantiam um bom tempo na propaganda eleitoral. Em 2014 a dificultosa campanha de Tião Viana não contará com os minutos do PR, do PSB e os segundos do PV.

Salve a Frente Popular !

Fábio Pontes é jornalista em Rio Branco

extraído os blog Política na Floresta 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

MACONHA, PORTA DE SAÍDA?

Marcos Rolim 
Jornalista 

A epidemia de crack é um dos fenômenos mais sérios na interface entre saúde pública e segurança. O que a faz particularmente grave é a reconhecida dificuldade de superar a dependência química.
Pois bem, a Universidade Federal de São Paulo realizou pesquisa com 50 dependentes químicos de crack que foram submetidos a um tratamento experimental de redução de danos. Sob a coordenação do psiquiatra Dartiu Xavier, o grupo foi tratado com maconha. Daquele total, 68% trocou o crack pela maconha. Ao final de três anos, todos o que fizeram a troca não usavam mais qualquer droga (nem o crack, nem a maconha). Anotem aí: todos. 

Imaginei que, com a divulgação destes resultados por Gilberto Dimenstein, na Folha de São Paulo em 24 de maio, haveria grande interesse sobre o estudo. Nada. A resposta ao mais impressionante resultado de superação da dependência de crack no Brasil foi o silêncio. O uso medicinal da maconha tem sido admitido em dezenas de países, inclusive nos EUA. Por aqui, o tema segue interditado pela irracionalidade. É evidente que o consumo de maconha pode produzir efeitos danosos. Sabe-se que o abuso pode conduzir o usuário a problemas de concentração e memória e que em determinadas pessoas o uso está correlacionado à precipitação de surtos esquizofrênicos. Daí a criminalizar seu consumo e impedir experiências destinadas ao uso medicinal vai uma distância que tende a ser percorrida pela intolerância e pelo obscurantismo. 

O psicofarmacologista Eduardo Carlini sustenta que o princípio ativo da maconha pode ser útil no combate à depressão e ao estresse. O mesmo tem sido dito por cientistas quanto ao tratamento do glaucoma, da rigidez muscular causado pela esclerose múltipla, ou como apoio aos pacientes com AIDS, aos que sofrem do mal de Parkinson e aos que se submetem à quimioterapia em casos de câncer. Estudo da USP com pacientes que ingeriram cápsulas de canabidiol, um dos compostos encontrados na erva, demonstrou resultados positivos no tratamento da fobia social e na redução da ansiedade. 

As oportunidades abertas por estudos do tipo, entretanto, assim como a necessária pesquisa, estão impugnadas no Brasil por um discurso preconceituoso e por uma legislação ineficiente e estúpida. Seguimos repetindo que a maconha é “a porta de entrada” para o consumo de drogas mais pesadas, o que pode traduzir tão-somente uma “falácia ecológica” (quando se deduz erroneamente a partir de características agregadas de um grupo), vez que o universo de consumidores de maconha é muitas vezes superior ao grupo dos dependentes de drogas pesadas que se iniciaram pela canabbis. Em outras palavras: é possível que a maconha seja mais amplamente uma opção alternativa às drogas pesadas e não uma droga de passagem. Independentemente disto, é possível que a maconha seja uma porta de saída para a dependência química por drogas pesadas. O que, se confirmado, será uma ótima notícia.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Omissões de Carbono


As nações ricas "exportam" os problemas de emissão de carbono, apenas para iludirem seus cidadãos e manterem o consumo que alimenta a roda da civilização industrial.  

Georges Monbiot

Cada sociedade tem tópicos que não quer discutir. Estas são as questões que desafiam seus pressupostos confortáveis. São os únicos que nos lembram da nossa mortalidade, que ameaçam a continuidade que prevemos, que expõem nossas diversas crenças como irreconciliáveis com a realidade.
Entre eles estão os fatos que afundam a afirmação acolhedora, que (nas palavras de David Cameron), "não há necessidade de não haver uma tensão entre o verde e o crescimento".
Em uma recepção em Londres recentemente eu conheci uma mulher muito rica, que vive como a maioria das pessoas com níveis semelhantes de riqueza fazem, ou seja, de uma forma comicamente insustentável: jorrando entre várias casas e resorts em um feriado longo. Quando eu disse a ela o que fiz, ela respondeu: "Ah, eu concordo, o meio ambiente é tão importante que eu sou louco pela reciclagem.". Mas o verdadeiro problema, explicou, foi "é que as pessoas se reproduzem demais".
Eu concordei que a população é um elemento do problema, mas argumentei que o consumo está crescendo muito mais rápido do que a população e que ao contrário do crescimento do número de pessoas - não mostra sinais de estabilização.
Ela achou essa noção profundamente ofensiva: refiro-me à idéia de que o crescimento da população humana está a abrandar. Quando eu disse a ela que as taxas de natalidade estão caindo quase todos os lugares, e que o mundo está passando por uma transição demográfica lenta, ela discordou violentamente: ela viu, em suas viagens intermináveis, quantos filhos "todas as pessoas têm."

