Os atuais movimentos anti-capitalismo ao redor do mundo se assemelham muito mais com maio de 68 do que outubro de 1917.
Os movimentos revolucionários iniciados em maio de 68 em Paris espalharam-se pelo mundo inteiro, incluíndo o Brasil, já sob regime ditatorial (prontamente sufocado pelo AI-5) e o centro do capitalismo mundial, os EUA.
O Partido Comunista Francês foi contra o movimento e articulou o retorno do conservador Charles De Gaulle ao poder, oferecendo um substancial aumento aos trabalhadores.
O lema da revolução era " A Imaginação no Poder" e não questionava somente o capitalismo, mas também os regimes autoritários de orientação stalinista no leste europeu. Questionava-se até, as bases do pensamento cartesiano. Uma verdadeira injeção de loucura e imaginação que ameaçava tanto o capitalismo quanto o socialismo soviético. Tanto que resultou também na Primavera de Praga, movimento liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco, interessados em "desestalinizar" o país, removendo os vestígios de despotismo e autoritarismo, consideradas como aberrações no sistema socialista.
Do outro lado do mundo, o movimento da contra-cultura dos EUA fazia uma auto-crítica feroz do sistema capitalista e das suas conseqüências para a individualidade e a coletividade. Em última análise uma crítica ao pensamento protestante calvinista que é a base teológica que fundamenta o capitalismo. Os EUA sempre usaram o mito da "liberdade" para defender o sistema capitalista, mas a busca pela liberdade leva a implicações que ameaçam a ordem no mesmo sistema capitalista.
O resultado não poderia ter sido outro: no leste e no oeste a reação foi massacrar as manifestações. Em Praga, os tanques soviéticos acabaram com os sonho de um socialismo com liberdade e nos EUA, os anos de chumbo do governo Nixxon, lançou uma campanha que aliava o medo do comunismo com o conservadorismo protestante na retomada dos "bons costumes" da América. No Brasil e na AL o cacete foi mais violento com prisões, torturas e mortes de milhares de pessoas.
O movimento revolucionário foi esmagado. Vieram os anos 70 e houve um crescente processo de individualização. "a revolução interna", muitos diziam. Experimentalismo musical, trancendência espiritualista e etc. Os anos 80 foram a década do cinismo Yupie em que tudo vale a pena para se dar bem, trabalhar ganhar dinheiro e consumir. Nos anos 90, a derrocada da experiência socialista no leste europeu, serviu para alimentar o discurso da vitória do capitalismo e do "fim da história"(tese de Fukuyama).
O fato é que Marx estava certo. Pelo menos em um temas centrais de sua exposição em "O Capital" Marx afirma que o próprio capitalismo iria produzir a semente de sua superação. Ele não fala de revoluçao armada para promover revolução, isto é posterior, é Lenin.
Digo isso, por que a popularização do acesso à informação promovida pelas novas tecnologias (leia-se internet e redes sociais). É exatamente isso: a tese produz nela sua antítese e daí a síntese. Não é muito diferente do que os taoístas diziam 5 mil anos antes.
Ou seja o "dejá vu" que estamos assistindo não é fruto de utopias inocentes, mas apenas a retomada de um processo que foi sufocado em 68. Hoje será bem mais dificil fazê-lo, pois a universalização do acesso à informação é um processo sem volta.
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