O pau quebrou lá na maior universidade do país. E quase nãos e falou outra cosia na semana que passou. Disseram que eram um bando de macoinheiros, mauricinhos inúteis, filinhos de papai.
Teve até gente que já participou d emovimentos estudantis e que condenou a ocupação da reitoria. Claro, opinião formada pela "vênus platinada", não poderia dar noutra coisa.
Estudei na USP entre os anos de 1993 - 2001. Fumei maconha sim, é verdade. Mas os motivos que levaram a insurreição vão bem além disso, mas é claro, não interessa mostrar, pois seria o mesmo que revelar a própria podridão do sistema corrupto em que vivemos. Interessa à imprensa, mostra a corrupção no governo. mas não interessa revelar a falta de democracia que existe hoje nos meios de comunicação do país.
Menos ainda interessa mostra que o atual sistema capitalista está em crise e que esta crise vai muito além dos cofres da Grécia ou do valor do Euro. É uma crise de valores. O "produtivismo" a que estamos ancorados, tem limites muito clarose eles já estão dando claros sinais de sufocamento. O Brasil parece uma ilha de prosperidade, tão somente porque a demanda represeda de consumo em nosso páis é muito grande e a política de distribuição de renda no governo Lula, mais que dobrou o mercado interno do país. Isso é ótimo, é justo e é certo, mas tem limites.
O problema é que a ultraconservadora sociedade paulista é ressentida com esta prosperidade para todos. Este sentimento vem de longa data e se traduz no desrespeito com os migrantes nordestinos que ajudaram a construir a megalópole. Traduz-se no sentimento de que o norte e o nordeste não deveriam receber tanta atenção por parte do governo federal.
Serra canalizou muito bem este sentimento no segundo turno das eleições. Um sentimento que é puro TFP (Tradição, Família e Propriedade- movimento da extrema direita católica, parecida com a que segue o Mel Gibson). Só para lembrar, foram eles que organizaram a Marcha para a Família que deu aos militares e civis consevadores, a legitimidade que desejavam para aplicar o golpe em Jango em 1964.
O PSDB não é isso, o PSDB surgiu como movimento de centro-esquerda em SP, com Mario Covas,Franco Montoro e o próprio FHC. No seu início tinha uma plataforma política bem próxima a do PT, a social-democracia. No desastre que foi o governo Collor, o PSDB aderiu às teses do neoliberalismo e abandonou a plataforma social-democrata. "Esquecam o que escrevi"- frase célebre em que FHC declarou abandonar suas teses anteriores, que tratavam do subdesenvolvimento e desenvolvimento periférico. Teses que surgiram na mesma FFLCH(Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) que liderou o movimento de ocupação inicialmente à propria FFLCH e posteriormente, à reitoria.
(Bem, só falta agora o FHC morrer para a gente poder dizer que PSDB é igual macaxeira, a parte que se aproveita, tá debaixo da terra).
Durante os anos FHC, a FFLCH em especial e a USP, em geral, conflagaram-se como um gueto de resistência ao pensamento tucano. Sempre foi o berço de pensamentos progressistas das mais variadas matizes. PT, PCdoB, PSTU, PCO sempre estiveram envolvidos nas disputas pelo DCE e pelos Centros Acadêmicos, além é claro, de diversas tendências anarquistas (a qual militei) que também foram sempre muito presentes no Campus.
Na era FHC, a tendência tucana sempre fora muito forte na USP, mas ficava de fora destas disputas, pois considerava que tais movimentos eram "arcaicos". Chamavam-os de dinossauros da velha era comunista e eles os "arautos dos novos tempos."
A era Lula mudou isso tudo e os tucanos deixaram o seu ar 'blasé' para mostrar as garras de seu ódio contra pobres e nordestinos, especialmente. Resultado mais do que evidente nas eleições de 2010, especialmente no segundo turno.
Algo inédito até então passou a existir em SP, e uma parte da juventude elitizada, muitos estudantes da USP (aí é preciso que se especifique, principalmente da Escola Politécnica, aonde estão as engenharias e sempre foi o berço dos reacionários), pasaram a realizar passeatas de repúdio a influência nordestina em SP. São estes que se colocaram como defensores da moral cristã e que colaram cartazes contra os ícones da esquerda, desde Karl Marx até Chico Buarque.
Foi um grupo desta tendência que venceu a última disputa do DCE da USP.
O fato é que nestes anos todos em que o PSDB tem dominado o governo paulista, a USP tem sido um renitente gueto de insurreição e não seria a tomada do DCE que iria mudar isso. A radicalização dos serristas-fasci-cristãos à lá TFP por um lado e por outro, o crescimento dos movimentos Occupy e Annonimous (que queimou as revistas Veja em frente à Editora Abril) em todo mundo levaram ao fenômeno na USP. O movimento Occupy, assim como o Annoymous estão ligados ao Forum Social Mundial e ao movimento altermundista (outro mundo é possível!) e mais uma vez vou citar o filósofo Gustave Massiah do movimento altermundista.
Para o estudioso existem tres possíveis saída para a crise mundial do capitalismo:
1ª - A criação de um neoliberalismo de guerra, com um "endurecimento social” reforçando o moralismo evangelista, a ideologia securitária, a instrumentalização do terrorismo, a religião do mercado e a guerra de civilizações. Para ele há o risco de regimes autoritários e ditatoriais se imporem. Tendência dos tucanos raivosos e ressentidos e da TFP.
2ª - A refundação do capitalismo: seria uma espécie de "New Deal", uma lógica keynesiana de maior controle do estado sobre a economia, programas que favoreçam maior distribuição de renda, o multiculturalismo e a negociação multilateral favorecendo o aparecimento de novos atores no cenário mundial. A partir desta ótica fica claro que este é o modelo adotado pelo Brasil, desde que Lula e o PT assumiram o poder.
3ª - A superação do capitalismo a partir do acesso de todos aos direitos fundamentais e à igualdade de direitos. A construção de uma sociedade baseada na satisfação das necessidades sociais, no respeito à natureza e na plena participação popular reside no âmago desta proposta.Tal modelo, proposto pelo movimento altermundista (Outro Mundo é possível- Form Social Global) tem em seu âmago a recusa ao produtivismo, adotado tanto pelos modelos capitalista quanto pela experiência soviética do socialismo. Contém uma crítica fundamentada ao atual modelo energético, alimentar e climático. Esta é a tendência representada pelos movimentos Occupy e Annonymous, bem como parte dos estudantes que ocuparam a reitoria.
Segundo o filósofo, esta é uma era de "convite à recusa do fatalismo e de possibilidades quase ilimitadas de engajamento."
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