Como fazem tantos em sua posição, ela estava usando a população como um meio de retirar de si seus próprios impactos. A questão que lhe permitiu transferir a responsabilidade para os outros: pessoas no extremo oposto do espectro econômico.
Isso permiti-lhe fingir que suas compras, seus vôos e reformas de interminável casas não são um problema. Reciclagem e população: estes são os amuletos pessoas para não ver o confronto entre a proteção do meio ambiente e aumento do consumo.
De forma semelhante, conseguimos, com a ajuda de um sistema de contabilidade global enganosa, ignorar um dos mais graves impactos de nosso consumo. Isso também nos permiti culpar os estrangeiros, especialmente os estrangeiros mais pobres, pelo o problema.
REED
As nações negociam agora as reduções globais de emissões de gases de efeito estufa, que são responsáveis ​​apenas pelos gases produzidos dentro de suas próprias fronteiras.
Em parte como resultado dessa convenção, estes tendem a ser os únicos países que contam. Quando essas "emissões territoriais" caem, congratula-se por reduzir suas emissões de carbono. Mas os mercados de todos os tipos foram globalizados, e como a fabricação migra de países ricos para os mais pobres, esses respondem tem cada vez menos relação com nossos impactos reais.

Enquanto este é um problema que afeta todos os países pós-industriais, é especialmente pertinente no Reino Unido, onde a diferença entre os nossos impactos nacionais e internacionais é maior do que a de qualquer outro grande emissor.
O último governo se vangloriou de que este país reduziu as emissões de gases de efeito estufa em 19% entre 1990 e 2008. Ele posicionou-se (como o atual governo faz) como um líder global, no caminho certo para cumprir suas próprias metas, e como um exemplo para outras nações a seguir.
Mas o corte de emissões que o Reino Unido celebra é apenas um artefato de contabilidade. Quando o impacto dos produtos que compram de outras nações é contado, os gases de efeito estufa totais não caiu em 19% entre 1990 e 2008. Eles subiram em 20%.
Isto, apesar da substituição durante esse período de muitas das nossas centrais a carvão por gás natural, que produz cerca de metade do dióxido de carbono para cada unidade de eletricidade.
Quando são levadas em conta as "emissões de consumo", ao invés de emissões territoriais, o  orgulhoso recorde se transforma em uma história de fracasso.
Há mais dois impactos dessa falsa contabilidade. A primeira é que, porque muitos dos bens cuja fabricação acontece agora em outros países, esses lugares levam a culpa por nosso consumo crescente.
Nós usamos a China, assim como usamos a questão da população: como um meio de desviar a responsabilidade. Milhares de vozes estão a se perguntar qual será o ponto de corte para o nosso próprio consumo, quando a China está construindo uma nova usina a cada 10 segundos ?
Enquanto os chamados países de terceiro mundo se sentem “lisonjeados” com a maneira gases de efeito estufa são contados, da China é injustamente caluniada. Um gráfico publicado pela “House of Commons” (congresso britânico) sobre energia e da comissão de mudanças climáticas mostra que a contabilidade consumo reduziria as emissões da China em cerca de 45%.
Muitas dessas estações de energia e fábricas poluentes foram construídas para abastecer os mercados dos países ricos, alimentando uma demanda aparentemente insaciável no Reino Unido, os EUA e outras nações ricas para quantidades crescentes de material.
A segunda coisa que a contabilidade esconde é a contribuição do consumo para o aquecimento global. Por consideramos apenas as nossas emissões territoriais, tendemos a enfatizar o impacto dos serviços - aquecimento, iluminação e transporte, perdendo de vista o impacto das mercadorias.
Na realidade a fabricação e o consumo são responsáveis por 57% da produção de gases de efeito estufa causadas pelo Reino Unido.

Quase ninguém quer falar sobre isso, quando a única resposta significativa é a redução do volume de coisas que consumimos.
E este é o lugar onde até mesmo as políticas climáticas dos governos mais progressistas colidem com tudo que eles representam.
Como Mustapha Mond aponta em “Admirável Mundo Novo”; “a civilização industrial só é possível quando não há questionamentos. Auto-indulgência até os próprios limites impostos pela higiene e economia. Caso contrário, as rodas param de girar."
As rodas do atual sistema econômico dependem do crescimento perpétuo para a sua sobrevivência. A impossibilidade de manter este infinitamente este sistema, o consumo inútil sem a erosão contínua do planeta vivo e as perspectivas futuras da humanidade: esta é a conversa que não vai acontecer.
Ao considerar apenas as nossas emissões territoriais, fazemos os impactos do nosso consumo crescente desaparecer em uma nuvem de fumaça negra: na verdade apenas mudamos o problema de lugar iludindo nossa percepção do mesmo.
Mas, pelo menos em alguns lugares o truque de mágica está começando a atrair alguma atenção.
Espero que este seja o início de uma conversa que tenho evitado por muito tempo. Quantos de nós estão totalmente preparados para considerar as implicações?

