quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tragédia ou Festa das águas?


A alagação sazonal do rio Juruá, evento natural que ocorre no período de inverno nos oferece alguns dos cenários mais incríveis de Cruzeiro do Sul: as casas em palafitas dos bairros da Lagoa e Miritizal tomadas pelas águas. Pronto: a natureza amazônica não respeita os limites urbanos e mostra quem é que manda.

Na capital, cada vez mais distante da realidade amazônica que a gerou, a notícia é dada com um misto de sensacionalismo envolto em areas de grande tragédia... só para anunciar o salvador prefeito que irá tirar as famílias do "sofrimento".

Um duplo crime: o primeiro por não enxergar a realidade além do seu olhar preconceituoso. O mesmo crime cometido pela imprensa nacional em relação ao Acre. O outro crime é óbvio: não sabem distinguir propaganda política de linha editoral.

O problema é que nos acostumamos a ver alagação como sinônimo de tragédia. Mas se olharmos de perto veremos que as pessoas estarão em sua maioria felizes com a alagação.
As crianças brincam pulando dentro da água escura que o rio Moa trouxe. Senhoras e idosos vão "mariscar" e as canoas deixam agora os passageiros literalmente "na porta de casa". Uma alegria não ter que enfretar a lama.

Sempre se cogita a retirada das casas e das familias ribeirinhas e isso é assunto de defesa civil e saúde pública. Mas aí cabhe a pergunta: e se nós, e não eles estivessemos errados?

E se o "certo" para ocupar uma natureza tão peculiar como a nossa fossem habitações em palafitas, adaptáveis às cheias e vazantes do rio? E se as casas e prédios de alvenaria que irrompem no meio da paisagem proclamando a vitória da civilização sobre a natureza, fossem o verdadeiro problema, e não a solução?

E se o problema não fosse a lama, ou a cheia dos rios, mas o modelo de civilização adotado, incompatível com a nossa realidade natural?

Perguntas, apenas perguntas.

O jornalista Nelson Liano Jr. que não é nenhum neófito no Juruá e curte navegar nas águas do Môa e do Juruá fez este vídeo, mostrando que a realidade não é tão "trágica" assim como querem pintar (digna de cuidados, sim, mas muito longe de ser uma tragédia).

Foto: Genioval Moura

Nenhum comentário:

Postar um comentário