sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Se queres viver, sejas torto e oco"


Esta foi a lição do cumaru ferro centanário que sobreviveu ao suposto "plano de manejo" executado no Km 36 da rodovia transacreana. O que deveria ter sido uma "coleta racional de árvores maduras para o corte" tornou-se na verdade em corte indiscriminado.

Por ser torto e oco, o cumaru-ferro foi poupado pelas motosserras, tornado-se refêrencia para os moradores da região.

Os resultados do desequilíbrio causado pela ação predatória podem ser percebidos mesmo em um despretensioso passio pelo restou da 'floresta". Sem o fruto das árvores nativas, a fauna silvestre praticamente desapareceu. Mas o efeito mais evidente e que merece atenção por aprte de todos foi a proliferação descontrolada dos tabocais. Sem a sombra das grandes árvores, as tabocas tomaram conta do espaço e dificultam o crescimento das espécies madeireiras.

Durante o verão os tabocais tornam-se especialmente vulneráveis ao fogo e após as queimadas é a especie vegetal que mais se beneficia da situação. O caso particular do manejo inadequado realizado na rodovia transacreana é um demonstrativo que ainda há muito o que se conhecer sobre a floresta antes de se propalar o manejo florestal como a salvação do Acre.

José Iléssio, o "Lelé" vivia da agricultura de subsistência e do extrativismo da castanha. Lelé, comta que chegava a garantir de 4 a 5 mil reais por mês durante o período de safra da castanha. Com o manejo, a floresta tornou-se mais vulnerável às queimadas e muitas castanheiras se perderam, reduzindo drasticamente sua fonte de renda. Agora sem caça, Lelé obriga-se agora a comprar carne de boi dos pecuaristas locais como única fonte de proteína animal.

"Se o governo quer fazer manejo, deveria ouvir as pessoas que vivem na mata, e não só os universitarios, porque eles não sabem como fazer. A gente sabe qual árvore que pode e qual que não pode tirar."

Lelé não chega a condenar totalmente atividade madereira, mas alerta para a necessidade de um cuidado maior, para que a atividade possa além do marketing, ser chamada ser chamada de realmente sustentável.

Fiquei me lembrando da reação extremada que ocorreu por conta das denúncias de moradores da transacreana de agressões cometidas por madeireiros. Parece que citar problemas e complicações referentes aos planos de manejo tornou-se uma espécie de "blasfêmia" no Acre. Mas fechar os olhos e jogar a sujeira para debaixo do tapete não vai resolver os problemas, somente adiá-los para os proximos gestores do estado e para as próximas gerações de acreanos.

Espero que o alerta de seu "Lelé" e a lição do cumaru-ferro possam encontrar eco nos setores que tradicionalmente apoiaram a FPA, para que não tenham que, como diria Cazuza, "encontrar abrigo no peito de seus traidores."

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