Georges Monbiot é cientísta e jornalista especializado 

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Por que os médicos cubanos assustam

Elite corporativista teme que mudança do foco no atendimento abale o nosso sistema mercantil de saúde
Matéria da Revista Fórum 
A virulenta reação do Conselho Federal de Medicina contra a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalhar em áreas absolutamente carentes do país é muito mais do que uma atitude corporativista: expõe o pavor que uma certa elite da classe médica tem diante dos êxitos inevitáveis do modelo adotado na ilha,  que prioriza a prevenção e a educação para a saúde, reduzindo não apenas os índices de enfermidades, mas sobretudo a necessidade de atendimento e os custos com a saúde.
Essa não é a primeira investida radical do CFM e da Associação Médica Brasileira contra a prática vitoriosa dos médicos cubanos entre nós. Em 2005, quando o governador  de Tocantins não conseguia médicos para a maioria dos seus pequenos e afastados municípios, recorreu a um convênio com Cuba e viu o quadro de saúde mudar rapidamente com a presença de apenas uma centena de profissionais daquele país.
A reação das entidades médicas de Tocantins, comprometidas com a baixa qualidade da medicina pública que favorece o atendimento privado, foi quase de desespero. Elas só descansaram quando obtiveram uma liminar de um juiz de primeira instância determinando em 2007 a imediata “expulsão” dos médicos cubanos.
Neste momento, o governo da presidenta Dilma Rousseff só  está cogitando de trazer os médicos cubanos, responsáveis pelos melhores índices de saúde do Continente, diante da impossibilidade de assegurar a presença de profissionais brasileiros em mais de um milhar de municípios, mesmo com a oferta de vencimentos bem superiores aos pagos nos grandes centros urbanos.
E isso não acontece por acaso. O próprio modelo de formação de profissionais de saúde, com quase 58% de escolas privadas, é voltado para um tipo de atendimento vinculado à indústria de equipamentos de alta tecnologia, aos laboratórios e às vantagens do regime híbrido, em que é possível conciliar plantões de 24 horas no sistema público com seus consultórios e clínicas particulares, alimentados pelos planos de saúde.
Mesmo com consultas e procedimentos pagos segundo a tabela da AMB, o volume de  clientes é programado para que possam atender no mínimo dez por turnos de cinco horas. O sistema é tão direcionado que na maioria das especialidades o segurado pode ter de esperar mais de dois meses por uma consulta.
Além disso, dependendo da especialidade e do caráter de cada médico, é possível auferir faturamentos paralelos em comissões pelo direcionamento dos exames pedidos como rotinas em cada consulta.

Sem compromisso em retribuir os cursos públicos

Há no Brasil uma grande “injustiça orçamentária”: a formação de médicos nas faculdades públicas, que custa muito dinheiro a todos os brasileiros, não presume nenhuma retribuição social, pelo menos enquanto  não se aprova o projeto do senador Cristóvam Buarque, que obriga os médicos recém-formados que tiveram seus cursos custeados com recursos públicos a exercerem a profissão, por dois anos, em municípios com menos de 30 mil habitantes ou em comunidades carentes de regiões metropolitanas.
Cruzando informações, podemos chegar a um custo de R$ 792.000,00 reais para o curso de um aluno de faculdades públicas de Medicina, sem incluir a residência. E se considerarmos o perfil de quem consegue passar em vestibulares que chegam a ter 185 candidatos por vaga (UNESP), vamos nos deparar com estudantes de classe média alta, isso onde não há cotas sociais.
Um levantamento do Ministério da Educação detectou que na medicina os estudantes que vieram de escolas particulares respondem por 88% das matrículas nas universidades bancadas pelo Estado. Na odontologia, eles são 80%.
Em faculdades públicas ou privadas, os quase 13 mil médicos formados anualmente no Brasil não estão nem preparados, nem motivados para atender às populações dos grotões. E não estão por que não se habituaram à rotina da medicina preventiva e não aprenderam como atender sem as parafernálias tecnológicas de que se tornaram dependentes.

Concentrados no Sudeste, Sul e grandes cidades

Números oficiais do próprio CFM indicam que 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul do país. E em geral trabalham nas grandes cidades.  Boa parte da clientela dos hospitais municipais do Rio de Janeiro, por exemplo, é formada por pacientes de municípios do interior.
Segundo pesquisa encomendada pelo Conselho,  se a média nacional é de 1,95 médicos para cada mil habitantes, no Distrito Federal esse número chega a 4,02 médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio de Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.
A pesquisa “Demografia Médica no Brasil” revela que há uma forte tendência de o médico fixar moradia na cidade onde fez graduação ou residência. As que abrigam escolas médicas também concentram maior número de serviços de saúde, públicos ou privados, o que significa mais oportunidade de trabalho. Isso explica, em parte, a concentração de médicos em capitais com mais faculdades de medicina. A cidade de São Paulo, por exemplo, contava, em 2011, com oito escolas médicas, 876 vagas – uma vaga para cada 12.836 habitantes – e uma taxa de 4,33 médicos por mil habitantes na capital.
Mesmo nas áreas de concentração de profissionais, no setor público, o paciente dispõe de quatro vezes menos médicos que no privado. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o número de usuários de planos de saúde hoje no Brasil é de 46.634.678 e o de postos de trabalho em estabelecimentos privados e consultórios particulares, 354.536.Já o número de habitantes que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 144.098.016 pessoas, e o de postos ocupados por médicos nos estabelecimentos públicos, 281.481.
A falta de atendimento de saúde nos grotões é uma dos fatores de migração. Muitos camponeses preferem ir morar em condições mais precárias nas cidades, pois sabem que, bem ou mal, poderão recorrer a um atendimento em casos de emergência.
A solução dos médicos cubanos é mais transcendental pelas características do seu atendimento, que mudam o seu foco no sentido de evitar o aparecimento da doença.  Na Venezuela, os Centros de Diagnósticos Integrais espalhados nas periferias e grotões, que contam com 20 mil médicos cubanos, são responsáveis por uma melhoria radical  nos seus índices de saúde.

Cuba é reconhecida por seus êxitos na medicina e na biotecnologia

Em  sua nota ameaçadora, o CFM afirma claramente que confiar populações periféricas aos cuidados de médicos cubanos é submetê-las a profissionais não qualificados. E esbanja hipocrisia na defesa dos direitos daquelas pessoas.
Não é isso que consta dos números da Organização Mundial de Saúde.  Cuba, país submetido a um asfixiante bloqueio econômico, mostra que nesse quesito é um exemplo para o mundo e tem resultados melhores do que os do Brasil.

Quando esteve em Cuba, em 2003, a deputada Lilian Sá
foi conhecer com outros parlamentares o médico de família,
uma equipe residente no próprio conjunto habitacional
Graças à sua medicina preventiva, a ilha do Caribe tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) – inferior à do Canadá e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a expectativa de vida dos cubanos – 78,8 anos (contra 60 anos em 1959) – é comparável a das nações mais desenvolvidas.
Com um médico para cada 148 habitantes (78.622 no total) distribuídos por todos os seus rincões que registram 100% de cobertura, Cuba é, segundo a Organização Mundial de Saúde, a nação melhor dotada do mundo neste setor.
Segundo a New England Journal of Medicine, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.
O Brasil forma 13 mil médicos por ano em  200 faculdades: 116 privadas, 48 federais, 29 estaduais e 7 municipais. De 2000 a 2013, foram criadas 94 escolas médicas: 26 públicas e 68 particulares.
Formando médicos de 69 países

Estudantes estrangeiros na Escola Latino-Americana de Medicina
Em 2012, Cuba, com cerca de 13 milhões de habitantes, formou em suas 25 faculdades, inclusive uma voltada para estrangeiros, mais de 11 mil novos médicos: 5.315 cubanos e 5.694 de 69 países da América Latina, África, Ásia e inclusive dos Estados Unidos.
Atualmente, 24 mil estudantes de 116 países da América Latina, África, Ásia, Oceania e Estados Unidos (500 por turma) cursam uma faculdade de medicina gratuita em Cuba.
Entre a primeira turma de 2005 e 2010, 8.594 jovens doutores saíram da Escola Latino-Americana de Medicina. As formaturas de 2011 e 2012 foram excepcionais com cerca de oito mil graduados. No total, cerca de 15 mil médicos se formaram na Elam em 25 especialidades distintas.
Isso se reflete nos avanços em vários tipos de tratamento, inclusive em altos desafios, como vacinas para câncer do pulmão, hepatite B, cura do mal de Parkinson e da dengue.  Hoje, a indústria biotecnológica cubana tem registradas 1.200 patentes e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países.
Presença de médicos cubanos no exterior
Desde 1963,  com o envio da primeira missão médica humanitária à Argélia, Cuba trabalha no atendimento de populações pobres no planeta. Nenhuma outra nação do mundo, nem mesmo as mais desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária internacional. Desde o seu lançamento, cerca de 132 mil médicos e outros profissionais da saúde trabalharam voluntariamente em 102 países.
No total, os médicos cubanos trataram de 85 milhões de pessoas e salvaram 615 mil vidas. Atualmente, 31 mil colaboradores médicos oferecem seus serviços em 69 nações do Terceiro Mundo.
No âmbito da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha humanitária continental com o nome de Operação Milagre, que consiste em operar gratuitamente latino-americanos pobres, vítimas de cataratas e outras doenças oftalmológicas, que não tenham possibilidade de pagar por uma operação que custa entre cinco e dez mil dólares. Esta missão humanitária se disseminou por outras regiões (África e Ásia). A Operação Milagre dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Central e do Caribe. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas de 35 países recuperaram a plena visão.
Quando se insurge contra a vinda de médicos cubanos, com argumentos pueris, o CFM adota também uma atitude política suspeita: não quer que se desmascare a propaganda contra o  regime de Havana,  segundo a qual o sonho de todo cubano é fugir para o exterior. Os mais de 30 mil médicos espalhados pelo mundo permanecem fiéis aos compromissos sociais de quem teve todo o ensino pago pelo Estado, desde a pré-escola e de que, mais do que enriquecer, cumpre ao médico salvar vidas e prestar serviços humanitários.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Papa Francisco recebe líder indígena

Foi a primeira vez que um papa recebeu líderes indígenas no Vaticano.

Felix Diáz, líder do povo Qom, na Argentina, foi recebido pelo Papa Francisco. Como cardeal, eles já haviam se encontrado antes.

Como cardeal, ele já havia se encontrado com eles, pelo menos três vezes.

-Como você está? Faz muito tempo. É um prazer.

-É um prazer.

-Como você está?

-Muito bem, obrigado

O grupo, que incluía ganhador do Prêmio Nobel, Adolfo Perez Esquivel, reuniu-se com o Papa por cerca de 40 minutos, para discutir as violações de direitos humanos enfrentados pelas comunidades indígenas na Argentina e outros países latino-americanos. É algo que eles falaram mais em profundidade, durante uma conferência de imprensa.


Félix Diaz Qom étnico Tribe, líder: 

"Eles pensam em nós como um inimigo do Estado. Mas como podemos ser considerados  inimigos, se estamos apenas lutando pela nossa sobrevivência? "
Segundo o líder, seus problemas incluem tudo, desde a perda de identidade cultural até as questões territoriais. Mas, acima de tudo, disse que estão buscando respeito e a responsabilidade do governo. Félix afirma que sua casa foi incendiada. Que lhes foi negado ao seu povo o tratamento em hospitais e disse que há uma destruição sistemática de seus registros de identidade para que não pudesse votar.
O diálogo tem sido negado durante anos pela presidência da Argentina.

"Estamos solicitando uma audiência com o presidente por mais de três anos. Mas à nossa comunidade tem sido sempre negado isso. "

Adolfo Perez Esquivel Noble Prize Winner, Argentina 1980:

"Isso já custou vidas, seja por assassinatos, doenças ou falta de recursos. É por isso que estamos aqui. Para destacar esta questão em uma escala internacional. Para que as pessoas sabem o que está realmente acontecendo. "


Eles esperam que, depois de encontro com o Papa, o Vaticano pode intervir de alguma forma, para que o governo da Argentina discuta abertamente os interesses e os direitos das comunidades indígenas diretamente com eles.

Foto: Papa Francisco, Félix Díaz. Entre os dois, Adolfo Perez Esquivel, prêmio nobel da paz.

Fonte: White Wolf Pack

Assista ao vídeo

terça-feira, 25 de junho de 2013

Esquerda, direita

Antônio Prata

A esquerda acha que o homem é bom, mas vai mal – e tende a piorar. A direita acredita que o homem é mau, mas vai bem – e tende a melhorar.
A esquerda acusa a direita de fazer as coisas sem refletir. A direita acusa a esquerda de discutir, discutir, marcar para discutir mais amanhã, ou discutir se vai discutir mais amanhã e não fazer nada. (Piada de direita: camelo é um cavalo criado por um comitê).

Temos trânsito na cidade. O que faz a direita? Chama engenheiros e constrói mais pontes. Resolve agora? Sim, diz a direita. Mas só piora o problema, depois, diz a esquerda. A direita não está preocupada com o depois: depois é de esquerda, agora é de direita.
Temos trânsito na cidade. O que faz a esquerda? Chama urbanistas para repensar a relação do transporte com a cidade. Quer dizer então que a Marginal vai continuar parada ano que vem?, cutuca a direita. Sim, diz a esquerda, mas outra cidade é possível mais pra frente. A direita ri. “Outra” é de esquerda. “Isso” é de direita.

Direita e esquerda são uma maneira de encarar a vida e, portanto, a morte. Diante do envelhecimento, os dois lados se dividem exatamente como no urbanismo. Faça plásticas (pontes), diz a direita. Faça análise, (discuta o problema de fundo) diz a esquerda. (“filosofar é aprender a morrer”, Cícero). Você tem que se sentir bem com o corpo que tem, diz a esquerda. Sim, é exatamente por isso que eu faço plásticas, rebate a direita. Neurótica! — grita a esquerda. Ressentida! — grita a direita.

A direita vai à academia, porque é pragmática e quer a bunda dura. A esquerda vai à yoga, porque o processo é tão ou mais importante que o resultado. (Processo é de esquerda, resultado, de direita).

Um estudo de direita talvez prove que as pessoas de direita, preocupadas com a bunda, fazem mais exercícios físicos do que as de esquerda e, por isso, acabam sendo mais saudáveis, o que é quase como uma aplicação esportiva do muito citado mote de Mendeville, de que os vícios privados geram benefícios públicos — se encararmos vício privado como o enrijecimento da bunda (bunda é de direita) e benefício público como a melhora de todo o sistema cardio-vascular. (Sistema cardio-vascular é de esquerda).
Um estudo de esquerda talvez prove que o povo de esquerda, mais preocupado com o processo do que com os resultados, acaba com a bunda mais dura, pois o processo holístico da yoga (processo, holístico e yoga são de extrema esquerda) acaba beneficiando os glúteos mais do que a musculação. (Yoga já é de direita, diz alguém que lê o texto sobre meus ombros, provando que o provérbio correto é “pau que nasce torno, sempre se endireita”).

Dieta da proteína: direita. Dieta por pontos: esquerda. Operação de estômago: fascismo. Macrobiótica: stalinismo. Vegetarianismo: loucura. (Foucault escreveria alguma coisa bem interessante sobre os Vigilantes do Peso).

Evidente que, dependendo da época, as coisas mudam de lugar. Maio de 68: professores universitários eram de direita e mídia de esquerda. (“O mundo só será um lugar justo quando o último sociólogo for enforcado com as tripas do último padre”, escreveram num muro de Paris). Hoje a universidade é de esquerda e a mídia, de direita.

As coisas também mudam, dependendo da perspectiva: ao lado de um suco de laranja, Guaraná é de direita. Ao lado de uma Coca-Cola, Guaraná é de esquerda. Da mesma forma, ao lado de um suco de graviola, pitanga ou umbu (extrema-esquerda), o de laranja vira um generalzinho. (Anauê juice fruit: 100% integralista).

Leão, urso, lobo: direita. Pinguim, grilo, avestruz: esquerda. Formiga: fascismo. Abelha: stalinismo. Cachorro: social democrata. Gato: anarquista. Rosa: direita. Maria sem-vergonha: esquerda. Grama: nacional socialismo. Piscina: direita. Cachoeira: esquerda. (Quanto ao mar, tenho minhas dúvidas, embora seja claro que o Atlântico e o Pacífico estejam, politicamente, dos lados opostos aos que se encontram no mapa). Lápis: esquerda. Caneta: direita. Axilas, cotovelo, calcanhar: esquerda. Bíceps, abdomem, panturrilha: direita. Nariz: esquerda. Olhos: direita. (Olfato é sensação, animal, memória. Visão é objetividade, praticidade, razão).

Liquidificador é de direita. (Maquiavel: dividir para dominar). Batedeira é de esquerda. (Gilberto Freyre: o apogeu da mistura, do contato, quase que a massagem dos ingredientes). Mixer é um caudilho de direita. Espremedor de alho é um caudilho de esquerda. Colher de pau, esquerda. Teflon, direita. Mostarda é de esquerda, catchupe é de direita — e pela maionese nenhum dos lados quer se responsabilizar. Mal passado é de esquerda, bem passado é de direita. Contra-filé é de esquerda, filé mignon é de direita. Peito é de direita, coxa é de esquerda. Arroz é de direita, feijão é de esquerda. Tupperware, extrema direita. Cumbuca, extrema esquerda. Congelar é de direita, salgar é de esquerda. No churrasco, sal grosso é de esquerda, sal moura é de direita e jogar cerveja na picanha é crime inafiançável.

Graal é de direita, Fazendinha é de esquerda. Cheetos é de direita, Baconzeetos é de esquerda e Doritos é tucano. Ploc e Ping-Pong são de esquerda, Bubaloo é de direita.
No sexo: broxada é de esquerda. Ejaculação precoce é de direita. Cunilingus: esquerda. Fellatio: direita. A mulher de quatro: direita. Mulher por cima: esquerda. Homem é de direita, mulher é de esquerda. (mas talvez essa seja a visão de uma mulher — de esquerda).

Vogais são de esquerda, consoantes, de direita. Se A, E e O estiverem tomando uma cerveja e X, K e Y chegarem no bar, pode até sair briga. Apóstrofe ésse anda sempre com Friedman, Fukuyama e Freakonomics embaixo do braço. (A trema e a crase acham todo esse debate uma pobreza e são a favor do restabelecimento da monarquia).
“Eu gostava mais no começo” é de esquerda. “Não vejo a hora de sair o próximo” é de direita.

Dia é de direita, noite é de esquerda. Sol é de direita, lua é de esquerda. Planície é de direita, montanha é de esquerda. Terra é de direita, água é de esquerda. Círculo é de esquerda, quadrado é de direita. “É genético” é de direita. “É comportamental” é de esquerda. Aproveita é de esquerda. Joga fora e compra outro, de direita. Onda é de direita, partícula é de esquerda. Molécula é de esquerda, átomo é de direita. Elétron é de esquerda, próton é de direita e a assessoria do neutron informou que ele prefere ausentar-se da discussão.

To be continued (para os de direita)
Under construction (para os de esquerda)

Antônio Prata é autor

terça-feira, 18 de junho de 2013

Não podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés.

MPL- Movimento Passe Livre (onde tudo começou) questiona a apropriação do movimento pelas pautas da grande mídia. 


O QUE QUEREMOS?

Por Paulo Motoryncolaborador da Revista Vaidapé, estudante de Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP).

Desde o ato da última quinta-feira contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo, em que a violência e a repressão policial viraram notícia em todo o planeta, mais uma ameaça ronda o sucesso das manifestações organizadas pelo Movimento Passe Livre: a instrumentalização do povo.
A evidente mudança de postura da imprensa em relação aos protestos deve ser motivo de desconfiança, não de festa. Isso porque nos últimos dias, imperou o comentário: “Agora até a grande mídia defende as manifestações”. Como se isso fosse algo positivo.
Por um lado, a máxima “não é só pelos 20 centavos” conseguiu convencer diversos setores da população a ir às ruas, por outro, abriu uma questão polêmica: se o aumento da passagem foi só o estopim, o que mais nos incomoda? Quais são os reais motivos do fim da letargia política em São Paulo?
É fato, o reajuste do preço transporte só provocou a revolta necessária para que o paulistano percebesse o óbvio: política se faz nas ruas. No entanto, a recusa ao modelo de sociedade atual tem de ser deixada clara. Isso porque os perigos da apropriação do movimento são reais.


Na sua última edição, Veja contrariou sua linha editorial e se posicionou a favor das manifestações. Quando um veículo que representa o que há de mais reacionário na sociedade apoia movimentos sociais, há no mínimo um ponto de extrema relevância para refletir.
Mas as páginas de Veja só revelam a nova postura dos veículos da imprensa dominante: já que não podem mais controlar ou evitar a multidão, manipulam seus objetivos. De acordo com a revista, o descontentamento dos manifestantes se deve também à corrupção, à criminalidade… Falácia.
É evidente que essas questões também são importantes, mas os jovens que estão nas ruas estão preocupados com questões muito mais profundas. A juventude está mostrando que não quer compartilhar dos valores individualistas, consumistas e utilitaristas da geração de seus pais.
O grito dos jovens está longe de bradar contra os “mensaleiros”, contra a inflação, contra as políticas sociais de transferência de renda. O movimento é progressista por natureza e agora tem de saber lidar com uma ameaça feroz: a direitizacão.
O aparelho midiático que serve a esses interesses já foi acionado. A grande imprensa já está mobilizada para maquiar o movimento de acordo com um ideário conservador, por isso o povo precisa fazer seu recado ser entendido. Sob hipótese nenhuma podemos nos alinhar aos Datenas, Jabores e Pondés.
O que queremos é derrubar as barreiras entre ricos e pobres, quebrar os muros entre centro e periferia, consolidar o povo como um ator político de importância ímpar e lutar por um Brasil com justiça social, sem desigualdade e com oportunidades iguais para todos e todas. Nada mais. E nada menos.
Vamos à luta!
Fonte: 

REVISTA VAIDAPÉ

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Muito além de 20 centavos - matéria exibida pela CNN

O Brasil está atualmente passando por um colapso generalizado de sua infra-estrutura. Há problemas com portos, aeroportos, transporte público, saúde e educação. O Brasil não é um país pobre e as alíquotas são extremamente elevados. Os brasileiros não vêem nenhuma razão para ter essa infra-estrutura ruim quando há tanta riqueza altamente tributada. Nas capitais as pessoas passam até quatro horas por dia no trânsito, ou em seus carros ou transporte público lotado que é de muito má qualidade.

O governo brasileiro tem tomado medidas corretivas para controlar a inflação, cortando impostos e ainda não se deu conta de que o paradigma deve mudar para uma abordagem focada na infra-estrutura. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro está se reproduzindo em pequena escala o que a Argentina fez há alguns anos atrás: evitar austeridade e impedir o aumento das taxas de juros, que está levando a alta inflação e baixo crescimento.

Além do problema de infra-estrutura, existem vários escândalos de corrupção que permanecem sem julgamento, e os casos que estão sendo julgados tendem a terminar com a absolvição dos réus. O maior escândalo de corrupção da história do Brasil, finalmente, terminou com a condenação dos réus e, agora, o governo está tentando reverter o julgamento, usando manobras por meio de emendas constitucionais inacreditáveis: uma, a PEC 37, que irá aniquilar os poderes de investigação dos promotores do ministério público delegando a responsabilidade de investigação inteiramente à Polícia Federal. Além disso, outra proposta visa submeter as decisões do Supremo Tribunal Federal ao Congresso - uma violação completa dos três poderes.

Esses são, de fato, as revoltas dos brasileiros.


Os protestos não são meramente isolados, feitos por movimentos sindicalizados ou motins extrema esquerda, como parte da imprensa brasileira diz. Não é uma rebelião adolescente. É a revolta da parte mais intelectualizada da sociedade que quer colocar um fim a essas questões brasileiras. O jovem nacional de categoria média, que tem sido sempre insatisfeito com o esquecimento político, está agora a "despertar" - nas palavras dos manifestantes.

Fonte: CNN - traduzido 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Indígenas ocupam escola municipal em Marechal Thaumaturgo

Indígenas do povo Apolima-Arara ocupam desde a manhã desta segunda feira uma escola municipal no rio Amônia. Eles também fecharam a passagem de embarcações no rio. O ponto de discórdia é a proposta do ICMBio para que os não-indígenas permaneçam dentro da terra demarcada.

A demanda dos indígenas é a indenização das benfeitorias dos não-indígenas que vivem na área que já foi demarcada no ano de 2012. A indenização seria o próximo passo para que as famílias fosse retiradas e pudessem se estabelecer em outro local.

Já houve o compromisso do Governo Federal de que as indenizações ocorreriam até o final do ano, contudo, segundo o coordenador da FUNAI regional do Juruá, Luís Nukini, uma requisição do ICMBio teria parado o processo de indenização em Brasília. Ainda segundo o coordenador, o ICMBio quer a gestão compartilhada da área ouse seja, defende a permanência das famílias na área que hoje pertence à RESEX do Alto Juruá.

Para os indígenas, esta situação é preocupante, pois o modelo de exploração da Resex tem cada vez mais apontado na direção da pecuária e da extração madeireira, o que é incompatível com o modo de vida de subsistência dos indígenas.

No escritório regional do ICMBio em Cruzeiro do Sul, o gestor da RESEX do Alto Juruá não soube informar se esta demanda partiu do escritório regional ou se a requisição de gestão compartilhada partiu de Brasília.

Para Luís Nukini, o problema que acontece hoje em Marechal Thaumaturgo e a interferência do ICM Bio no processo são reflexos da mudança na política do governo federal no processo de demarcação de terras, que permite a intervenção de órgãos como EMBRAPA, IBAMA, Ministério da Agricultura e outros e não mais apenas a FUNAI. Um projeto de lei em tramitação no congresso retira do executivo para o legislativo a responsabilidade na demarcação de terras.  


A proposta partiu da bancada ruralista e tem sido acatada pelo governo federal. A ministra da Casa Civil Gleise Hoffman, da Casa Civil determinou a suspensão dos trabalhos demarcatórios no estado do Paraná. Em resposta, indígenas do povo Kaingang ocuparam a sede do PT em Curitiba-PR.    

Leandro Altheman – Juruá On Line
Para ler artigo opinativo sobre a política de Dilma para os povos indígenas, leia mais em  Terra Náuas: Dilma, a ambidestra, quebra as pernas e dá Muleta.
*Fotos: 1- Em reunião protestando contra a proposta de “gestão compartilhada” do ICMBio (fonte: Blog do Lindomar Padilha)

domingo, 2 de junho de 2013

Dilma a ambidestra, quebra as pernas e dá muleta


"A facilidade com que ainda se massacram os direitos e as vidas dos índios é uma homenagem que o Brasil presta ao seu passado genocida. Nisso o Judiciário não tem as mãos menos sujas de sangue do que os portadores das armas assassinas. As liminares e outros volteios judiciais que facilitam a usurpação de terras reconhecidamente indígenas, como se dá agora com a área Buriti, em Mato Grosso do Sul, são uma via direta para a miséria e a morte das populações indígenas."

Jânio de Freitas 02/06/2013 - Folha de S.Paulo


Nesta semana entrevistei o coordenador regional do Programa "Viver Sem Limites" do Governo Federal, destinado às pessoas portadoras de deficiência. O mesmo me apresentou os diferentes pontos do programa, que incluem desde verba específica para os municípios adequarem a acessibilidade aos portadores de deficiências, até ao financiamento para adaptação de residências.

É impossível deixar de notar que o que existe ali, é muito mais do que um programa. É possível ver nas entrelinhas um sentido de cuidar, de elevar a condição humana destas pessoas. Há um toque quase maternal no programa. Impossível também, deixar de notar que o sentido de superação, com ou sem Dilma, é um dos instintos mais poderosos do ser humano e da própria natureza.

Mas é impossível também deixar de comparar a maternal Dilma dos deficientes, dos pobres, dos desamparados, com a bestial Dilma que usa o mesmo poder do Estado para massacrar os povos indígenas.

E fica a pergunta: Porque?

Como uma gestora pode ser tão humana com uma minoria, e tão desumana com outra?

Talvez a diferença seja que os índios andam com suas próprias pernas e nada mais querem do que o seu direito ancestral à terra, ao seu modo de vida e à sua cultura. Eles não precisam da ajuda caridosa de ninguém, muito menos de Dilma.

O que leva Dilma a quebrar as pernas de quem caminha, para depois oferecer muletas?

A mensagem institucional da Copa do Mundo não deixa dúvida: Dilma ambiciona tornar o Brasil uma espécie de "democracia sueca" para inglês ver. E nesta "democracia sueca", parece não haver lugar para quem caminha com as próprias pernas.

Não estou repetindo apenas o velho discurso direitista de que o Bolsa Família "sustente vagabundos". Há vagabundos muito mais nocivos em todos os escalões do governo, abrindo as portas (e as pernas) para favorecer outros tantos que apesar da arrogância, também não se sustentam sem o aparato estatal. São muletas bem mais caras que o bolsa família: o apoio às construtoras, hidrelétricas, mineradoras, petroquímicas, financeiras, e etc.

Depois que os povos indígenas não puderem mas caçar ou pescar, por que suas terras estão tomadas pelo agronegócio, por madeireiras. mineradoras e hidrelétricas, Dilma deverá oferecer também a eles uma muleta. Quem sabe algum "bolsa-sardinha" para que eles comprem o que precisam no supermercado mais próximo?

Dilma mesmo, não caminha com suas próprias pernas. O monstro político por ela comandado é uma espécie de Frankeinstein em que a cabeça é socialista, o coração é populista, e as pernas, são ruralistas.

Mas há também espaço para a diversidade: um braço do monstro é homoafetivo e o outro é evangélico. Isso mesmo, não se enganem, braços balançam em direções opostas, apenas para dar equilíbrio ao movimento.

E o rabo?

Bem, o rabo é de todos nós brasileiros, que ainda esperamos que um dia, educação e cultura de qualidade, possam fazer com que todos caminhem com as suas próprias pernas.

***

*A alcunha de "ambidestra"- foi dada a Dilma pela antropóloga Manuela Carneiro, durante uma entrevista ã Folha de S. Paulo. Leia aqui.

sábado, 1 de junho de 2013

O jogo de cartas marcadas da pseudo-oposição do PMDB

Esqueça a banca de advogados, esqueça os super-poderes do “Leão do Juruá”, esqueça a voz do povo e a de deus, esqueça a macumba, esqueça tudo o que a musa antiga canta por que “valor mais alto se alevanta”.

Segundo uma bem informada fonte, o verdadeiro santo que fez o “milagre” que permitiu que Vagner Sales retornasse ao cargo, mesmo após condenação, tem nome, endereço e filiação partidária.

Segundo esta fonte, cujo nome não revelo nem sob tortura, trata-se do ex-ministro do supremo Ilmar Galvão. Segundo esta tese, seria a força política de Ilmar Galvão, aliado político de Flaviano Melo (PMDB) que estaria sustendo por um fio, Vagner Sales no seu cargo.

Esqueçamos por hora o jogo de cena em que PT e PMDB são adversários políticos, e lembremo-nos que o PMDB nacional é um aliado muito mais importante do PT de Dilma, do que o incerto apoio dos Viana, que inclusive são classificados por setores do PT nacional como “tucanos” e “neoliberais”.

A pseudo-oposição do PMDB Vagneriano não tem motivos para se queixar de “perseguição política” por parte do PT ou de influências do mesmo nas esferas do judiciário.

Isto por que Vagner dispõe de um arsenal político similar e equivalente ao de seus adversários e o usa com a mesma destreza dos mensaleiros condenados que permanecem em seus cargos.


Mas, na magia assim como na política, para tudo há um preço a ser pago e deste, talvez nem os botos desconfiem.